Resenha | O Homem de Giz

Nota
5

“Abro o envelope que recebi pela manhã e volto a examinar o conteúdo. Não há nada escrito, no entanto a mensagem é muito clara. Um homem-palito com um laço ao redor do pescoço.”

Em 1986, Eddie Adams vivia uma vida normal de um garoto de doze anos. Eddie Monstro, como era chamado por sua ‘gangue’, se divertia todos os dias ao lado de Gav GordoHoppoMickey MetalNicky, até o dia em que o balde de giz apareceu nas suas vidas, um balde que fez eles começarem a desenhar bonecos de palito, bonecos que pareciam ter ganhado vida e começado a matar. Em 2016, Eddie se tornou um professor e deixou para trás o pesadelo que viveu com seus amigos a trinta anos atrás, mas um certo dia tudo volta, no dia em que Mickey volta a cidade uma carta surge em sua porta, um papel com nada além do desenho de um boneco de palito enforcado, um anuncio para mais uma morte, um aviso que o pesadelo está prestes a recomeçar.

Agora, Eddie precisa se reunir com seus velhos amigos e reviver o que passaram em 1986, por que só assim ele poderá descobrir quem era o assassino que usou aquela amizade para matar, quem era a figura que desvendou o código dos bonecos de palito e, com um giz branco, começou a mandar mensagens para aquelas crianças de assassinatos que estava cometendo. Quem matou Mickey? Quem matou Sean? Quem matou Murphy? Quem era o assassino do passado? Quem é o assassino no presente? Quais segredos por trás da chegada do Sr. Halloran? Qual o segredo do Homem Palido? Mesmo trinta anos depois, Eddie segue sendo aquela criança que é a chave para solucionar uma série de assassinatos e, ao mesmo tempo, é o culpado por uma série de erros que levou um inocente a ser culpado e um assassino brutal a ser deixado impune, agora que o assassino voltou a ativa, será Eddie capaz de reunir seus velhos amigos e solucionar esse mistério do qual ele é tão culpado?

“- E tem mais.
– O quê?
[…]
– Eu sei quem a matou.”

A escrita de C.J. Tudor deixa toda a trama ainda mais intensa. Somos jogados entre presente e passado para entender o que aconteceu com o grupo e o que estamos vendo no presente, e a melhor parte dessa história é que a autora não nos poupa do sofrimento hora nenhuma. Desde o primeiro momento que chegamos a 2016, temos todos os fatos de 1986 sendo jogados na nossa cara sem o entendimento perfeito, a autora não se limita a citar os fatos depois que vemos o que aconteceu em 1986, desde o inicio sabemos que o assassino desapareceu após a morte da garota, mas ficamos sendo torturados ao não sabermos quem é a garota e, principalmente, ao não sabermos o paradeiro de Nicky, o que nos faz o tempo ficar sem saber se a garota que foi assassina é a Nicky ou é outra garota.

Logo de cara a autora nos mostra a que veio quando nos faz presenciar o tenebroso incidente do parque, nos traumatizando junto a Eddie quando o Twister cai, nos fazendo sentir a dor da Garota do Twister quando o brinquedo cai encima dela, nos fazendo sentir a agonia de presenciar o brinquedo dilacerando o lindo rosto da garota, nos levando a sentir o medo de Eddie ao encarar aquela cena e ver a perna pendurada da garota, o medo do garoto ao sentir a mão lhe tocar e aquele olhar de desespero da garota a beira da morte pedindo ajuda. Tudor deixa claro que o mundo é brutal, e que esse livro não vai te poupar disso, ela joga Elisa na trama de uma forma tão simples que não sabemos se ela vai ser importante na trama, mas logo descobrimos que sua existência causa um impacto latente e gigantesco na trama, ela muda Eddie, ela muda o Sr Halloran, e nos deixa preparados para conhecer O Homem de Giz, o assassino serial criado pelo imaginário da cidade e projetado em cima de um inocente, que passa a ser bestificado pela imprensa durante os anos. Apenas aquele garoto de 12 anos sabe da sua inocência, apenas um garoto de 12 anos poderia ter inocentado aquele pobre homem, e apenas o homem de 42 anos pode contar a verdade.

“A verdade tem o hábito de simplesmente ser a verdade. A única escolha que temos é a de acreditar ou não nela.”

Com uma trama que nos lembra, e muito, toda a trama de A Coisa, vemos o livro beber bastante em King e nos jogar numa nova cidadezinha pacata que esconde um segredo gigantesco, um segredo que precisa vir a tona para salvar dezenas de vidas, ou que pode seguir abafado para não destruir algumas outras vidas. É impossível ver aqueles garotos andando de bicicleta pelas ruas da vizinhança e aqueles homenzinhos de giz rabiscados no asfalto e não lembrar do Losers Club, mas Tudor não precisa de uma força sobrenatural para assombrar sua cidadezinha, a autora escolhe um monstro real, de carne e osso, para destruir a inocência daquela vizinhança. Vemos a forma como os homens de giz ganham vida sob as mãos do giz branco, o mistério por trás da identidade do assassino e uma trama que nos leva até a chocante morte daquela garota, e a triste aparição dos bonecos de palito que apontam para as peças desmembradas daquele corpo. Tudor é majestosa, criando personagens meticulosamente bem construídos, mistérios que nos fazem parar de respirar e reviravoltas que pegam até os leitores mais experientes de surpresa.

Com uma maravilhosa edição em capa dura, a Intrínseca reflete a dureza da história que veio contar. Com uma capa simplista, a edição deixa claro que o mistério vai ser o principal guia da trama, somos apresentados apenas ao boneco palito enforcado que Eddie recebe, com uma capa suja de giz e seus elementos desenhados a giz, tudo fica extremamente literal e realista assim como a trama de Tudor, e tudo é impulsionado ainda mais pela maravilhosa lombada que expõe apenas milhares de homens-palito de giz branco, nos levando diretamente para uma das cenas de crime do assassino que habita dentro das paginas da obra. A melhor parte da obra é com toda a certeza sua conclusão, no momento em que vemos a revelação dos crimes, como aconteceram, quem os cometeu, tudo se encaixa tão perfeitamente que toda a mitologia por trás do assassino é quebrada de uma forma majestosa, mostrando que monstros podem ser reais, mas eles são de carne e osso como nós, e que se olharmos de uma perspectiva diferente, eles não são tão implacáveis e imbatíveis como projetamos em nosso imaginário.

“As vezes, Ed, é melhor não saber todas as respostas.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: O Homem de Giz

Autor: C.J. Tudor

Editora: Intrínseca

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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