Resenha | A Metade Sombria

Nota
5

“Os pardais estão voando novamente…”

Thaddeus Beaumont nunca foi um sucesso de vendas. Embora elogiado pela crítica, seus livros nunca chamaram atenção, entretanto as obras de George Stark, seu pseudônimo, são um sucesso incomparáveis. Brutais e repletas de uma crueldade insana, os livros de sua outra metade acarretou uma legião de fãs e elogios incomparáveis, mas a fama tem seu preço.

Após ter seu segredo descoberto e serem chantageados por isso, Thad e sua esposa, Liz, decidem por um fim na jornada de Stark, figurativamente enterrando o pseudônimo em um pequeno cemitério em Castle Rock, no Maine, ato que ambos encaram com um certo alivio. Afinal, manter Stark ativo não era nada agradável, principalmente por ele ser um cara não muito legal…

O que eles não esperavam é que Stark fosse ressurgir do túmulo, voltando de sua pós vida para caçar os responsáveis por seu desaparecimento repentino. Coisas estranhas e brutais começam a acontecer às pessoas ligadas à morte teatral do escritor, mas, estranhamente, todas as provas dos crimes apontam para um único suspeito: Thad Beaumont.

Enquanto tenta provar sua inocência e encarar um medo visceral, Thad se depara com traumas passados, encarando uma questão fora do comum que beira a uma jornada digna dos seus piores pesadelos. Ele pode até ter acreditado que Stark assinou suas ultimas palavras, mas está prestes a descobrir que metades obscuras não desaparecem com tanta facilidade.

Algumas histórias são tão perturbadoras que permanecem conosco mesmo depois do fim de sua jornada. São aquelas que mexem tão profundamente com nosso psicológico que se torna impossível largar, mesmo que isso venha a lhe fazer um bem tremendo. Stephen King é um dos mestres em escrever historias assim, que nos agarram pelo colarinho e nos sacodem, sem que consigamos soltar as páginas que nos prendem com tanto afinco.

Após anos longe das estantes nacionais, sendo vendido sorrateiramente (por preços exorbitantes nos sebos por ai), A Metade Sombria ressurge como um demônio pós túmulo que se recusa a deixar de existir. O clássico de King pode voltar finalmente às nossas mãos e recontar sua história macabra, que nos prende do inicio ao fim. O autor usa como base toda frustração que sentiu ao se ver obrigado a revelar seu pseudônimo para o mundo, abrindo mão dos textos brutais de Richard Bachman. Os sentimentos confusos se mostraram um terreno fértil que germinou de um simples princípio: e se Richard se recusasse a desaparecer?

A estranheza começa logo nas primeiras páginas, trazendo um pequeno Thad que tem fortes dores de cabeça durante a adolescência, a ponto de desmaiar em uma ocasião e ser socorrido por isso. Tais dores, que se revelam um tumor cerebral, vem acompanhadas pelo fantasma de um som que só ele conseguia ouvir: o trinado distante de mil pardais. A cirurgia ocorrida logo no início da trama trás uma das cenas mais bizarras que há li, nos mostrando logo no princípio que algo grandioso estava por vir.

A trama empolgante, repleta de facetas sinistras, vai nos conduzindo com maestria e nos deixando arrepiados em suas crescentes. Além de abordar todo o caos deixado na vida de Thad, o livro consegue explorar com maestria um ser humano que precisa encarar a encarnação de sua face mais sombria, criando questionamentos interessantes para a construção de ambos.

Não é de hoje que sabemos que King tem um dom ao escrever seus personagens, encarando bem as ambições e dilemas humanos enquanto os mistura com sua trama sobrenatural. Aqui, temos quatro destaques distintos que nos conquistam desde sua primeira aparição.

Thad e sua contraparte, George, são extremos opostos que se completam magistralmente. Tudo o que se torna marcante em um é construído de modo inverso no outro, trazendo semelhanças nas diferenças de uma maneira perturbadora. Encarar o jogo entre os dois é fascinante, e a forte ligação entre eles vai se tornando maior a cada nova página, trazendo um renovado interesse ao leitor. Como escapar de alguém que te conhece profundamente até nos seus pensamentos mais sombrios?

Liz está longe de ser uma mocinha indefesa. A Sra. Beaumont tem garras poderosas e não tem vergonha nenhuma em mostra-las quando precisa salvar sua família. Inteligente, perspicaz e bem centrada, ela consegue encontrar um norte em meio a todo o caos que sua vida se tornou. O Xerife Alan Pangborn, velho conhecido dos fãs de King, faz aqui sua primeira aparição. O Xerife tomou posse do cargo após seu antecessor morrer ao enfrentar o famoso cão raivoso que aterrorizou a cidade.

Alan acredita nas leis e nos fatos, mas suas convicções são postas em xeque quando tudo parece apontar para um dado impossível que nem mesmo a lei consegue explicar. Acompanhar seu dilema pessoal e sua fuga do convencional é um verdadeiro deleite, mostrando uma vertente que King sempre soube explorar com maestria – A quebra do cotidiano humano em algo sobrenatural.

Relançado no brilhante selo Biblioteca Stephen King, o livro apresenta uma nova roupagem, uma nova revisão e conteúdos adicionais que amaciam o ego dos fãs do autor. A capa dura, com alto relevo na famosa lápide de George, dá um pequeno gosto do que está por vir. É preciso falar que a Suma vem fazendo um trabalho primoroso com suas obras, resgatando livros esgotados e nos presenteando com edições magníficas que melhoram ainda mais o embarque nos maravilhosos enredos. Só nos resta agradecer o cuidado e dedicação que a editora tem com seus leitores e seu produtos, que a cada nova edição de mostra uma melhora crescente e magnífica.

Repleto de ligações a outras obras do autor e extremamente brutal em seu conteúdo, A Metade Negra é uma obra avassaladora que nos faz encarar nossos piores pesadelos ao encontrarmos nossa pior parte. Cheio de reviravoltas e um terror crescente, o livro nos envolve e nos transforma e, assim como George Stark, se recusa a partir depois do seu derradeiro fim. Uma obra fascinante que merece todos os elogios que lhe foram concedidos.

“Mas regras foram feitas para serem quebradas. O raio às vezes cai duas vezes no mesmo lugar, e de tempos em tempos, em cidades pequenas, acontecem assassinatos que não podem ser imediatamente solucionados… assassinatos como aquele.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: A Metade Sombria

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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