Crítica | O Serviço de Entregas da Kiki (Majo no Takkyūbin)

Nota
5

“Cada um de nós precisa encontrar a própria inspiração… nem sempre é fácil.”

Segundo uma antiga tradição, toda bruxa, ao completar seu décimo terceiro aniversário, deve deixar seu antigo lar e viajar durante um ano em busca de uma cidade para completar seu treinamento. Após escutar a previsão do tempo, Kiki (Minami Takayama) decide que chegou a hora de partir em sua jornada. Indo contra a vontade de sua mãe, a bruxinha prepara suas roupas e parte em direção ao desconhecido junto com seu melhor amigo, Jiji (Rei Sakuma), o seu gato preto.

A dupla é pega por uma tempestade e decide descansar em um trem de carga, que os transportam para o litoral onde Kiki descobre uma cidade. Encantada com o novo local, ela tenta causar uma boa primeira impressão mas, devido à sua falta de jeito, a garota tem um começo difícil e desanimador.

Desolada com sua entrada desastrosa, a menina perambula pela cidade tentando encontrar um lar enquanto questiona se devia desistir daquele lugar e procurar outro. É ai que ela encontra Osono (Keiko Toda), uma padeira local que, após receber um favor da bruxinha, lhe oferece casa e comida enquanto a ajuda em seu próprio negócio. Tendo como única habilidade mágica o domínio no voo com vassoura (que não é lá essas coisas), Kiki decide abrir seu serviço de entrega aéreo, apostando todas suas fichas no negócio enquanto tenta se adaptar a nova sociedade em que escolheu viver.

Depois do sucesso conquistado em Meu Amigo Totoro, o Studio Ghibli alcançava um mercado que nunca sonhou antes, mas, embora o reconhecimento começasse a ser visto, ainda faltava a peça final para consolidar o estúdio de animação. Algo que conquistasse não só o publico como a crítica e conseguisse dialogar tanto com o público oriental quanto com os novos fãs do ocidente… O que não era esperado é que tal peça viesse montada em uma vassoura um ano depois.

Dirigido e roteirizado por Hayao Miyazaki e baseado no livro de Eiko Kadono, O Serviço de Entregas da Kiki é o quarto longa animado produzido pelo estúdio e a peça que faltava para construir o nome lendário que todos conheceriam. Lançado em 29 de Junho de 1989, o filme se mostraria um sucesso de público e críticas, construindo uma historia leve e divertida sobre amadurecimento e independência.

Sendo o primeiro filme lançado em parceria com a Disney, o longa foi o primeiro sucesso comercial da Ghibli, arrecadando quatro vezes mais que os dois lançamentos anteriores e abrindo um novo espaço para a animação japonesa. Com traços suaves que exploram com maestria o fundo aquarelado, Miyazaki nos transporta para toda vivacidade presente na vida agitada de uma grande cidade. Suas cores, tons e sombras fazem parte da magia de seu universo, aproveitando o detalhamento de seus cenários que constroem um clima atemporal para a história que ele pretende nos contar.

O roteiro afiado sabe explorar bem seus dilemas, trazendo um amadurecimento precoce de alguém que ainda não sabe lidar bem com seus sentimentos. Kiki começa sua jornada estabanada e cheia de si, sedenta por novos horizontes onde pode testar suas novas habilidades. Mas, como todos nós, ela vai recebendo tombos e aprendendo com seus erros, evoluindo e crescendo enquanto tenta entender mais sobre si mesma. A bruxinha carismática passa pela típica jornada adolescente, descobrindo suas primeiras inseguranças enquanto tenta descobrir seu lugar no mundo, sua crescente é magistral e nos encanta trazendo toda a responsabilidade de alguém que esta aprendendo a se virar sozinha enquanto nem ao menos sabe quem é direito.

Outro grande destaque é o gato Jiji, que além de confidente serve como consciência da menina. Jiji sempre tenta mostrar que a impulsividade dela pode ser um problema grave, enquanto tenta amenizar os dilemas que ela pode causar. Sua presença e divertida e carismática a ponto de desejarmos mais do felino em tela. Tombo (Kapei Yamaguchi) é um garoto da região apaixonado por aviação. Logo que vê a bruxinha ele cria uma admiração latente que o torna obcecado pela mesma a ponto de soar inconveniente. Ao longo da história, o garoto se mostra um amigo valoroso que traz ótimos momentos à trama enquanto nos leva a seu enredo juvenil e agradável.

Osono é a primeira alma gentil que a garota encontra em seu novo lar. Servindo como fada madrinha, a padeira gravida sempre tenta auxiliar sua protegida e mostrar que, as vezes, ela só precisa se abrir mais para o mundo. Ursula (Minami Takayama) se mostra um grande achado. A pintora entra como peça principal no importante conflito que a protagonista tem antes de sua virada, quando ela passa a duvidar de si mesma e de seu talento nos dando uma valorosa lição: que nossos talentos são verdadeiros presentes e que, mesmo quando eles parecem desaparecer, devemos ser gratos àquilo que nos torna tão especiais e únicos.

Com um tom mágico e atemporal, O Serviço de Entregas da Kiki se mostra um sensível conto infanto-juvenil trazendo todos os dilemas típicos de alguém que está descobrindo a vida e aprendendo a lidar com esse novo mundo de possibilidades. Com um espetáculo visual, o longa nos possibilita alcançar novos voos, enquanto somos tomados por toda gentileza e confusão que só uma grande obra pode nos proporcionar.

“O dom dos bruxos, dos artistas… O dom dos padeiros… Deve ser uma dádiva dada pelos deuses, não?”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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