Review | 3% [Season 1]

Nota
3

Num futuro  pós-apocalíptico, o mundo está devastado e, num lugar desconhecido do Brasil, os sobreviventes moram no Continente, um lugar pobre e com recursos escassos, onde os mais jovens esperam completar 20 anos para receber a chance de passar pelo Processo, composto por testes físicos, morais e psicológicos que dão a chance da transferência para Maralto, uma região onde tudo é abundante, mas apenas 3% dos inscritos conseguem a aprovação final.

No Brasil atual temos o ENEM como a prova para a qual nos preparamos por toda a juventude e que pode interferir bastante na nossa vida, mas e se o Brasil tivesse uma prova que realmente tivesse apenas uma chance de mudar sua vida para melhor ou seguir na miséria? Foi isso que 3% propôs.

3% chega como um divisor de águas ao ser a primeira produção brasileira original da Netflix, e que não só fez sucesso em nosso pais, como fez sucesso no mundo ao se tornar a série de língua não-inglesa mais assistida no EUA, o que garantiu uma renovação para uma segunda temporada em dezembro de 2016. A série teve sua primeira temporada lançada no serviço de Streaming em 25 de novembro de 2016 com 8 episódios de 50 minutos.

Curta porem impactante, a série traz oito episódios nomeadas com uma unica palavra que representa num total a “Provação” que acompanha todos os envolvidos na trama e trazendo, do segundo ao sexto episodio, flashbacks que nos ajudam a entender melhor sobre o caráter, motivações e segredos dos protagonistas. Num mundo onde todos tem que se corromper para sobreviver ou que precisam aprender a moldar seu coração, temos diversos campos que não só refletem o Brasil para o mundo, como também nos encaixa num eixo central para interpretação de igualdade com a mente global.

Com personagens fortes, a série segue cheia de tramas e subtramas, mas infelizmente o show de atuação da temporada fica nas mãos de uma coadjuvante: Julia, interpretada por Mel Fronckowiak, que aparece por apenas um episodio mas consegue chamar atenção suficiente para ganhar a adoração do público e sensibilizar a todos. Já focando no elenco principal, temos Bianca Comparato no papel de Michele Santana, uma garota que perdeu seu irmão para o Processo e acabou se unindo à Causa, um grupo rebelde que pretende destruir o sistema e buscar dar a oportunidade de ouro a mais do que 3% dos testados; Michel Gomes como Fernando Carvalho, um dos mais inteligentes dos protagonistas, mas que vive sendo limitado por estar numa cadeira de rodas, que é ao mesmo tempo seu atraso e sua motivação; Rodolfo Valente como Rafael Moreira, o vigarista da trama que acaba sendo um dos destaques, ele é um dos que luta por si próprio e começa se mostrando como trapaceiro, o que pouco a pouco vai sendo ampliado e explicado por seus segredos.

Vaneza Oliveira vive Joana Coelho, a excluída da trama, ela começa sendo tratada mal desde o inicio e é a primeira a mostrar que tem um gênio forte, que tem segredos e que está disposta a tudo para vencer, tanto que acabou se tornando a personagem favorita do público e ganhou de presente em sua trilha a musica “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares; Rafael Lozano vive Marco Alvarez, o prodígio, filho da família Alvarez e que, como legado de sua família, deve entrar para o Maralto, afinal, todos os Alvarez são aprovados e sempre deixam um filho para seguir o legado de se destacar em seu ano de teste; João Miguel vive Ezequiel, o comandante do Processo, que lidera as provas e julga as alterações, aprovações e reprovações, sendo considerado um vilão até certo ponto e em momentos mostrando sua humanidade e a escuridão de seu coração; e, por fim, temos Viviane Porto vivendo Aline, a supervisora mandada pelo Maralto para encontrar as falhas de Ezequiel e tirar dele o cargo de comandante do Processo, tudo iniciado após a historia ser marcada pelo primeiro assassinato do Lado de Lá.

A grande falha desse elenco no entanto fica a cargo do próprio enredo, nós temos uma trama onde os protagonistas parecem não ser tão bem resolvidos, temos alguns pontos onde, simplesmente após um flashback, um personagem muda sua personalidade, fazendo parecer que o fato da revelação do passado a nós é o que muda ele e não o passado que ele viveu é que o moldou. Outro grande furo vem da mitologia da série, temos diversas alegações sobre as vantagens de Maralto e as desvantagens do Continente, mas a trama em si não nos mostra essa diferença tão gritada, é como se apenas a aparência das pessoas mudasse de um lado a outro, a fartura do Lado de Lá acaba não ficando explicita, além dos gigantescos avanços não serem vistos em uso.

O maior defeito da série de Pedro Aguilera, no entanto, é a questão espaço-temporal dos personagens. Algo que me incomodou demais foi o fato de os personagens estarem o tempo inteiro se teletransportando pelos lugares, como a incrível capacidade de Cassia de se mover entre as diversas salas do complexo em questão de segundos, ou o fato de o funcionário do Processo estar no último andar e segundos depois aparecer no térreo na cena do suicídio. Mas no final das contas, entre altos e baixos, a série consegue ser uma produção destacável da Netflix e trás um potencial gigantesco para ser explorado em sua segunda temporada, onde espero que as falhas de enredo e produção acabem por ser corrigidas.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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