Nota
“Estava tudo ali. Na realidade, estava tudo saindo conforme planejado.
A não ser uma coisa: ele tinha matado uma pessoa.”
Will Parry já passou por poucas e boas nessa vida. Desde cedo ele aprendeu a manter a doença de sua mãe em segredo e a se virar como pode, mas com a súbita aparição de dois homens que insistem em descobrir sobre o misterioso desaparecimento do seu pai tudo vai por água a baixo. Quando um desses encontros resulta na morte de um dos homens, Will decide fugir para a cidade de Oxford e afastar de vez o perigo da mãe.
Durante sua fuga, o garoto encontra uma misteriosa janela que parece levar a um outro mundo, um mundo mais seguro do que o que deixou para trás. Sem pensar duas vezes, Will atravessa a janela e encontra a misteriosa cidade de Citàgazze, um local habitado apenas por crianças que nenhum adulto ousa pisar.
Lá ele conhece Lyra, uma estranha garota com quem sente uma forte ligação, e é junto a eles que descobre o real motivo dos adultos não pisarem na cidade. As ruas são enfestadas de Espectros, seres malignos sugadores de alma que são invisíveis às crianças e não possuem nenhum interesse nas mesmas. Enquanto Will procura pelo pai desaparecido e as respostas em suas misteriosas cartas, Lyra quer saber mais sobre o Pó e, no meio do caminho, os dois descobrem segredos seculares capazes de definir o destino da guerra que se aproxima e mudar o destino dos múltiplos universos.
A Faca Sutil é o segundo volume da saga Fronteiras do Universo e traz um novo misto de sentimentos para seus leitores. Se o primeiro volume da trilogia nos deixou confusos e nervosos, o segundo vem apresentar um novo caminho, com mais calma mas não menos empolgante. Philip Pullman nos tira do nosso ponto comum ao dar voz a um personagem totalmente novo, com problemas diferentes que aparentemente não parece ter ligação com a historia que conhecemos.
Isso nos deixa despenteado a princípio, mas logo se mostra uma jogada genial. Todo arco de Will é empolgante e nos instiga a continuar. Seu mundo, tão semelhante ao nosso, causa uma estranheza após vivermos tanto tempo na Oxford de Lyra, com suas peculiaridades e sua “normalidade” que não condiz com o que sabemos até o presente momento. Mas, quando elementos tão conhecidos aparecem, eles saltam aos olhos e nos dão piscadelas de que a historia está ciente de todo nosso desconforto.
Se no primeiro volume passamos o livro todo no mundo de Lyra, aqui temos dois novos a explorar. Conhecemos as consequências do ato de Lorde Asriel e como isso afetou cada um dos personagens, continuamos descobrindo mais sobre o Pó e, mesmo assim, sentimos que nada sabemos ao final das contas. Mas, se o autor nos faz transitar entre essas narrativas é para demostrar seu total poder em amarrar seu enredos e revelar algo complexo e instigante.
Lyra se mostra mais passiva nesse novo capítulo. A curiosa garota do volume anterior parece dar vida a alguém que aprendeu com seus erros e controla melhor sua curiosidade, nos dando mais uma dica de que essa parte da história não pertence a ela. Me causou um certo desconforto ver tanto de sua personalidade apagada para dar uma luz ao novo protagonista, e me perdeu um pouco ao vê-la , em muitos pontos, apenas estando ali quando sabemos que ela poderia ser muito mais.
Will é o verdadeiro protagonista do livro. Tudo gira em torno da sua jornada e do quão importante é que ele chegue ao final. Ativo, corajoso e bastante sensato, o garoto tenta se mostrar forte a todo momento aprendendo com a dura vida que levou até então. Toda a trama que conhecemos parece deixada de lado para o avanço de seu arco, mas em nenhum momento ela é esquecida: apenas ganha novas camadas.
O livro ainda possui o ponto de vista de Serafina Pekka e Lee Scoresby que possuem sua própria jornada, e que se encontram ligadas ao destino das crianças. Mas, se algo me incomodou durante a leitura foram as trapaças narrativas que o autor apresenta. Se um personagem irritante é importante para o futuro, mesmo estando sobre a mira de uma flecha, ele vai conseguir escapar de um modo porco e pouco convincente enquanto outros são mortos sem o menor ressentimento apenas para criar uma carga emotiva. Essa aparente invencibilidade de certos personagens irrita mais do que ajuda e nos tira completamente da trama por puro ódio.
A edição da Suma de Letras se mostra outra vez sublime. Com detalhes importantes espalhados pela magnifica capa (em tom vermelho e com o brilho que tanto amamos na edição anterior), o livro na mostra toda sua grandiosidade logo de cara. As paginas amareladas ajudam, e muito, na leitura, assim como a fonte rachada mostrando todo o cuidado da editora com seu público.
Empolgante e curioso, A Faca Sutil nos mostra que tudo que achamos conhecer era apenas a ponta do iceberg. Trazendo uma trama mais ágil que nos convida a mergulhar ainda mais fundo nesse novo mundo, além de cortar tão profundamente em nossas mentes como a lâmina sutil de uma escrita potente e aterradora.
“Encontrei loucura em toda parte, mas havia grãos de sabedoria em todos os casos de loucura. Sem dúvida havia muito mais sabedoria do que eu consegui reconhecer.”
Ficha Técnica |
Livro 2 – Trilogia Fronteiras do Universo Nome: A Faca Sutil Autor: Philip Pullman Editora: Suma de Letras |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...