Crítica | O Caldeirão Mágico (The Black Cauldron)

Nota
2

“Coragem não provada não basta contra a maldade dele. Lembre bem disso.”

Houve uma vez, no lendário reino de Prydan, um rei tão cruel e maligno que até os deuses temiam sua fúria. Como nenhuma prisão era capaz de conter sua maldade, o rei foi atirado vivo em um receptáculo de ferro fundido onde seu espirito maligno foi capturado e se moldou em um caldeirão negro como a noite. Durante séculos o caldeirão permaneceu escondido, enquanto homens perversos o procuravam para seus planos nefastos. Sabendo que aquele que o possuísse teria em mãos um poder ancestral, capaz de gerar um exército lendário que conquistaria o mundo.

Em uma pequena fazenda, o jovem Taran (Grant Bardsley) sonha com um futuro heroico e grandioso onde possa mostrar seu valor encarando guerreiros poderosos ou até mesmo matando o temível Rei de Chifres (John Hurt), que aterroriza seu país. Mas, no seu presente, o garoto é um cuidador de porcos, discípulo de um velho misterioso que parece mais preocupado com suas premonições do que com a emoção da guerra.

Durante mais um dia comum, Taran observa um estranho comportamento na gentil porquinha Hen Wen, o que desperta ainda mais a preocupação do seu mestre. Trancados em casa, Dallben (Freddie Jones) faz uma grande revelação a seu discípulo: a porquinha não é um animal comum, ela possui poderes que permitem que a mesma veja coisas que ninguém mais pode ver. Temendo que o Rei de Chifres use o animal para conseguir a localização do lendário Caldeirão Negro, o velho manda Taran levar a porquinha para o esconderijo na floresta, longe das garras malignas do rei.

Animado com sua missão, o jovem parte imediatamente da pequena casa sem nem ao menos duvidar de sua capacidade em executá-la mas, durante o caminho, as coisas fogem do seu controle trazendo aventuras inesperadas por uma terra sombria que vai colocar em duvida toda sua confiança e seu senso de dever. Em um mundo repleto de fadas, bruxas e seres demoníacos, Taran precisa provar sua verdadeira força enquanto aprende mais sobre si mesmo e o real sentido de ser um herói.

Todo estúdio que se preze viveu uma era sombria, onde tudo parecia envolto em névoa e a esperança de um sucesso não conseguia ser avistada de maneira nenhuma. Com uma crise criativa e econômica, a Disney viveu essa época ao final dos anos 70, onde nenhum filme conseguia emplacar ou pouca atenção era despertada por suas obras.

Para isso, eles decidiram fazer uma última aposta. Algo pela qual valesse se arriscar e trouxesse o interesse de volta a seu antigo e grandioso nome. Foi assim que se dedicaram a construir uma fantasia épica, baseada em uma saga fantástica que trouxesse uma nova tecnologia aos estúdios… nem é preciso dizer que sua tentativa foi um total fracasso.

Baseado na saga literária de Lloyd Alexander e sendo o sexto filme da Era Negra do estúdio, O Caldeirão Mágico é o vigésimo-quinto clássico animado da Disney e, também, o seu maior fracasso. Dirigido por Ted Berman e Richard Rich, o longa construiu uma das narrativas mais tenebrosas e perturbadoras que se tem notícia, não só chocando seu público como trazendo severas críticas que quase levaram a Disney a uma falência iminente.

Possuindo grandes esperanças no sucesso comercial do filme, a Disney trouxe um investimento pesado em tecnologia, desenvolvendo técnicas de captura que ajudariam e muito os seus desenhistas, assim como o investimento em computação gráfica, fazendo com que o mesmo fosse a primeira animação em longa-metragem a possuir o uso de CGI, o que possibilitou uma nova leva de possibilidades.

Mas, a falta de equilíbrio e a constante interferência trouxeram uma trama confusa e inchada, que parece ter muito a dizer mas pouco a mostrar. O tom sombrio, repleto de uma crueldade absurda, nos levam ainda mais a uma jornada enlouquecida que não condiz em nada com a magia singela dos estúdios. É raro ter imagens felizes no longa, e ainda mais raro encontrar tons vibrantes já que tudo parece ser envolto em sombras e possuir um ar pessimista e tenebroso que nos faz mal.

Somado a cenas verdadeiramente bizarras, o longa se apega a uma jornada do herói conturbada e mal construída, onde coisas que deveriam ser importantes perdem seu significado durante a narrativa mostrando ainda mais o descuido com a construção de universo ali presente. Tudo parece ser apenas jogado em tela, sem construção aparente, para mostrar o quão grande o mundo pode ser, mas deixando apenas uma sensação claustrofóbica e agonizante.

O excesso de personagens pouco explorados se torna algo gritante na trama, assim como as relações de amizade instantânea que não possui em construção alguma ao longo da narrativa. Uma das provas vivas é a porquinha Hen Wen, que parece ser crucial até metade da história a ponto de ser desejada por todos, apenas para ser esquecida e descartada nos dez minutos seguintes.

Taran se mostra um bom personagem e sofre um amadurecimento palpável durante a trama. Simpatizamos com o garoto, mas seu arco é tão forçado que nos perde aos poucos. Eilonwy (Susan Sheridan) é uma ótima adição, trazendo uma princesa que não teme enfrentar os perigos à sua própria maneira. Sua química com Taran é adorável, trazendo alguns dos melhores momentos do longa.

Gurgi (John Byner) é um covarde adorável. Seu jeito cativante e seu olhar medroso são umas das poucas coisas que arrancam uma empatia sincera dos telespectadores. Na trama, ele se mostra o personagem melhor construído, embora apareça apenas em momentos chaves do enredo. Fflewddur Fflam (Nigel Hawthorne) é o mais deslocado no grupo principal. Sua unica função é de criar uma ligação quando a Princesa Eilonwy e Taran entram em atrito.

Mas, o grande acerto do filme está em seu vilão. Macabro desde o seu primeiro momento, o Rei de Chifres nos provoca arrepios apenas com sua presença. Tudo nele sugere perigo iminente, seja pelo seu visual tenebroso ou na sua voz ecoada e espectral, nunca duvidamos de sua maldades e passamos a teme-lo tanto quanto seus protagonistas.

Sombrio, macabro e extremamente perturbador, O Caldeirão Mágico constrói uma das tramas mais atípicas da Disney. Sendo uma aposta desesperada, e um trauma eterno para as gerações que vieram a seguir, o longa afundou ainda mais o estúdio, deixando-o à beira da falência e sem total esperanças de um recomeço. Mas, até nos tempos mais sombrios, uma luz pode brilhar e quem diria que o salvamento da Disney surgiria do mais profundo dos mares…

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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