Nota
“Agora todo mundo aperta o cinto, por que eu quero mostrar como o fim do mundo é sinistro… No bom sentido.”
Você já parou pra pensar o que aconteceria se Ferris Bueller não tivesse gazeando aula mas sim sobrevivendo a um apocalipse zumbi? Alguém pensou, pois foi assim que nasceu Daybreak. No decorrer do show vamos conhecendo Josh Wheeler, um garoto que sobreviveu quando um apocalipse zumbi atingiu Glendale, matando boa parte dos adultos e transformando os sobreviventes em Ghoulies, agora ele está tentando encontrar Sam Dean, a sua amada, enquanto vaga por uma Los Angeles tomada por zumbis e gangues, nascidas das tribos do ensino médio, numa pegada bem Mad Max. Cabe agora a Josh contar com a ajuda da psicótica Angelica Green, do filosófico Wesley Fists, do farsante Eli Cardashyan e a desmiolada Sra. Crumble.
A série criada Brad Peyton, e lançada na Netflix em 24 de Outubro de 2019, é baseada na série de HQs homônima, de Brian Ralph, e vem com todo o humor necessário para conquistar seu público, e ainda consegue melhorar mais ainda a trama com toda a carga de nostalgia e referencias, que preenche os 10 episódios da primeira temporada da série. Quebrando a quarta parede a cada cena onde Josh interage com o público, e se elevando ao quebrar mais ainda a quarta parede ao falar diretamente com o diretor e ainda ser respondido, o show da um novo tom humorístico à sobrevivência no apocalipse. O show consegue manter o tom de uma forma que até uma piada repetida, dita em todo santo episódio, sobre quem é Josh, fica engraçada em todos os momentos.
Temos agora uma cidade caótica com animais mutantes, adultos zumbificados, além das tribos: os Discípulos de Kardashia, que reúne os populares, o Clube 4-H, que reúne os defensores dos animais e do verde, os Atletas, que se transformaram em uma tribo de guerreiros barbarizados, os STEAM Punks, que reúne os nerds e geeks, além de tribos menores e menos importantes, como a tribo dos golfistas engomadinhos anarquistas, os Yung Kopps, as Cheermazons (anteriormente líderes de torcida, agora amazonas pós-apocalípticas), os Manos da Confeitaria Porto, as Periguetes de Highland Park, além dos aterrorizantes Baron Triumph e a Bruxa do Shopping, pessoas do passado de Josh que atingiram um novo patamar de ameaça após a explosão da bomba nuclear.
O show ainda mostra que não é só mais uma comédia adolescente, principalmente quando vemos a quantidade de camadas que Alyvia Alyn Lind consegue dar à Angelica, mostrando que é possivel uma atriz de 12 anos dar uma show de atuação que muitos adultos não chegam nem perto, vemos toda uma trama psiquiátrica na personagem, que nos leva a entender um pouco do seu jeito sociopata, vemos suas motivações e suas dificuldades, sua construção e sua evolução, de uma forma que ela rouba o holofote de uma forma surpreendente. Ainda assim, Colin Ford consegue manter seu protagonismo, sendo sempre bem humorado e nos guiando por uma aventura envolvente, nos fazendo amar a Sam Dean mesmo quando não a conhecemos verdadeiramente. Sophie Simnett é outro brilhantismo na atuação, conhecemos ela através dos relatos de Josh, e vemos o quanto ela consegue fazer a Sam ser tão carismática e perfeita que nos motiva a querer entrar na série e ajudar Josh a encontra-la e salva-la, mas quando ela finalmente aparece em cena, vemos uma nova Sam, muito melhor do que imaginávamos, muito mais proativa e muito mais independente, uma mocinha real e pronta para nos surpreender, no bom e no mal sentido.
Outro grande destaque no elenco é Cody Kearsley, o antagonista Turbo Pokaski, líder da tribo dos Atletas, que apesar de ter pouquíssimas falas consegue mostrar tantas camadas que alimentam o mistério por trás de suas motivações, garantindo uma evolução repentina e surpreendente, nos levando a ver muito mais humanidade por trás do valentão brutamontes do que esperávamos. O show ainda nos brinda com as participações de Matthew Broderick, fazendo o nosso amado Ferris Bueller assumir aquilo que mais odiava: Sr. Burr, o diretor antiquado e entediante.
Mas nem tudo é perfeito no decorrer da série, a produção segue com seus cinco primeiros episódios formando uma arco extremamente conciso, cativante e objetivo, nos levando ao que parece uma perfeita season finale, mais eis que vamos para “5318008” (episódio 6), onde o caos começa a surgir e a segunda metade da série, que constitui o segundo ato, se mostra muito mais confuso do que o próprio apocalipse zumbi. Todo o enredo fica confuso e perde todo o seu bom gosto, nos fazendo inclusive passar anestesiado pela cena, que deveria ser emotiva, existente em “Josh vs. the Apocalypse: Part 2” (episódio 9), mas retomando as rédeas em “FWASH-BOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOM!” (episódio 10), garantindo uma season finale que retoma os eixos e nos deixa na expectativa de uma segunda temporada.
“Quer saber como é a vida no apocalipse? Nunca é do jeito que você imagina.”
https://www.youtube.com/watch?v=fUMBd25y9wM
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.