Nota
“Vim aqui para lhe falar sobre hoje, John. Hoje minha criança vai nascer no seu mundo.”
John é o único Catalogador existente no Refúgio, uma ilha localizada entre dimensões, e um grande amigo de Mãe Eva, mais conhecida como a primeira mulher e antiga companheira de Adão, o primeiro homem. Durante uma conversa com sua amiga, John descobre que está prestes a receber uma missão, acolher a filha de Eva, uma garota de 5 anos chamada Lilly Fields, uma humana que veio da terra predestinada a ser a Testemunha dos Inícios, que será guiada por Mãe Eva para ver toda a história da criação, desde o momento que Adonai criou a terra, conhecendo o nascimento de Adão e toda a história que ronda o Jardim do Éden.
Lilly surge no Refúgio de uma maneira trágica, ela chega dentro de uma caixa cheia de meninas mortas, cada uma sinalizada com o nome de um país, sendo a única sobrevivente, mesmo que seu corpo esteja completamente destruído. Egito, como estava sinalizada na caixa, acaba sendo encontrada por John e precisa ter seu corpo reconstruído com as partes dos outros corpos encontrados na caixa, o que demanda que John reúna as habilidades de Curadores, Reparadores, Técnicos, Construtores, Desenvolvedores, Ajustadores, Mensageiros, Pensadores, Videntes, Sábios, Cozinheiros, Tecelões, Cuidadoras, Cronometristas, Ranhetas, e até dos Invisíveis.
“Uma testemunha é alguém escolhido para um propósito divino: ela deve observar Deus em ação e depois relatar o que viu.”
O decorrer da história segue arrastado por várias páginas, só começando a se desenrolar de uma forma verdadeiramente satisfatória depois da página 120, quando chegamos ao Cofre e passamos a conhecer mais sobre o passado de Lilly e entender seus testemunhos, ao mesmo tempo que revemos de forma bem superficial tudo que se passou até agora. É incrível como só quando os Registros começam a serem feitos que a trama começa a se tornar mais concreta, deixando a estória muito mais reflexiva e nos levando a conhecer mais a fundo Anita, Gerald e Simon, os três sábios que passam a acompanhar a garota, nos apresentando Han-El, um anjo que surge como protetor de John e guia de Lilly, e nos levando a, junto com a garota, tentar entender as ações da Serpente e os poderes da Machiara.
William Paul Young dispensa apresentações, o autor já fez sucesso ao lançar o lendário A Cabana e também já se consolidou na literatura mundial com seus livros que misturam ficção e a temática religiosa. Eva é o seu terceiro lançamento (se desconsiderarmos os livros derivados de A Cabana), mas, apesar de o autor já ser um sucesso consolidado, ele parece não ter tido o mesmo impacto que seus antecessores, o livro é profundo, extremamente reflexivo, e transforma Lilly, sua protagonista, em uma professora para todos nós, mas ele se arrasta demais em seu enredo, evoluindo sua protagonista muito devagar e deixando a verdadeira transformação só para perto do final.
“Você entende? Eu não passei por uma tragédia, Eu sou a tragédia!”
É impossível negar que a obra seja uma grande oportunidade de refletir sobre nossos erros e perceber que, mesmo que estejamos completamente destroçados, perdidos e confusos, podemos nos conectar novamente com Deus e nos curar de todo o mal que nos aflige, no caso de Lilly a escuridão entra mais profundamente em sua vida, vemos o quanto ela parece ter sido esquecida pelo divino ao mesmo tempo que é presenteada com uma grande oportunidade. A maior falha do livro é justamente essa vagarosidade, a mensagem está ali, mas ela é exposta de uma forma confusa, que nos faz ficar completamente perdidos com a trama antes de realmente entender o que William quer falar, ele nos faz ver Lilly como uma vítima antes de realmente mostrar todo o mal que existe nela, ele usa Simon para nos fazer duvidar do que realmente é bom e mal, ele usa John para nos confortar com o imprevisível e não nos deixar ver o que realmente está prestes a acontecer, ele usa Anita e Gerald para nos fazer duvidar, querer entender o que realmente todos esses homens querem com essa garota, ele usa Han-El para nos limitar, colocar sua presença angelical para impedir Lilly de agir e nos mostrar qual seu verdadeiro poder, nos deixando mais ansiosos, e ele usa Letty para nos fazer refletir, ver que a verdade as vezes se encontra nos lugares mais imprevistos.
Lançado no Brasil pela Editora Arqueiro, a obra traz toda aquela graça que esperamos de um livro de William P. Young, sua capa pega o mesmo conceito da capa americana, uma bela e reluzente maçã vermelha que nos remete imediatamente ao Jardim do Éden, mas a editora vai além, mudando sua capa. Seu nome é direto no tema do livro, ele deixa claro quem vai ser a protagonista da história, vemos que teremos mulheres em foco e teremos uma nova versão do que sempre conhecemos da história do Jardim do Éden, uma versão onde Eva tem voz e acaba tendo uma grande importância para a história da criação, mesmo que no geral estejamos ‘testemunhando’ a mesma história que sempre conhecemos. Já a iconografia da capa, dá mais brilho à maçã, enquanto a capa americana parece mostrar uma maçã perdida no meio de uma árvore, a capa nacional mostra uma maçã reluzente em um ramo, uma maçã que chama você, para come-la, para devora-la, para lê-la, mesmo que fique claro no livro que o Fruto Proibido não era uma maçã.
“Lilly é uma garotinha que morreu muito tempo atrás, uma menina fraca, quebrada e impotente que merece descansar em paz. É hora de criar uma nova realidade para mim mesma, me dar um novo nome e um novo destino. Então, escolho ser Lilith.”
Ficha Técnica |
Livro Único Nome: Eva Autor: William P. Young Editora: Arqueiro |
Skoob |
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.