Crítica | Toy Story 4

Nota
4

“Você não pode ensinar novos truques a um velho brinquedo.
Você ficaria surpreso.”

Woody (Tom Hanks) já foi o brinquedo favorito de sua criança. Líder nato do seu grupo, ele era ouvido e respeitado, mas, como tudo na vida, esse tempo ficou para trás. Agora, como brinquedo da Bonnie (Madeleine McGraw), o cowboy tem dificuldades em se ajustar a sua nova dona, ainda mais quando ela se mostra tão diferente do seu amado Andy.

Perdendo o sentido, e tentando se tornar útil enquanto é esquecido nas brincadeiras de uma maneira cada vez mais constante, Woody se esconde na mochila da garota e tenta ajudá-la no primeiro dia da nova escola. Solitária, Bonnie decide criar um novo amigo com materiais descartáveis, trazendo a vida ao confuso Garfinho (Tony Hale), que não consegue entender sua nova realidade e deseja a todo custo voltar ao lugar que deveria pertencer… o lixo.

Tomando para si a missão de cuidar e proteger o novo “brinquedo” favorito da Bonnie, Woody se vê em uma enrascada sem precedentes ao perceber que está perdido no meio do nada após uma tentativa de resgate mal-sucedida. Enquanto tenta voltar para sua dona, o Xerife explica a importância do talher para sua amada Bonnie e o quão importante ele é no crescimento e na vida da mesma. Mas, durante sua jornada, o velho brinquedo vai descobrir um mundo totalmente novo e enfrentar uma jornada pessoal que pode mudar de uma vez por todas sua visão de o que é ser um brinquedo e qual é seu real papel no mundo.

Após o magnífico Toy Story 3, que finaliza a saga dos brinquedos mais amados de todos os tempos de uma maneira tão sublime, se levantou o questionamento se era realmente necessária uma continuação para uma franquia que já soava tão perfeita aos olhos do público. E a resposta simples é: sim… e não.

Dirigido por Josh Cooley e roteirizado por Stephany Folsom e Andrew Stanton, Toy Story 4 revela uma trama mais adulta e centrada em seis ideais. Se o terceiro longa se fixou no fim da infância e destroçou nossos corações no processo, o quarto volume apresenta de modo divertido um questionamento persistente em todo jovem adulto em frase de transição: agora que minha missão foi cumprida, o que me resta dessa vida?

Os dogmas criados nos filmes anteriores são destroçados sem nenhuma piedade no novo longa. Sempre aprendemos que ser um brinquedo perdido é uma coisa terrível, acompanhamos os traumas daqueles que foram abandonados e a falta de utilidade para alguém que sempre mudou seu destino de tornar a infância algo memorável. Mas seria essa a única função de um brinquedo? Será que o sina deles é realmente tão rasa e dependente do amor de uma única criança?
O medo do desconhecido e o apego ao passado são tão ricamente explorados que se torna tocante acompanhar os novos passos de nossos velhos amigos. A delicadeza para o tema é o medo constante em se sentir inútil são tão presentes e tocam tão profundamente na ferida que é impossível não simpatizar ou questionar nosso próprio caminho durante o processo.

Woody é a prova viva disso. O cowboy tem uma séria dificuldade em entender que Bonnie não é a mesma criança que Andy foi, colocando o mesmo em um papel totalmente diferente de qualquer coisa que já viveu. Ele se sente inútil, obsoleto e sem propósito, a ponto de descumprir ordens para cumprir os seus objetivos e colocar a todos em perigo por achar que é o certo a se fazer. Woody se agarra tão desesperadamente a proteção do Garfinho, almejando a oportunidade de fazer algo útil que é quase um grito de desespero de alguém que, talvez, seu propósito para determinado assunto já tenha sido cumprido.

Garfinho tem alguns dos momentos mais hilários de todo longa. O novo brinquedo animado não consegue ligar sua nova função ao profundo relacionamento que Woody carrega em sua bagagem. A inocência e infantilidade do mesmo forçam o protagonista a entrar em um parafuso mental, desestabilizando o mesmo e exibindo a verdadeira raiz do problema. Sua doçura é tão cativante que é impossível não se apegar ao talher, mesmo que ele se considere, no melhor significado da palavra, um lixo.

Betty (Annie Potts) retorna em seu melhor estado. Se nos filmes anteriores ela era retratada como uma frágil consciência de Woody, aqui ela não demonstra o menor temor em tomar a frente em suas aventuras, mesmo que isso lhe custe um braço ou uma perna. É tão gratificante ver a personagem transformar sua fraqueza em força e demostrar seu verdadeiro potencial ao encarar um mundo tão mais amplo que coloca todo o conceito que o Xerife cogitou conhecer em Xeque-Mate.

Buzz Lightyear (Tim Allen) precisa encarar uma jornada mais intuitiva com a qual ele não preparado. O patrulheiro sempre foi ótimo em seguir as ordens, mas como ele mesmo poderia tomar a frente e liderar sua própria missão. É um pouco triste vê o personagem perdendo tanto espaço no ultimo filme, mas bastante compreensível na jornada que o longa apresenta. Coelhinho (Jordan Peele) e Patinho (Keegan-Michael Key) formam uma dupla hilária e histérica, que arrancam risadas a cada mísero segundo e conquistam nossos corações, assim como o cativante Duke Caboom (Keanu Reevers) que demonstra toda crueldade que uma criança pode ter ao contar seu passado sombrio.

Mas, nossa total atenção é voltada a antagonista da trama: a tenebrosa Gabby Gabby (Christina Hendricks). Com sua voz doce e calma, a boneca mostra a que veio desde sua primeira cena criando um asco e um desconforto proposital em sua fala mansa. Ao contrario dos outros antagonistas da franquia, ela não tenta esconder quem é para ganhar a confiança dos mocinhos. Objetiva e com uma aparente frieza, somos levados a descascar suas camadas e descobrir nas entrelinhas tudo que ela passou. Gabby é o extremo oposto de Wood, tudo aquilo que ele poderia se tornar. A construção da personagem é tão sublime que quando menos esperamos estamos chorando pela mesma e torcendo pra que ela seja feliz no final de tudo, tornando o seu arco uma das melhores coisas do filme.

Falar da qualidade visual de Toy Story se torna quase um pleonasmo. Cada fio de tecido, pelo animal, fibra, sombra e texturas parece amplificado e realista mostrando o cuidado e o avanço surpreendente da produção 3D que se tornou a assinatura pessoal da Pixar.

Brilhantemente colocando Woody como protagonista de um filme em que ele parece ter perdido seu rumo, Toy Story 4 apresenta uma trama divertida e profunda que, embora não seja emocional como o terceiro filme da saga, mostra-se um poderoso epílogo que seduz e encanta cada um de seus telespectadores. Trazendo carisma, fôlego e coração a uma sequencia que não pedimos mas que agradecemos por existir e amarrando ainda mais nossas emoções a franquia. Afinal, as vezes precisamos nos perder para enfim nos encontrar.

“Seja sincero comigo… é tão maravilhoso quando eu imaginei?”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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