Crítica | As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo (The Adventures of Ichabod and Mr. Toad)

Nota
4

“Se tivesse que escolher o personagem mais fabuloso da literatura inglesa quem você escolheria?”

O Sr. J.T. Sapo (Eric Blore) é um sujeito excêntrico e propenso a loucuras. Boa praça e mão aberta, o dono da Mansão Sapo sempre se encontrou cercado por vários amigos de farra, mas, quando suas estrepolias saíram de controle, o jovem senhor pôde contar apenas com três bons amigos: o fiel Verruga (Colin Campbell), o digníssimo Rato (Claude Allister) e o competente MacBadger (Campbell Grant).

Mas, ao se meter em uma enrascada sem precedentes ao lado do seu cavalo Cirilo (J. Pat O’Malley) o milionário se vê preso e acusado injustamente de um crime que não cometeu. Junto a seus companheiros, o pobre Sapo tenta provar sua inocência e mostrar a sociedade que foi vitima de uma cilada bem pensada que o meteu em uma armadilha sem precedentes antes que seja tarde demais.

Na América Colonial, Ichabod Crane chega a pacata vila de Sleepy Hollow onde sua estranheza e excentricidade criam um alvoroço entre os moradores. Ichabod logo se utiliza de seus dons para se aproximar de seus alunos (e as mães deles) que possuem uma mesa farta, na qual ele pode se deleitar. Mas nem todos se mostram felizes com a presença do professor. Bronco Ossos é um valentão das redondezas que insiste em tirar sarro do estranho e é considerado por muitos o herói do vilarejo.

A disputa se torna mais acirrada quando ambos se apaixonam pela bela (e rica) Katrina Van Tassel que adora ser cortejada e bajulada. Instigando os dois rapazes, a moça convida a ambos a festa do seu pai na noite de Halloween, esperando mais uma disputa pela sua mão. Vendo Ichabod levar a melhor em tudo, Bronco parte para sua ultima cartada. Sabendo da intensa superstição do concorrente, ele decide contar a historia mais tenebrosa da região: A Lenda Do Cavaleiro Sem Cabeça.

Pensado originalmente para ser um curta, As Aventuras de Ichabod e o Sr. Sapo é um dos longas mais obscuros da historia da Disney. Possuindo duas historias corajosas e bem distintas, o longa é um dos últimos a se utilizar dos “filmes-pacotes” que se tornaram comum devido aos eventos da Segunda Guerra Mundial e a greve dos animadores em 1941.

O décimo-primeiro longa animado do estúdio trás uma obra coesa e peculiar, mostrando uma inovação no padrão Disney e arriscando seu modo de mostrar as histórias infantis. Afinal, colocar um Sapo viciado em adrenalina (que inclusive cheira o escape de um carro como se drogado por suas possibilidades) e um interesseiro professor, protagonista de uma historia que possui um dos finais mais macabros da historia do estúdio, não esta nada próximo do padrão Disney que conhecemos.

Mas é exatamente isso que torna essas historias memoráveis. A ousadia usada, somada com os ótimos padrões de animação trazem algo genuíno para o cerne do camundongo mágico. Ligados por uma narração feita em uma biblioteca (pelas poderosas vozes de Basil Rathbone e Bing Crosby) o longa nos conta dois contos distintos: um da cultura inglesa e outro do folclore americano trazendo o melhor dos dois mundos.

O primeiro, preso em seus vícios momentâneos que o levam à ruína iminente, a trama apresenta um protagonista acelerado e pouco consciente que prende o expectador e nos conduz com soberania em sua trama empolgante e cheia de um frenesi incontrolável (assim como seu protagonista) trazendo não um protagonista cheio de virtudes mas alguém simpático que se mostra até mais humano por seus erros.

No segundo, somos travados pela malandragem e esquisitice de Ichabog. Todo curta é narrado por Crosby, nos divertindo com a velha disputa entre os dois rivais pela atenção da moça. Mas é no seu arco final que o curta mostra a que veio, trazendo uma obra arrepiante que mergulha no mistério e nos deixa temerosos pelo destino dos personagens.

O engraçado é que é justamente nesse curta que a musicalidade aflora. Trazendo canções narrativas que ajudam a trama a avançar enquanto nos conduz à nefasta cidade, repleta de lendas. A mudança de tom é palpável e se mostra interessante, assim como toda construção final para a assombração, em uma das cenas mais macabras da Disney. Até hoje o longa levanta questionamentos de quem é o real vilão da historia.

Repleto de uma coragem impar, As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo mostra uma trama infelizmente desconhecida mas repleta de méritos. Seja por suas historias bem contadas, ou pelos pesadelos provocados com seu dilema final, é um longa que deve ser apreciado e aproveitado ao seu máximo. Trazendo uma nova possibilidade que, infelizmente, não foi aproveitada.

“Ele chega e já passa o facão, lá vem ele com seu alazão
Não tente então aguentar. Sem cabeça não da pra pensar.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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