Nota
Hugo (Guilherme Prates) é um jovem motoqueiro que deseja fazer parte do grupo de motocross do seu irmão mais velho (Emílio Dantas). Decidido, ele rouba algumas peças para que possa montar sua motocicleta e se junta a turma que, em busca de aventura, acaba fazendo uma trilha em um local proibido e cercado por belezas naturais. Mas a atmosfera de tranquilidade é transformada em medo e morte.
Desde a primeira divulgação do cartaz, assim como o anúncio da exibição de “Motorrad” no Festival de Toronto, especulava-se que o novo longa de Vicente Amorim revolucionaria o conceito “filme de gênero” da sétima arte brasileira – principalmente por apresentar um material com características de road movie mescladas ao terror ou “slasher movie”, na qual situações de barbárie e pânico seriam carro-chefe da tensão esperada pelo público –. Porém, a produção, infelizmente, acabou se tornando uma tentativa frustrada de elevar o gênero terror do cinema nacional a um posto avançado, cujo visível potencial fora drasticamente desperdiçado.
O cinema nacional vem demonstrando interesse em produzir longas-metragens de gêneros variados, como os recentes e aclamados filmes de terror “O Caseiro” (2016, Julio Santi) e “Quando eu Era Vivo” (2014, Marco Dutra), provando, assim, eficiência em aproveitar uma atmosfera digna de produções de horror para desenvolver uma boa história. Todavia, o problema principal de “Motorrad” não é desprover de uma premissa louvável ou um roteiro inteligente e bem conduzido pela direção, e sim utilizar de elementos fundamentais para a criação de uma boa atmosfera de terror para entregar nada além de um slasher movie que deseja, a qualquer custo, ser levado a sério.
São as tentativas frustradas de “Motorrad” para se tornar um filme grandioso que tiram toda a essência e potencial de uma produção que teria um melhor resultado aceitando suas condições slasher e gore. No longa dirigido por Vicente Amorim, que também assina o roteiro ao lado de L.G. Bayão e L.G. Tubaltini Jr., apesar do notável esforço do cineasta, há um trabalho de direção confuso, desprovido de rumo e identidade. As cenas de perseguição variam de extremamente tremidas, na qual mal consegue-se notar o que está acontecendo durante o momento, para planos em slow motion bregas e sem qualquer pretensão em focar nos detalhes de uma cena que exibe uma direção de fotografia com potencial, mas acaba estragando a si própria.
Falando na cinematografia, nas mãos de Gustavo Hadba, a aposta no filtro pouco saturado conseguiu ser um acerto para atribuir um cenário mais obscuro e isolado a “Motorrad”, o que se encaixa perfeitamente na cena inicial do longa – sendo este, talvez, o único momento louvável do filme -. Mas, com o decorrer do filme, tal característica parece ser esquecida devido aos, inicialmente bonitos, porém repetitivos, planos abertos e médios que estão lá para revelar uma ampla paisagem e raros momentos nítidos de corrida e, principalmente, apresentar os 4 motoqueiros psicopatas que causam o terror nos protagonistas, vilões estes que são constantemente revelados exibindo poses estilo séries de tokusatsu dos anos 70, porém de maneira absurdamente sofrível.
Sobre os personagens de “Motorrad”, não há muito o que ser falado a não ser a total falta de simpatia com os protagonistas (que tratam situações de tensão com uma quase despreocupação), ou a ausência tensão por parte dos assassinos, o que se torna elemento principal da pobreza do longa-metragem. Tentativas de explorar um personagem suspeito entre os mocinhos é extremamente falha, assim como as relações entre irmãos e melhores amigos, que nada demonstra a não ser diálogos igualmente pobres. O elenco também não contribui com muita coisa: os jovens talentos de Guilherme Prates e Carla Salle parecem estar perdidos e desconfortáveis com o longa, assim como os demais membros da equipe. O único ator que parece se dedicar verdadeiramente ao papel é Emílio Dantas, que interpreta o irmão mais velho do personagem principal, sabendo equilibrar o espírito de aventura e a consciência do perigo.
Brega como um slasher movie, mas insistente em distanciar do estilo que melhor lhe cairia ao acrescentar irregularidades em excesso ou deixar de lado elementos importantes para contribuir com um bom resultado, “Motorrad” é mais um exemplo de potencial desperdiçado.
Lucas Rigaud
Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.