Crítica | Bambi

Nota
5

“O que foi que seu pai ensinou hoje de manhã?
Se não pode dizer algo gentil, então não diga nada.”

No coração da densa floresta, os animais entram em polvorosa com a chegada do pequeno cervo, que trás um herdeiro para o misterioso Príncipe da Floresta, uma figura intangível que reina soberano sobre todas as outras a ponto de parecer mítico e intocável em seu silêncio enigmático.

Bambi (Donnie Dunagan) não entende bem o seu papel nesse cenário mas procura aprender ao máximo com os amigos que faz no caminho. Seja pelo energético Tambor (Peter Behn) ou o delicado Flor (Sterling Holloway) o pequeno príncipe passa a conhecer mais sobre o cotidiano da floresta e aprender mais sobre seu papel enquanto cresce na vivacidade florestal, mas a chegada de um inimigo pode colocar tudo a perder.
A presença humana trás uma ameaça à todos que Bambi ama, mudando drasticamente a vida como ele a conhece e trazendo tons mais sombrios a uma jornada que parecia feliz e despreocupada.

Baseado na obra de Felix Salten, Bambi foi idealizado para ser o segundo longa animado da Disney mas, devido ao perfeccionismo de Walt, o longa foi adiado inúmeras vezes para ser lapidado e construído à perfeição trazendo uma obra sensível e aterradora que se tornou um novo divisor de águas nos estúdios.

Mesmo sendo claramente uma fábula infantil, o sexto longa do estúdio aborda temas pouco convencionais para seu público chegando a chocar por sua brutalidade em certos momentos. De uma forma sutil, o filme recupera parte das mensagens sombrias que seu autor criou trazendo aspectos profundos a trama e indagações latentes ao publico.

Antes de sermos apresentados ao protagonista, somos introduzidos à vida na floresta com suas cores vibrantes e alegres com o despertar para um novo dia. Isso nos imerge com maestria na obra e nos apresenta a identidade do filme. Quando conhecemos Bambi, abraçamos seu jeito doce e inocente e nos ligamos imediatamente à sua ternura e sensibilidade, acompanhando então seu crescimento magistral através das estações do ano que mudam o tom da narrativa.

Cada estação trás um nova mensagem. Seja pelo aprendizado sobre o perigo ou o despertar da sexualidade, tudo é pensado nos mínimos detalhes. Não é a toa que o acontecimento trágico na vida do protagonista aconteça na estação mais cruel do ano. As transições de atmosfera são tão precisas que sentimos realmente estar vivenciando aquilo, nos levando às lágrimas nos momentos necessários e aquecendo nossos corações no arco seguinte com uma sensibilidade impecável.

As cores escolhidas dialogam tão claramente com a historia que se torna um deleite acompanhar a vida na floresta. Cada estação possuindo sua paleta distinta de cores, acompanhadas pela trilha crescente que engrandece nossos sentimentos e desperta nossos sentidos. Cada uma das cenas parece um quadro pintado a mão para retratar com perfeição os cenários que querem representar.

Todo esse naturalismo entra em parafuso com a chegada do homem, onde a narrativa ganha tons sombrios e sujos, mostrando todo o caos que a presença humana pode causar. Em nenhum momento vemos algum humano no longa mas sentimos sua presença maléfica e isso acentua ainda mais nossos instintos. A crueldade perante os outros seres e a construção da aura de desastre são crescentes e introduzem um contraste crescente com toda a beleza mostrada até aqui.

O longa também apresenta alguns dos personagens mais carismáticos da Disney a começar por seu protagonista. Bambi é doce e ingênuo, trazendo um crescimento palpável e sentimentos latentes que nos conquista desde o primeiro minuto. Acompanhamos sua jornada de amadurecimento e a transformação em um futuro símbolo da floresta, assim como o seu pai que se mostra uma figura etérea que tem uma das presenças mas graciosas e imponentes da Disney.

Tambor é animado e vivaz. O coelho não consegue ficar parado no mesmo lugar e, querendo ou não, trás alguns dos melhores ensinamentos do longa. Flor é tímido e dengoso, trazendo alguns dos momentos mais fofos com sua fala arrastada que quase não sai e despertando nosso carinho logo de cara. Os dois servem como catalisadores e companheiros de Bambi e, embora fiquem separados em alguns momentos, tem um crescimento conjunto com o mesmo passando pelas diferentes etapas da juventude.

Trazendo uma história sobre amadurecimento, morte e vida, Bambi é um dos filmes mais emocionais criados pela Disney. Preciso em seus ensinamentos, o longa trouxe nosso primeiro grande choque, além do sentimento latente de perda para a infância enquanto nos imergia com maestria na beleza dramática da vida selvagem. Uma obra magnífica que deve sim ser apreciada e que mesmo depois de tantos anos ainda consegue nos emocionar como se fosse a primeira vez.

“Não faz mal. Ele pode me chamar de flor se ele quiser chamar. Eu não me importo.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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