Nota
Em uma fazenda nos Estados Unidos, uma família precisa sobreviver unida ao silencio, a unica barreira que os separa da mira de uma raça de seres assustadores.
Um futuro pós-apocalíptico onde o mundo passa a ser aterrorizado por seres sensíveis ao som, uma premissa simples, talvez falha, uma receita para o desastre, mas não nas mãos de John Krasinski. O diretor e protagonista de Um Lugar Silencioso aposta numa historia onde uma família precisa sobreviver ao mundo sem vida (ou quase sem vida), dominado por uma raça predadora que mata tudo que emite sons.
Com o passar da trama vamos aprendendo cada vez mais sobre a sobrevivência e a família, sabemos que os seres são cegos e possuem ouvidos gigantes, capaz de captar o menor som, e por conta disso eles precisam emitir os menores ruídos possíveis, e acabam implementando a linguagem de sinais ao vocabulário para aumentar sua comunicação, algo que é muito mais pela sobrevivência do que pela necessidade da filha do casal.
John Krasinski vive Lee Abbott, o guerreiro e super protetor pai que cuida estupendamente bem dos filhos, sendo protagonista de uma das cenas mais emocionantes do longa, e sendo também o personagem que mais desperta raiva em certos pontos por conta de seus métodos de sobrevivência que as vezes se tornam autoritários e nada igualitários. Do outro lado da liderança temos a esposa de Krasinski, Emily Blunt, que no papel de Evelyn Abbott dá um show, ela traz todas as fragilidades comuns a uma mulher que vive num pesadelo, está grávida e sofre pela perda de Beau, seu caçula que foi assassinado após fazer barulho, mas Blunt vai mostrando no decorrer do filme que, apesar de frágil, Evelyn é uma leoa quando o assunto é seus filhos, despertando todo o lado Badass de uma guerreira do fim do mundo.
O elenco conta ainda com Noah Jupe vivendo Marcus Abbott, o mais novo dos filhos vivos do casal, e que está sendo treinado pelo seu pai para sobreviver e lutar, além de proteger sua família quando algo acontecer ao cabeça da família, apesar de que Marcus se borra de medo das criaturas e será dificil para ele lutar contra elas. A família se completa com Millicent Simmonds, que encarna Regan Abbott, a filha surda do casal e motivo pelo qual Lee passa a se esforçar no estudo da audição humana, ela sente culpa pela morte do irmão, se sente desnecessária na casa e fica o tempo todo tentando se provar para o pai, se sentindo escanteada, ao mesmo tempo que o pai luta para conseguir criar um aparelho que a faça ouvir.
O filme, que foi aplaudido no SXSW, mostra uma nova abordagem de família no suspense, o diretor, protagonista e roteirista buscou focar muito mais em mostrar um casal tentando proteger a família do que em assustar as pessoas, e criou toda uma atmosfera de mistério inicial no filme que nos remonta a muitos dos filmes indie que fazem sucesso, mostrando muito mais medo no não visto do que mostrar o monstro e nos fazer temer ele, mas essa atmosfera logo começa a ser quebrada a medida que o dito monstro começa a aparecer cada vez mais na trama, nos mostrando que estamos sim vendo um filme comercial, o que talvez não fosse o que este longa precisava para ser perfeito.
O longa traz uma imersão que nos ajuda demais a sentir todo o filme, numa produção onde o silencio é fundamental, nós sentimos cada barulho pesar em nossos ouvidos, um simples som capaz de chamar a atenção do monstro é notado pela nossa audição de formas claras, afinal, o silencio do longa nos treina a isso desde seu primeiro ato, ato esse que é a melhor parte do filme, tendo inclusive a cena da dança do casal como melhor parte, visto que estamos com um casal dançando no silencio e sendo guiados apenas pelas musicas de fones de ouvido, que logo depois inunda nosso ambiente e nos faz valorizar o som ainda mais. Mas o grande problema do longa é realmente o monstro, de inicio ele não é mostrado e se torna extremamente valorizado, mas depois se torna banal com suas aparições e fica ainda pior se refletirmos o quando já o conhecemos.
O longa não inovou na aparência do vilão, e faz com que vejamos um mais do mesmo, ele lembra muito o Alien e o monstro de Cloverfield, e também tem muito de semelhante com o Demogorgon e membros que lembram o Slenderman, tantas referencias que acaba fazendo o monstro ser facilmente esquecível e que tira a graça da busca de vermos uma ser único. Talvez a grande surpresa do filme seja o fato de ele não ter explosões (fogos não contam), o que se torna engraçado já que o longa é produzido por Michael Bay (da franquia Transformers), e sua assinatura sempre foi explosões barulhentas e megalomaníacas, e Um Lugar Silencioso veio para fazer justamente o contrario e eu me pergunto quanto tiveram que amarrar Bay para evitar seu ‘toque final’ no longa.
No mais, podemos dizer que a produção começa ótima, e apela forte para uma experiência numa sala de cinema silenciosa e cooperativa, o que resultará numa imersão completa, mas que se perde no exato momento em que a ameaça entra em ação, mostrando demais e perdendo sua originalidade, com cenas clichês e previsíveis que já foram feitas por outros longas, e algumas até de forma melhor.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.