Crítica | The Rocky Horror Picture Show [1975]

Nota
5

“Let’s do the time warp again”

Brad Majors (Barry Bostwick) e Janet Weiss (Susan Sarandon) acabaram de oficializar seu noivado e para comemorar o casal decide visitar seu velho amigo, o Dr. Everett Scott (Jonathan Adams), para agradece-lo por tê-los apresentado e convidá-lo para o casamento. Para isso eles precisam se deslocar ainda mais para o interior do país em uma noite de tempestade.

No meio do caminho, o pneu do carro fura, deixando os dois presos em meio a chuva sem um estepe. Lembrando-se de um antigo castelo pela qual passaram, Brad decide ir ate lá para buscar ajuda, ou ao menos telefonar para a oficina mais próxima, e, com medo de ficar sozinha, Janet o acompanha. Porém, o que encontram no lugar vai muito além do que esperavam.

Os excêntricos habitantes do local estão entusiasmados com o novo sucesso cientifico de seu anfitrião, o cientista louco travesti Dr. Frank N. Furter (Tim Curry) que acaba de descobri o segredo da própria vida e trazer a tona o humano sintético chamado Rocky (Peter Hinwood) extremamente musculoso feito apenas para os anseios sexuais de seu criador. Mas, esse é apenas o primeiro acontecimento da noite que se tornaria a mais inesquecível e medonha na vida dos protagonistas.

Quebrando todos os parâmetros e falando abertamente de certos tabus da época The Rocky Horror Picture Show se tornou um dos filmes mais memoráveis das sessões de meia-noite. Dirigido por Jim Sharman, o longa recebeu duras críticas na sua estreia mas devido a sua estranheza se tornou um clássico cult adorado até os dias atuais e exibido religiosamente à meia-noite no dia de Halloween nas cidades dos Estados Unidos.

Deturpando os conceitos cinematográfico e satirizando grandes clássicos do terror, o longa nos convida a uma viagem insana e caótica. O filme é repleto de uma linguagem única e por vezes confusa, mas que cativa o espectador logo em seus primeiros minutos com signos tão marcantes que se tornaram objetos de obsessão perante seus fãs. Sabe aquele filme que de tão ruim é bom? Nenhum se encaixa melhor nessa descrição do que este longa.

O filme começa com uma brilhante abertura, com lábios vermelhos e chamativos nos apresentando a história em toda sua magnitude e referências a algo que até hoje é lembrado pelos fãs, para logo em seguida sermos jogados em uma aparente normalidade quase tediosa com o casal protagonista. Mas, é a partir desse ponto que ingressando em toda insanidade metalinguística que o longa quer nos proporcionar.

Seja por suas atuações aparentemente forçadas, ou por brincar com temas polêmicos o filme se diverte em sua loucura fazendo sátiras afiadas sobre a vida conservadora e mostrando toda sua liberdade criativa com o pouco orçamento que se tem em mãos. O filme se tornou algo tão icônico que inúmeras tradições foram costuradas a sua exibição: como o grito de respostas do publico, ou ate a apresentação de certos momentos por grupos de fãs durante a exibição. Fãs esses que vão caracteristicamente vestidos para a sessão, entrando ainda mais no clima.

O movimento cultural do filme se tornou algo tão estrondoso que é possível saber de cor as falas do longa, assim como apreciar o comprometimento lunático dos atores com o roteiro, trazendo um tempero irreverente para a trama com uma experiência única empolgante que contagia a todos.

Brad e Janet são a representação da moral e da felicidade conservadora. Mas todo seu mundo é desconstruído ao se colocar em contraste com os moradores do castelo, mostrando as camadas escondidas através da sua aparente pureza e a reprimido libido do casal. Janet ganha um novo ar e Sarandon transita brilhantemente entre a moça recatada e a femme fatale livre em seu desejo, alcançando o melhor vocal do elenco.

Riff Raff (Richard O’Brien), Magenta (Patricia Quinn) e Colúmbia (Nell Campbell) formam o trio mais irreverente. Os irmãos da Transilvânia e a assistente demoníaca trazem um novo gracejo com suas personalidades exuberante e repleta de vivacidade. Riff é um mordomo amargurado que vive nas sombras do seu mestre, na melhor referência a Frankenstein. Sua presença esquisita nos deixa desconfortável mas sua construção se mostra sublime ao longo da trama. Richard é o escritor da peça original e ajudou na construção da adaptação cinematográfica. Sua presença ilustre e seu maneirismo único trazem um tom empolgante e avassalador a trama. Magenta se diverte com seu voyeurismo, observando os acontecimentos mais do que participando e causando o caos por onde passa com sua voz grave e seu jeito intrusivo. Colúmbia se mostra magoada com a constante falta de empatia do mesmo e seu tratamento com seus múltiplos amantes. Estridente, colorida e carismática a dançarina encanta com seu jeito e trás um carisma novo ao elenco.

A adição do Criminologista (Charles Gray) foi uma jogada genial. O personagem nos narra os acontecimentos perturbadores e nos introduz com maestria ao enredo, como se num estudo de tudo que aquilo possa ter causado. Eddie (Meat Loaf) é o típico bad boy que só quer se divertir. O motoqueiro surge em cena com a empolgante Hot Patootie (Bless My Soul) trazendo um rock’n roll preciso para a performance.

Mas, quem verdadeiramente rouba a cena é Tim Curry. É impossível desviar o olhar de seu excêntrico Dr. Frank. Tudo nele é chamativo e genuíno, trazendo um magnetismo incomparável e um carisma sem igual em um cientista louco que usa pessoas como objetos para divertir e saciar suas vontades. Atingindo níveis esplêndidos de loucura, malícia e exagero, a atuação de Curry é incomparável e se mostra um fator inegável para a perpetuação do filme.

As músicas são tão contagiantes e extremamente vibrantes, mostrando uma verdadeira força quase sobrenatural em quem a escuta. Science Fiction/Double Feature abre o espetáculo, nos mostrando de cara a poderosa mistura e todo seu conteúdo caótico. Seguida da romântica e divertida Damn It, Janet que apresenta os ideais puritanos dos protagonistas seu romance inicial. Over The Frankenstein Place se mostra instigante e nos conduz ao primeiro ponto de virada da trama, trazendo velhos clichês do terror a tela.

Mas é em Time Warp que o filme cresce. Empolgante, divertida e cativante, a música nos leva ao ponto de ruptura com a realidade e nos apresenta ao novo e confuso caminho. Sweet Transvestite se mostra uma das melhores musicas do longa, com suas mensagens subliminares que nos fazem imaginar toda a potência e convicção do seu interprete, nos introduzindo com maestria o personagem mais chamativo do longa.

Touch-A-Touch-A-Touch-A-Touch Me traz uma nova mudança que nos faz sentir toda sujeira e empolgação que a cena quer passar. Sem falar da emocionante I’m Going Home, misturada a poderosa Rose Tint My World que completam com maestria a trama.

Em uma mistura bem executada e extremamente caótica, The Rocky Horror Picture Show quebrou todos os parâmetros e mudou a visão do cinema cult, trazendo uma trama atemporal sobre liberdade em uma sátira latente ao gênero em que se compõe. Engraçado, divertido e cativante, o filme se mostra uma pérola bizarra e insana que não se conforma apenas em sonhar mas em ser. E nos convida a dar um pulo para a esquerda, e um passo para a direita. Por as mãos no quadril e apertar bem os joelhos. Com um movimento da pélvis que nos leva a loucura. É, nós vamos fazer a dobra temporal outra vez…

“Science fiction, double feature
Doctor X will build a creature.
See androids fighting Brad and Janet
Anne Francis stars in Forbidden Planet
Wuh uh uh oh o-o-oh
At the late night, double feature, picture show.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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