Crítica | O Juízo

Nota
3

Transportando-nos para uma produção temporal ambientada na época dos escravos, Andrucha Waddington tem a chance de ter uma estréia marcante no suspense voltado para o segmento sobrenatural, contando ainda com o apoio da atriz Fernanda Torres, que é sua esposa e assume o roteiro da produção, e o investimento em um elenco de peso, cheio de nomes bastante conhecidos.

Com um enredo que traz uma vaga lembrança de O Illuminado, o longa se inicia com Augusto (Felipe Camargo), seu protagonista, perdendo todos os seus bens por causa do alcoolismo,  e sendo obrigado a se mudar com sua esposa, Tereza (Carol Castro), e o seu filho, Marinho (Joaquim Torres Waddington), para as terras deixadas de heranças por seu avô. Sem as informações históricas sobre o local, Augusto mal sabe que sua tentativa de recomeço será num lugar onde houve bastante derramamento de sangue. O local é a cena do assassinato do escravo Couraça (Criolo) e sua filha, Ana (Kênia Barbara), traídos pelo antigo dono do casarão. Hoje seus espíritos vagam pelas terras silenciosas, sem terem encontrado a passagem para a luz, onde poderiam descansar na paz eterna.

No desatinar da história, o protagonista é seduzido à ganância, que o leva a esconder todas as informações de sua família. O protagonista compartilha suas descobertas apenas com o ourives Costa Breves (Lima Duarte), até que sua irmã surge em cena: a médium Marta Amarantes (Fernanda Montenegro), que segue Augusto e se envolve em um acidente, o que impede a mulher de contar a Augusto, seu irmão, sobre sua visão, que traz informações transmitidas através do plano espiritual.

Fazendo a utilização do ambiente ao seu favor, a produção soube explorar todos os recursos naturais que a região fornecia, com as filmagens ocorrendo em meio a floresta fechada, cachoeiras, trilhas e pedras. O casarão foi a escolha de cenário perfeita para desenvolver uma trama espiritual, por exalar suspense no ar e possuir um aspecto de local antigo, brumoso, com ausência de iluminação.

Em contrapartida, a história do longa parece, em certos momentos, ser inspirada em algumas temporadas de American Horror Story, utilizando aquele clichê de “as pessoas que faleceram nesse lugar, tiveram suas almas interligadas ou mantidas naquele ambiente” como base para o roteiro. Não é que isso seja um ponto negativo, mas, para aqueles que acompanham o seriado americano ou outras tramas semelhantes, isso pode soar como mais um clichê.

Já em se tratando da fotografia, a produção soube trabalhar de forma sincronizada com o ritmo de tensão que filme carrega, mesmo que, em algumas partes, isso mostre falhas que impedem o longa de entregar o suspense que determinada cena precisa. Trabalhando em uma escala de uma coloração fria, com a ausência de saturação, alternando entre tons de verde e azul, a produção traz um destaque maior para os elementos naturais presente no ambiente.

Se você pretender assistir “O Juízo” buscando um terror com jump scares, irá sair decepcionado da sala de cinema, mesmo que o marketing do filme tenha passado a mensagem de que esse fosse o caminho que o longa iria seguir. Porém, como uma ferramenta de suspense histórico, o filme funciona perfeitamente bem, conseguindo lhe prender na cadeira pela curiosidade do que o roteiro entrega.

 

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