Crítica | O Castelo no Céu (Tenkū no Shiro Rapyuta)

Nota
4

“Atrás delas, há uma ilha com a qual só sonhamos. Aí vou eu! Sei que vou encontrar Laputa!”

Sheeta (Keiko Yokozawa) é uma garota órfã que acaba de ser sequestrada pelo Coronel Muska (Minori Terada) e se vê transportada em um resplandecente aeronave militar, quando se depara com um ataque pirata aéreo liderado pela Capitã Dola (Kotoe Hatsui) que, assim como seu captor, procura o misterioso pingente que a garota possui. Vendo uma oportunidade de ouro no inesperado ataque, Sheeta nocauteia o coronel e escapa pela janela, apenas para ser encurralada pela gangue pirata e perder o equilíbrio, caindo do avião em direção ao solo.

No meio da queda, a pequena pedra azulada de seu pingente começa a emitir um brilho que envolve a garota e a conduz com segurança a uma pequena cidade mineradora, onde ela é avistada e resgatada por Pazu (Mayumi Tanaka), um jovem mineiro órfão que a leva para sua casa, onde lhe conta sobre a misteriosa Ilha flutuante chamada Laputa.

Determinados a descobrir os mistérios do pingente e encontrarem a cidade flutuante, a dupla se vê em uma enrascada enquanto são perseguidos tanto pelos piratas quanto pelo exército. Agora, as crianças precisam achar e um meio de escaparem dessa enorme encrenca enquanto descobrem segredos antigos, que podem mudar de vez as suas vidas.

Toda grande lenda precisa de um início e não seria diferente com os estúdios de animação. Após o sucesso estrondoso ocorrido em Nausicaä do Vale do Vento, o diretor Hayao Miyazaki e o produtor Isao Takahata acharam que estavam preparados para dar o próximo passo e formalizar sua parceria criativa, trazendo um novo vento à animação japonesa e mundial, e mudando a direção dos olhares dos críticos para a animação oriental.

Nascia assim o Studio Ghibli, uma produtora independente aclamada por críticos e público que mudaria a história da animação com seus filmes encantadores, que logo se tornariam um marco na cultura pop. Mas, para se ter sucesso, seria necessário um trabalho esplendoroso que repetisse o sucesso da parceria anterior e ampliasse o horizonte do novo estúdio… O problema era repetir essa dose.

Dirigido e escrito por Hayao Miyazaki, O Castelo no Céu é o primeiro longa animado dos estúdios, trazendo um pontapé inicial primoroso, que definiria não apenas os traços poderosos mas a construção fisiológica que geraria sementes futuras nas hábeis mãos de seus criadores. Com um ponto de partida simples, o filme vai construindo seu exoesqueleto, nos inteirando de seus personagens logo no início enquanto nos apresenta o novo mundo que deseja explorar.

O filme utiliza bem as técnicas de animação, com cenários estáticos e escuros que entram em contraste com os personagens, sempre vividos e chamativos. As sequências aéreas são estonteantes, repletas de ação e com uma fluidez impecável, demostrando todo o amor do diretor pelo tema. O longa ainda aborda com maestria a ganância da guerra, a necessidade da proteção ambiental e como cada pessoa reage ao encontrar o mítico.

O enredo foca no desenvolvimento de seus personagens, acrescentando e retirando conceitos que vão evoluindo ao longo da trama. Não é a toa que mudamos constantemente de ideia e revemos algumas atitudes conforme a narrativa é contada. O filme trata de estabelecer uma confiança plausível entre seus protagonistas, desenvolvendo seu relacionamento e a química latente entre eles, acrescentando camadas sociais e políticas e enfraquecendo tudo com uma fantasia maravilhosa, que consegue nos prender. Cada virada do roteiro é pontualmente colocada na historia, renovando nosso interesse e garantindo um enredo interessante e dinâmico.

Preferindo uma protagonista feminina, Miyazaki subverte os estereótipos dados ao gênero. Embora seja tranquila e centrada, Sheeta é aquela que toma a frente e está pronta a se sacrificar pelo que ama. Independente, forte e determinada, a garota passa uma calma imprevisível que a torna tão humana e única, que transita entre o conformismo e uma atitude brutal para defender o que ama. Pazu está longe de ser o herói salvador da mocinha. Encarando um papel mais próximo de companheiro que luta ao lado da protagonista e não procura ofuscar o brilhantismo da figura feminina. Eles lutam lado a lado, apoiando-se e agindo como uma equipe.

Outra personagem de destaque é Dola, que inicia a trama como uma potencial vilã mas vai ganhando camadas que nos torna empáticos à sua jornada. A Capitã pirata surge como uma ameaça mas se mostra uma grande aliada no fim das contas, mostrando mais uma vez todo o poder feminino da trama e sua leitura afiada sobre o relacionamento humano. Muska é o que mais destoa entre os personagens. O vilão da trama não ganha novas camadas e possui como único objetivo a conquista de seus desejos, fugindo da marca do estúdio, que sempre focou em ter personagens dúbios que nunca são inteiramente mal em sua essência.

Embora não seja um das obras mais conhecidas do estúdio, O Castelo no Céu conseguiu definir bem suas linhas e iluminar o futuro brilhante que estava por vir. Mesmo com sua problemática mais simplista, o longa traz histórias complexas e poderosas, além de nos encarar com suas cenas bem feitas, que transbordam um complexo dúbio entre otimismo e pessimismo humano, envoltos em uma fantasia impecável que, acredite ou não, transpõe os céus.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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