Crítica | Playmobil: O Filme (Playmobil: The Movie)

Nota
2.5

Marla sonhava em conhecer o mundo, desejando viver sua juventude antes de investir em uma faculdade, mas seus sonhos são destruídos quando os pais da garota acabam falecendo, em uma acidente, a forçando a assumir a responsabilidade por Charlie, seu irmão caçula. Alguns anos se passaram, Marla se tornou uma adulta amargurada, triste com a vida que precisou assumir e não se dando tão bem com seu irmão, que começa a demonstrar ter os mesmos sonhos independentes que a mulher nunca conseguiu realizar. Após uma briga, Charlie foge de casa, o que faz ele e Marla irem parar no prédio onde irá acontecer a Toy Com, um evento que exibe, entre suas atrações, um gigantesco cenário completamente montado com peças de Playmobil, lugar onde eles acidentalmente acabam ativando um portal que os absorve para dentro desse mundo paralelo.

Todas as crianças que viveram nos anos 80 tiveram contatos com duas franquias de brinquedos lendárias: Lego e Playmobil. Depois do sucesso que os filmes da Lego vieram fazendo no cinema, que conquistaram milhares de crianças em plena década de 2010, era de se esperar que seu maior concorrente também figurasse nas telonas. Em agosto de 2019, foi finalmente lançado o longa de Lino DiSalvo, que trabalhou como animador da Disney por 17 anos e faz sua estréia na direção com o longa roteirizado por Blaise Hemingway, trazendo uma trama inicialmente profunda, que mostra uma garota que é forçada a abandonar seus sonhos para proteger seu irmão e, depois de alguns anos, é levada a abandonar sua vida cuidadosamente estruturada para embarcar numa jornada épica para salva-lo em um mundo ao qual não pertence. Nesse novo mundo, Charlie se funde a seu boneco favorito, um poderoso viking com super-força, e acaba chamando a atenção do Imperador Maximus, um mercenário que vem capturando os mais poderosos guerreiros de todos os mundos para transforma-los em guerreiros em seu coliseu, e divertir seus súditos, enquanto lutam contra A Fera.

Tendo o pior inicio possivel, o longa traz um primeiro ato composto por alguns minutos de enredo em live-action, que podem ser claramente considerados como a pior parte do longa, um clássico inicio com dois pés esquerdos. Mas com a chegada da parte animada, o longa começa a mostrar realmente a que veio, promovendo uma renovação na trama que vai dando graça ao longa, e construindo uma jornada incrivelmente épica, que investiu pesado em um elenco muito bem estrelado, capaz de emprestar personalidades bem diversas e marcantes a cada um de seus personagens. O longa é protagonizado pela incrível Anya Taylor-Joy, que infelizmente não está tão incrível no inicio desse longa. A Marla de carne e osso tem uma personalidade superficial demais e atriz não combina muito bem com a cena musical, que protagoniza no primeiro ato, ela não parece estar atuando de uma forma que seja harmônica com a canção. Durante a jornada, vamos conhecendo outras boas personalidades desse novo mundo, como é o caso de Del (dublado por Jim Gaffigan), que ajuda Marla como uma maravilhoso guia nesse fantástico mundo.

Durante a jornada de Marla, DiSalvo brinca com gêneros de filme como sci-fi, espionagem, gladiadores romanos e até faroeste, algo que, segundo o cineasta, foi inspirado no feito de Aranhaverso, levando o executivo a criar seu universo de uma forma tão fluída quanto confortável. Com um universo baseado numa linha de brinquedos que acomoda bonecos de todos os temas imagináveis, DiSalvo teve a grande sorte de conseguir ir mais fundo nas diversas ambientações, o que nos permite transitar rapidamente entre o clima cheio de ação do território de espionagem e o ritmo mais lento e cheio de tensão da área do faroeste, e permite trazer ao mundo diversas referencias ao mundo pop acomodando sugestões escancaradas a Piratas do Caribe, Star Wars e outros tantos filmes que injetam um ar de nostalgia ao mesmo tempo que colaboram ativamente com o enredo. Mas como fazer para tantas referencias sem ter direito sobre os personagens? É nesse momento que DiSalvo dá um show de jogo de cintura ao construir personagens que nos lembras as personalidades mas não os nomeia em cena, como é o caso de Rex Dasher (dublado por Daniel Radcliffe), que apresenta todos os trejeitos, vestuários e equipamentos do 007, e a Fada Madrinha (dublada por Meghan Trainor), que representa toda a doçura dos filmes da Disney.

Talvez o maior problema do longa seja o fato de só existir por conta do sucesso de Uma Aventura Lego, algo que parece não ter vergonha de assumir, inclusive por conta de suas semelhanças, ele tem boas pitadas de humor e referencias mas começa muito mal, e isso prejudica complemente a construção de seu enredo, e força, de uma forma decepcionante, a inclusão de músicas no enredo, algo que não funciona tão bem quanto deveria. É gratificante ver a forma como a trama quebra alguns clichês do cinema, como o típico ‘donzela em perigo’, assim como Frozen (filme do qual DiSalvo foi Chefe de Animação), mas parece que o diretor não teve tanto sucesso quanto planejava. É obrigatório assumir que o longa possui uma modelagem excelente, brincando até com a ideia de um ser humano precisar se acostumar com um corpo de boneco, o que mostra que o diretor aprendeu, e muito, com toda a sua experiencia na Disney, e poderia ter nos presenteado com uma produção magnifica se tivesse realmente recebido um roteiro bem feito.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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