Crítica | Pequena Grande Vida (Downsizing)

Nota
2

Quando um novo estudo descobre uma maneira de reduzir o tamanho da humanidade para 13 cm de altura, cientistas e governos propõem uma transição global do grande para o pequeno a fim de desenvolver a sustentabilidade e salvar o planeta Terra. As pessoas também percebem o quanto o dinheiro dura mais em um mundo miniaturizado e, com a promessa de uma vida melhor, um homem comum (Matt Damon) e sua esposa (Kristen Wiig) decidem abandonar suas vidas estressadas em Omaha, Estados Unidos, para se tornarem pequenos, uma escolha que mudará suas vidas para sempre.

Uma grande premissa misturada a um infeliz descaso para aproveitar uma boa história, resultando em um filme pequeno em todos os aspectos, exceto na exagerada e cansativa metragem. Talvez seja essa a melhor maneira de descrever “Pequena Grande Vida” (Downsizing), do aclamado diretor Alexander Payne, vencedor de dois Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por “Os Descendentes” (2011) e “Sideways” (2004).

Partindo do princípio da sustentabilidade, primeiramente introduzido com detalhes convincentes e até plausíveis, apesar de, obviamente, a trama se tratar de uma ficção científica, o filme acerta em explorar no primeiro ato uma alternativa para um futuro melhor, que é o processo de encolhimento de matérias orgânicas, mostrando a aceitação da nova tecnologia na sociedade e todo o seu processo de criação – o que tenta aproximar o longa do gênero ficção científica momentaneamente .

Porém, a partir do segundo ato, tudo de interessante que havia sido introduzido no princípio é afundado pelo excesso de temas, cuja insistência de Alexander Payne, que assume também o roteiro de “Pequena Grande Vida”, de realizar um filme que abordasse inúmeras questões sociais ao mesmo tempo acaba resultando em um projeto falho. O excesso de temas, como a questão da desigualdade, imigrantes, religião, aceitação e sobre qual rumo devemos tomar da vida, tornam o longa desnecessariamente arrastado e cansativo para o público, além de se perder diversas vezes. O filme, à propósito, pareceu em nenhum momento conseguir se encontrar, ora comportando-se como uma ficção, depois uma comédia de humor negro (que não funciona), passando para um romance forçado e finalizando com um drama pobre e sem emoção.

Personagens em excesso e sem graça dificultam também a empatia do público com “Pequena Grande Vida”. Por exemplo, o personagem principal, o operário Paul Sefrânek, interpretado por Matt Damon (que, mais uma vez, entrega uma atuação rasa e antipática), é bobo e genérico quando se trata de “bem feitor”, mesmo que forçadamente.  Há também um alarmante desperdício de elenco com as participações totalmente mal aproveitadas de grandes nomes como Kristen Wiig, Laura Dern e Neil Patrick Harris. Vale ressaltar que o personagem de Christoph Waltz (mais uma vez caracterizado como o Coronel Hans Land de “Bastardos Inglórios”, ou o dentista King Schultz, de “Django Livre”) é introduzido ao filme tal como suas sub tramas, ou seja, do nada. A refugiada vietnamita Lan Tran, brilhantemente interpretada por Hong Chau (a única atriz que soube realmente passar uma emoção para o longa), teria sido uma personagem melhor se sua contextualização fosse de fato uma preocupação do roteiro que, mais uma vez, insere sua história ao longa sem mais nem menos.

Com direção, roteiro e atuações equivocadas, o filme ao menos acerta no aspecto visual. Há belíssimos registros de paisagens norueguesas dentro de uma competente direção de fotografia, além de inteligentes enquadramentos de câmera que permitem durante todo o filme vermos que a história ainda se passa dentro de um mundo de tamanho reduzido. Aliás, toda construção do mundo minúsculo, principalmente a cidade de LeisureTown, é muito bem realizada e sem exageros.

“Pequena Grande Vida” não chega a ser um grande desastre, mas uma pequena tentativa frustrada de fazer um filme cheio de boas ideias sem saber administrá-las ou dosar o que realmente deve caber em uma produção à altura de tantos temas relevantes.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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