Crítica | Deixe a Neve Cair (Let It Snow)

Nota
3

“Às vezes, a neve pode só atrapalhar. Mas é linda e mágica e acredite um pouquinho de neve pode fazer uma grande diferença, mesmo que você ainda não saiba”

Depois de muita espera, finalmente temos uma adaptação do romance, de 2008, Deixe a Neve Cair. Co-escrito (Isso mesmo, Co-escrito! Há outros autores na obra além do John Green, viu dona Netflix?) por Maureen Johnson (Expresso Jubileu), John Green (Um Milagre da Torcida de Natal) e Lauren Myracle (O Santo Padroeiro dos Porcos), e seguindo uma premissa de Natal, o livro  conta três histórias (Já citadas acima) que se passam numa cidadezinha da Carolina do Norte, que está vivenciando uma temporada pesada de neve. O interessante do livro é ver como as três histórias se interligam durante a narrativa, mostrando os personagens dos três autores se encontrando e até interagindo, porém cada um tendo sua própria experiencia na neve.

A adaptação da Netflix tinha uma difícil tarefa pela frente: como contar três histórias, dando um tempo de tela necessário, sem tornar o filme longo ou cansativo demais? Infelizmente a inexperiência do roteirista Luke Snellin, que assume como diretor, foi o principal ponto negativo do filme, fez com que não houvesse uma divisão igualitária de tempo de tela para os atores, principalmente os protagonistas de O Santo Padroeiro dos Porcos que, de todos, sinto que eles foram os mais negligenciados pelo roteiro e direção. A direção de Luke Snellin não é totalmente ruim, ela é morna e sem muito atrativo, porém em certos momentos ele se destaca, o diretor principiante ainda não tem uma marca registrada na sua direção, mas se compromete,  usando muitos closes nos atores, dando nuance às suas emoções, e usando planos abertos que mostram a exuberância da neve e, devo destacar como amante de neve, com enquadramentos que dão vontade de fazer um quadro, de tão belas que são.

Expresso Jubileu e O Milagre da Torcida de Natal acabaram por receber a maior parte dos holofotes, talvez por conta da popularidade dos atores envolvido, o que faz com que Let it Snow não seja tão esquecível, se fortalecendo por contar com um elenco de peso. Reunidos de franquias de sucesso, temos o longa se apoiando no elenco formado por Isabela Merced (Dora e a Cidade Perdida), Shameik Moore (Homem-Aranha no Aranhaverso), Odeya Rush (Dumplin’), Liv Hewson (Santa Clarita Diet), Mitchell Hope (Descendentes), Kiernan Shipka (O Mundo Sombrio de Sabrina), Jacob Batalon (Homem-Aranha: Longe de Casa) e Joan Cusack (Toy Story 4), o que ajuda, e muito, a segurar seu público alvo,  unindo o carisma do elenco com sua popularidade para se projetar.

 

O roteiro escrito por Laura Solon (A Última Ressaca do Ano), Victoria Strouse (Procurando Dory) e Kay Cannon (A Escolha Perfeita) é a maior forma de mostrar que quem disse que três cabeças pensam melhor deveria repensar o conceito em Let it Snow. O longa deixa claro que muita mão no roteiro desgastou certos personagens, acertando em certos momentos mas, em outros, inundando a tela com uma bagunça de pontos de vista. Considerando a obra base, ficou dificil entender o que feito ao Tobin, personagem de Mitchel Hope, que já não tem muita profundidade no seu conto, que não é o mais atrativo dos três, mas consegue ser divertido, sarcástico e mulherengo, porém no filme ele se torna morno, morto e sem sal, ele mal tem expressão, fazendo com que, mesmo que você não tenha lido o livro, seu personagem se torne esquecível apesar de o roteiro dar holofote à sua história. Fica claro a falha no roteiro quando consideramos o currículo do ator, que na pele do príncipe/rei de Auradon se sai muito bem.

Mas não é só de erros que vive esse filme. Como já foi dito, o elenco consegue manter o carisma e passar jovialidade, sem contar que algumas mudanças no roteiro original vieram muito a calhar, como a mudança de sexualidade de Dorrie, personagem de Liv Hewson, no conto O Santo Padroeiro dos Porcos, nesse quesito eu parabenizo os roteiristas, apesar de ela sofrer com o roteiro apressado, algo que é compensado pela atriz, que consegue aproveitar bem seu pouco para brilhar. Outra das mudanças que ajudou muito o filme foi o plot dado a mãe protagonista do conto Expresso Jubileu.

Isabela Merced é outro destaque na atuação, é possivel ver a indecisão de Julie em seguir seu sonho, e cogitar desistir dele por conta da condição de sua mãe, algo muito bem abordado, apesar de eu ser suspeito para falar já que o Expresso Jubileu é meu conto favorito. A mudança do plot de Stuart, personagem de Shameik Moore, não acrescenta muito ao personagem, mas é compensado por conta do carisma e voz de seu interprete, que deixa claro que mesmo ele não sendo o Stuart do livro, ele ainda tem a essência do personagem. Outros pontos positivos do longa são o humor do filme, que traz piadas num timing certeiro, o que faz parecer que tem o dedo de John Green no roteiro, e a trilha, com músicas como Future Looks Good (OneRepublic), Perfect Places (Lorde) e Castle on the Hill (Ed. Sheeran).

Deixe a Neve Cair pode ser irregular, mas ainda assim cativa e nos diverte com boas piadas e um clima de natal gostoso, trazendo aquela sentimento típico daqueles filmes da Sessão da Tarde dos anos 2000. Para quem gosta de passar o natal assistindo filmes natalinos, Deixe a Neve Cair é uma ótima pedida.

“Viu eu não te falei? A neve pode fazer diferença, especialmente na véspera de Natal. E as vezes não é só na véspera de Natal, é na véspera de tudo, na véspera do resto de sua vida. Então, mesmo que a neve te deixe encalhado ou preso numa vala, ou te faça cair de bunda no chão, as vezes só é preciso que você deixe a neve cair”

 

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Álvaro de Campos. Sou Recifense, aspirante a professor, leitor ávido de mitologia greco-romana, estudante de grego e latim. Escritor e as vezes poeta. O que mais gosto na literatura? O poder dela de tirar alguém de um ponto e levar ao outro, e a cada página você já não é o mesmo.... Isso é Apoteótico.

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