Nota
“Voe Dumbo, Voe!”
Holt Farrier (Colin Farrell) é uma ex-estrela circense que retorna ao lar depois ter lutado na guerra e ter perdido mais do que um braço no caminho. Transtornado com sua nova realidade, Holt precisa cuidar de seus filhos e, devido à crise passada no circo e sua nova realidade, o ex militar não pode executar seu número tradicional no espetáculo tornando-se assim o cuidador do novo e ultimo grande investimento do Circo dos Irmãos Medici: a Sra. Jumbo e seu misterioso filhote que ainda esta para nascer.
Mas, ao nascer, o bebê elefante mostra uma peculiaridade que transforma o investimento em piada. Dumbo possui orelhas enormes que o tornam uma aberração na singela opinião do Sr. Max Medici (Danny DeVito), o que desperta o ódio da protetora Sra. Jumbo. Afastado de sua mãe, o pequeno elefante tem como únicos amigos os irmãos Milly e Joe Farrier, que fazem uma descoberta surpreendente: as enormes orelhas de Dumbo podem fazer uma coisa impossível. Elas podem fazer o bebê elefante Voar!!!
Todo diretor possui uma marca registrada, e Tim Burton sempre foi conhecido por sua extravagância e estranheza que beira ao macabro. Mas o Dumbo de 1941 é conhecido pela beleza de sua simplicidade e o poder de contar uma história fantástica com tão pouco, encantando milhares de pessoas ao longo das décadas. Seria possível misturar o delicado lúdico do elefante voador com a extravagância de Burton ou essa seria a receita pro desastre?
Dumbo é um dos novos live actions da Disney, o que tem se tornado bastante comum na última década (graças a, choquem, Tim Burton e sua imensurável adaptação de Alice). A premissa do filme parte do simples questionamento: o que aconteceu com nosso amado protagonista depois de seu aparente felizes para sempre? Afinal, todos já conhecem a historia do elefantinho mas seria mesmo aquele um ponto final?
Nos primeiros 50 minutos de filme acompanhamos a saga tão conhecida e o final que tanto conhecemos, mas é no segundo arco que a ideia de Burton ganha forma mostrando um conto totalmente novo que expande o universo. Uma ideia bastante interessante no papel, mas que se mal executada pode virar um fiasco amedrontador.
O enredo lúdico combina perfeitamente com o toque sombrio Burtoriano. As cores escuras, as curvas tão características e o leve flerte com o bizarro casam bem, mas o filme possui um erro que condena tudo que nos é mostrado. Dumbo é gracioso e encantador, cada cena em que o elefante aparece nos enche de uma melancólica alegria que encanta e emociona. Com seus grandes e expressivos olhos azuis, repletos de ternura e inocência, é impossível não se apaixonar pelo personagem. Ele é doce, gentil, é extremamente amável. Mas Dumbo é apenas um coadjuvante de sua própria historia. Apenas um link com a animação para dar nome ao novo longa e atrair o público saudosista.
Todo e qualquer foco é retirado do elefantinho para ser adicionado a família humana, que deveria auxiliar o mesmo e não conduzir a trama. Há tanto a aprender com o jovem animal que chega a ser doloroso ver esses momentos serem deixados de lado para um conjunto de tramas insosso e sem graça ganharem espaço. Não entenda mal, alguns atores tentam dar o melhor de si, mas é impossível questionar se seus personagens são realmente necessários para a trama e o por que de ocuparem tanto tempo de tela. Qual a necessidade de contar a magnífica historia pela óptica humana? Quando tudo o que nos encantava na animação original era o encanto dos animais em contar seu próprio caminho.
Começando por Collin Farrell, que se mostra tão ou mais perdido que seu personagem na trama. Holt encontra seu mundo virado de ponta cabeça ao retornar ao seu lar destroçado. Ele não é o mesmo de quando partiu e ainda precisa lidar com a perda de sua esposa, além de criar um novo vinculo com os filhos com a qual ele não sabe lidar. É excruciante acompanhar um ator magnífico como o Collin perdido em seu próprio papel. Apenas jogado na tela para seguir um arco heroico clichê que não consegue emocionar nem comover.
Nico Parker apresenta uma Milly sem expressão que não consegue nem ao menos reagir ao que acontece ao seu redor. Sua premissa é interessante, a filha curiosa que ama ler e deseja ser algo maior do que artista de circo, mas sua execução… Chega a ser assustador acompanhar seus olhos arregalados, sua cara fechada e sua falta de emoção que beira a um robô. Justamente em uma das personagens que deveriam despertar nossos sentimentos. É, não foi dessa vez.
Danny DeVito trás um charlatão oportunista que, por mais engraçado que possa parecer, é um dos poucos que consegue despertar nosso interesse. Seja pelo carisma do ator ou pelo seu conforto no papel caricato, o senhor Medici é engraçado e cativante, tendo algumas das melhores linhas de todo longa e conquistando o público a cada nova cena. Eva Green nos entrega a magnífica Colette, uma trapezista que trabalha para o senhor V.A. Vandere (Michael Keaton) e parece ser seu grande troféu, a quem ele gosta de exibir. Conforme conhecemos a personagem somos aprofundados em seus dilemas e saímos ainda mais encantados com suas camadas. Obrigado Eva, você é esplêndida.
E por falar em V.A. Vandere é nele que mora uma das maiores criticas do longa. Uma critica bem ousada, se me é permitido dizer. Sempre de olho em uma oportunidade de negócios, ele vê em Dumbo uma nova aquisição para seu poderoso Império chamado Dreamland, onde todos seus sonhos podem ser tornar reais. É nesse lugar que o dedo excêntrico de Tim Burton verdadeiramente brilha. É impossível não voltar e pensar: isso é tão Burton. Mas, mesmo sendo extremamente caricato, V.A. faz uma seria critica a própria Disney, bem diretamente, na minha opinião.
Um poderoso parque temático que tem como objetivo vender sonhos e busca a riqueza em conquistar tudo que esta em seu alcance, para aumentar ainda mais seu monopólio. Sem contar com a grande semelhança na construção dos parques. Isso não te soa familiar? Pois é. Dumbo é uma boa ideia mal executada, que embora tente esquecer o principal ensinamento que a animação nos trouxe. Tirando o protagonismo de seu verdadeiro cerne e trazendo uma trama sem alma e esquecível que dificilmente vai levantar vôo e nos fazer aplaudir de pé como um desenho tão singelo um dia conseguiu.
“Você é um elefante milagroso, Dumbo.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...