Crítica | A Marca do Demônio (La Marca del Demonio)

Nota
2

“Ofereço meu corpo como um receptáculo para a escuridão, Cthulhu.”

Quando Cecilia de la Cueva traz para sua casa um misterioso livro com línguas antigas, suas filhas, Fernanda e Camila, resolvem olha-lo e brincar um pouco com todo o mistério por trás do manuscrito, que é reconhecido por Fernanda como um Necronomicon, mas ao ler as palavras em latim da escritura, convocando Cthulhu
e sua filha, Cthylla, uma força obscura é libertada e se apossa do corpo de Camila. Em outro lugar da cidade, vamos conhecendo Karl Nüni, um exorcista que, quando criança, foi acolhido por um padre após ter sobrevivido a um duro exorcismo e agora luta contra seus próprios demônios enquanto expulsa os possessores de outros corpos, o problema é que no momento que Camila leu o livro, as forças que foram libertadas por seus cânticos também passaram a afetar os demônios que habitam em Karl.

Lançado pela Corazón Films, no México, em Janeiro de 2020, o longa só começou a alcançar seu sucesso mundialmente após entrar no catálogo de filmes da Netflix, levando milhares de telespectadores a conhecer uma cativante trama de exorcismo completamente inspirada no obscuro universo de H. P. Lovecraft, tendo até o longa iniciado com uma linda citação do autor, fazendo referências à morte. O longa tem a direção de Diego Cohen, que já é um grande nome do terror mexicano, e segue um roteiro escrito por Rubén Escalante Méndez, que, em sua premissa, consegue extrair o supra-sumo da mitologia de Lovecraft de uma forma surpreendente, fugindo completamente do teor cósmico e onírico do autor e reproduzindo toda a força dos poderosos deuses cósmicos e necronomicons para dentro de um filme de terror tão ‘clichê’, usando uma base única para criar um filme único, que segue o padrão estilístico mas não segue, hora nenhuma, os padrões de construção que tornariam a obra previsível.

Brincando com o uso da mitologia de Lovecraft, ao narrar uma história onde vemos uma garota sendo possuída por Cthylla e um padre que serve de contenção para Ythogtha, o longa tinha tudo para ir fundo no universo lovecraftiano e se tornar um thriller estupendo, mas temos que ter sempre em mente que nem sempre seremos capazes de ver uma premissa sensacional ser bem roteirizada e bem dirigida, e é justamente isso que acontece aqui. O momento que Karl é apresentado é dramático o bastante, a forma como Ythogtha muda completamente seu modo de viver, levando-o a uma harmonia surpreendente com o, agora, exorcista, uma harmonia que só é quebrada quando Cthylla é libertada, o longa ainda nos mostra o processo de possessão de Camila, que vai aos poucos se conectando com a deidade antiga. O grande problema do longa acontece quando o roteiro resolve parar de se aprofundar nas conexões do seu enredo com os mitos de Cthulhu, quando as explicações começam a se tornar mais necessárias e mais ausentes, o mesmo momento que o roteiro começa a se preparar para o encontro entre os dois irmãos, passando a focar muito mais na natureza gráfica dos poderes das deidades do caos do que em desenvolver um roteiro verdadeiramente envolvente.

O longa tinha tanto potencial, principalmente se tivesse deixado o tão esperado embate entre os irmãos se tornar uma cena digna de uma ficção cientifica ao invés de ficar indo e voltando nos seus encontros, com interrupções desnecessárias, e focar tanto no grafismo demoníaco das cenas, que acabam criando sequencias muito mais confusas do que artisticamente primorosas. Aos poucos o longa que nos cria uma gigantesca expectativa, com suas cenas iniciais, vai perdendo sua mão e nos fazendo duvidar onde foi parar todo o talento de Cohen, que não percebeu o desastre que o filme estava se tornando e muito menos tomou as rédeas da situação, para salvar essa experiencia que poderia ser tão boa. Fica claro que a atuação de Eivaut Rischen, no papel de Karl, é o grande destaque do longa, deixando o homem responsável por carregar a produção e nos levando a pensar por que não escolher colocar ele como principal protagonista e deixar a família de la Cueva como um simples caso que cai na mão do homem, talvez dessa forma fosse mais fácil de guiar um enredo mais agradável, onde veríamos o homem investigando a origem do demônio que compartilha o corpo com ele desde criança e sendo levado ao encontro de Camila.

O ator consegue não só ofuscar os papeis de Eduardo Noriega Arantza Ruiz, como ainda consegue criar uma empatia com o público ao brilhar absolutamente na sequencia final do longa e na simples menção de sua presença na cena pós-credito do longa. Sim, temos uma cena pós-credito, onde temos uma sequencia completamente misteriosa que nos deixa em dúvida se estamos realmente vemos o que acreditamos, se estamos vendo uma faísca para uma sequencia ou se estamos vendo apenas uma conclusão digna para a saga de Karl e Tomás.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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