Review | O Escolhido [Season 1]

Nota
3.5

“Você acredita no Escolhido?”

Você já pensou como seria um filme de suspense, com toques de terror psicológico, falando de religião, fé e do Messias? É, ninguém nunca imaginou isso, mas a Netflix superou nossos pensamentos e saciou nossa curiosidade ainda inexistente, essa é a base de O Escolhido. A série tem seu ponta-pé inicial em uma epidemia mortal da mutação do vírus da Zika, que vem assolando no Brasil, e cabe a EnzoLúciaDamião peregrinarem fazendo a vacinação, mas a desgraça acontece quando eles precisam ir para Aguazulum vilarejo remoto do Pantanal, isolado e cheio de segredos, que se nega a ser tratado por devoção a um líder religioso enigmático que promete curar doenças sem fazer uso da medicina, gerando uma verdadeira guerra entre fé e ciência.

Lançado em 28 de Junho de 2019, a produção nacional dirigida por Michel Tikhomiroff concentra nossa atenção nos três jovens médicos, que lutam pelo bem da ciência e passam a ser testados pela fé. Enquanto Enzo busca entender a origem da cura que existe nesse vilarejo, vemos Damião buscando entender o funcionamento dessas sociedade, mas a grande estrela do trio é a Lucia, interpretada pela maravilhosa Paloma Bernardi, vamos pouco a pouco vendo sua ligação com a religião e vendo o interesse do Escolhido crescer na médica, enxergando além de tudo que vemos, vendo o quanto a chegada dela faz parte de sua missão. E por falar em escolhido, não podemos deixar de citar o excelente trabalho da atuação de Renan Tenca, que consegue paixar toda a calma e confiança do profeta, ao mesmo tempo que deixa todo o mistério inundar o ar ao seu redor, nos fazendo viver na busca de entender a origem de seus poderes, o funcionamento, e nos questionar até onde a fé pode ser tão poderosa.

O roteiro dos seis episódios foi baseada na série mexicana Niño Santo e escrito pelas hábeis mãos de Raphael Draccon e Carolina Munhóz, dois dos maiores nomes da literatura fantástica no Brasil, surgiu em três meses mas parece um trabalho de anos, trazendo toda clima de mistério e suspense que já é intrínseco nas séries americanas, além de diálogos precisos para aumentar o mistério ao mesmo tempo que nos alimenta, e devo destacar um dos melhores personagens da série: Dona Cleusa. Ela parece ter sido escolhida a dedo para ser o destaque dentro da vila, e é ela quem nos instiga o tempo todo a não acreditar no escolhido, a nos questionar tudo que ele faz e a investigar ainda mais, ela é aquela velha doida que deve ser escutada por ser o caminho para a verdade.

O Escolhido chegou para mostrar que o Brasil tem sim um grande potencial, e ele, assim como 3%, chegou para mostrar o quanto os temas de roteiros do Brasil pode divertir ao mesmo que conscientiza. Enquanto 3% usa a distopia para debater pobreza, desigualdade social, controle nas mãos dos mais ricos e falsa meritocracia, O Escolhido fala sobre o lado ruim da religião, o poder de ser devoto cegamente a algo, e ainda sobre as polêmicas da população que é contra as vacinas, com o poder dos movimentos anti-vacinação. Uma trama incrível que nos envolve devagar, mesmo que devagar demais, e consegue nos deixar cheios de dúvidas no final, uma série curta, mas na medida certa, e com um final surpreendente, que nos deixa rezando por uma segunda temporada e prontos para assistir o novo 3%, ou melhor, prontos para ver O Escolhido como o novo sucesso nascido no Brasil.

O episodio final da série é um mix de curiosidade, surpresas e expectativas. No final a constatação é unica, O Escolhido não explorou todo o seu potencial, não é todo seu elenco que atua bem, mas teve um bom inicio e pode ter sua melhora numa segunda temporada, a série possui um bom roteiro, possui boas ideias, mas sofre por uma execução falha, sofre pelo simples fato de não saber explorar bem seus melhores pontos e não saber transitar entre as personalidades dos personagens. Brincando com as vilanias inerentes de cada um e o fanatismo religioso de uma cidade interiorana digna de um cartão postal, O Escolhido chega para chamar atenção, criticar e nos deixar a espera de uma sequencia que mostre a verdadeira batalha entre a fé e a ciência, e não só mais uma troca de farpas.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *