Resenha | Enquanto Deus Não Está Olhando

Nota

Enquanto Deus não está olhando, o mundo inteiro pode mudar e você nem perceber. É o que o pai de Érica diz, internado no hospital, debilitado pelos anos de alcoolismo. Enquanto Deus não está olhando é sobre mudanças, e sobre como lidar com elas.

Érica Valentim, uma jovem pintora de 20 e poucos anos está perdida em uma difícil situação, buscando seu pai que sumiu: um pai alcoólatra, que não a compreende e nem aprova sua escolha profissional, mas que mesmo assim é amado pela filha.

No passado, Érica é uma filha preocupada pelo pai, carente de aprovação, cheia de conflitos com a figura paterna que tenta, a todo custo, agradar e ser aceita pela escolha profissional que fez , no presente com a morte do pai Érica se torna infeliz no seu emprego em uma agência qualquer de uma cidade no Nordeste, sua mãe, que alterna entre “dias ultra-atarefados” enquanto em outros “nem sequer tira a camisola, e ter duplicado a quantidade de cigarros diários…” sentindo-se uma pessoa errada, quebrada. Com a vida atordoada com problemas financeiros e um romance incerto.

Com a indefinição sobre o futuro, se cria a sensação de não está fazendo o bastante. Érica, com a perda, reavalia o que quer. Ou melhor, desiste traumaticamente do seu sonhado ateliê e se vê sem perspectiva, sem vontade de continuar seus trabalhos, sem ideia do que gostaria de estar fazendo. Um sentimento que percebo não só em mim mesma, em alguns momentos, mas em várias pessoas, essa urgência pela estabilidade e pelo sucesso, difícil de alcançar enquanto queremos ter tudo ao mesmo tempo, e lidando com os objetivos e sonhos para nós criados pelos dos nossos pais.

O livro de Débora Ferraz teve um prêmio mais que merecido, sem dúvidas é um livro que todos deveriam ter a oportunidade de ler. De um modo modo, sem linearidade objetiva e, por isso mesmo, com bastante verossimilhança psicológica, que o romance de Débora Ferraz trata de duas partidas que se relacionam e se misturam o tempo inteiro, e que se reconfiguram conforme o avanço das três partes do romance.

Recriando dores, Débora Ferraz prende você ao livro, fazendo você viajar pelo seu psicológico e no da personagem, trazendo uma reflexão incrivelmente necessária. O livro possui uma leitura fácil e intrigante, daquelas que você quer ler assiduamente, porém existem momentos em que se é preciso respirar e se permitir entender as entrelinhas.
Com um suspense e romance, ela da voz e angústias, encontros e desencontros, humanizando a personagem.