Resenha | Quem É Você Alasca?

Nota
4.5

“Se as pessoas fossem chuva, eu seria garoa e ela, um furacão.”

Miles Halter não tem nada de especial apenas uma paixão ardente por últimas palavras. Capaz de citar sem pestanejar as frases célebres de pessoas que fizeram história, o garoto está cansado de sua vidinha segura e tediosa e, como está prestes a ingressar no último ano do colegial, decide ir em busca do Grande Talvez.

Para isso, ele decide mudar de escola, abandonar o conforto de seu lar e começar do zero, onde ninguém o conhece a ponto de ele poder ser uma nova versão de si. Mas, muitas coisas o aguardam em Culver Creek, coisas pela qual ele não esperava. Um novo amigo, um novo grupo, uma nova comida favorita… e Alasca Young.

Inteligente, espirituosas, problemática e extremamente sensual, Alasca é uma eterna incógnita para Miles. Hipnotizado pela caótica garota, o rapaz vê nela tudo que um dia quis em alguém. Exceto por um detalhe… ela é comprometida e parece apenas brincar com seus sentimentos. Descobrir a verdadeira Alasca se tornou uma obsessão de Miles, o transportando para um labirinto imprevisível que culminará em uma jornada empolgante repleta de primeiras e últimas vezes…

Após alguns fracassos e um constante sentimento de falha, John Green decidiu usar sua última carta na manga: escrevendo por uma de suas paixões secretas e encarando com maestria a confusão da adolescência, o autor decidiu apostar todas suas fichas em uma história sobre amadurecimento e últimas palavras. Eis que surge Quem é você Alasca? Primeiro livro do autor que introduziu com maestria sua escrita para o mundo infanto-juvenil.

Dividido em dois tempos, o livro começa uma contagem regressiva que cria uma vertente interessante e instiga nossa curiosidade para qual evento divide o antes e o depois da trama. Quase transitando em diferentes tons e cores, acompanhamos o dia-a-dia dos personagens, comemorando suas vitorias e nos desesperando com suas derrotas diárias, com toda maestria que um bom texto pode ter.

Focando nos sentimentos conflitantes da adolescência, Green transcreve um dos momentos mais confusos e perturbados da vida. Trazendo questionamentos sociais e assunto ainda mais pesados de uma maneira coesa e envolvente, que dialoga com seu leitor e nos convida a vivência tais assuntos de maneira crua e, as vezes, até bastante cruel. Do mesmo modo que o livro utiliza seu espelho social para falar de certos tabus (como drogas, sexo e depressão), ele leva certas decisões ao extremo, se mostrando leviano em muitos aspectos.

A prova viva é o irritante Miles. No inicio da trama, o personagem se mostra extremamente apático e de mal com o mundo, trazendo muitas visões deturpadas de seu ponto de vista sobre determinado assunto ou coisa, o que nos limita e nos embarca em algumas partes bem chatas da trama. Gordo, como fica conhecido, se mostra imaturo e esquecível em muitos pontos, mas acaba tendo um crescimento durante a trama. Sua “estranheza” e suas vontades do que é certo ou errado são logo colocadas de lado, trazendo certos limites questionáveis com a justificativa de ser decisões de adolescente.

Coronel se mostra mais interessante. Carismático, mandão e extremamente fiel a seus amigos, o bolsista odeia com todas suas forças os filhinhos de papai da escola. Mesmo sendo um dos mais populares, e o rei das pegadinhas, o garoto procura afastar suas duas vidas, além de levantar questões precisas sobre diferenças de classes e gratidão, mesmo que com pouco. Mas, mesmo ele não está isento de ter seus defeitos. O rapaz vive um relacionamento tóxico que nos faz torcer o nariz e desaprovar com vigor suas atitudes, que apenas se mostram prejudiciais para ambos.

E temos Alasca. Alasca é quebrada, doente e extremamente carismática, podendo te tratar como um príncipe em um momento e ser uma megera no seguinte. Nunca entendemos direito sua real intenção e de fato nunca chegamos a conhecer verdadeiramente a Alasca como ela é. Desvendar seu mistério é uma das graças do livro, descobrir seus segredos e acompanhar suas mudanças se torna estranhamente interessante, a ponto de nos prender em seu jogo e nos cativar com sua aura. É nas entrelinhas que ela nos conta sua história, nos mostrando pedaços do seu ser e trazendo encaixes de um longo quebra-cabeça que condiz com seu sorriso de Mona Lisa.

A edição da Intrínseca mostra toda sua desenvoltura ao nos entregar uma capa tão enigmática quanto a própria Alasca. Com paginas amareladas, e uma ótima tipografia, o livro se mostra um conforto textual de um trabalho bem pensado para nos fazer viajar em meio a toda turbulência que esta por vir.

Envolvente e doloroso, Quem é você Alasca? Mostra o quão sofrível é crescer. Trazendo uma trama madura sobre assuntos pesados, o livro consegue nos emocionar e questionar o caos adolescente que pode ser confrontado com serias perguntas que poucos adultos teriam respostas. Em meio a um labirinto de incertezas, e com as marcas dos nossos atos, o livro nos convida a encontrar o nosso futuro e, quem sabe, o grande talvez no meio do caminho.

“Passamos a vida inteira no labirinto,
perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em quanto será legal.
Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos
nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Única

Nome: Quem É Você Alasca?

Autor: John Green

Editora: Intrínseca

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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