Crítica | Funny Girl – Uma Garota Genial (Funny Girl) [1968]

Nota
4

“Eu não fiz nada por você que você não teria conseguido sozinha”

Funny Brice (Barbra Streisand) é uma jovem atriz que deseja, acima de tudo, encontrar seu lugar no palco. Sabendo que não possui a beleza típica para estrelar um peça, muito menos ter uma coordenação motora para fazer parte das dançarinas, Funny tenta se encaixar em qualquer papel que lhe é disposto. Mas, após quase arruinar o ensaio geral de um espetáculo, Funny é demitida por seu patrão.

Sem desistir de seu sonho, a garota é encorajada pelo coreógrafo Eddie Ryan (Lee Allen), que lhe da mais uma chance para mostrar o seu talento. Acontece que Funny é um completo desastre sobre patins, quase arruinando tudo outra vez… se não fosse sua veia cômica e sua voz exuberante que leva o público ao delírio. Decolando de vez em sua carreira, a jovem se torna o sucesso do momento, atraindo o olhar do poderoso Florenz Ziegfeld (Walter Pidgeon), que a convida para fazer parte de seu seleto elenco. Enquanto ganha notoriedade, Funny reencontra o bonito e sofisticado Nick Arnstein (Omar Sharif), um rico jogador que vive de sua boa sorte e que abala totalmente as estruturas da garota. Enquanto tenta interligar trabalho e amor, Funny vivência um turbilhão de emoções que a obrigam a tomar uma série de decisões sobre o seu futuro.

Baseado em uma narrativa semi-biográfica, Funny Girl – Uma Garota Genial já tinha ganhado espaço nos disputados palcos da Broadway, de onde bebe diretamente da fonte em sua estrutura teatral, para narra a ascensão de uma das grandes estrelas que brilhou no cenário musical. Mas, como bem sabemos, não é nada simples traduzir uma obra para um novo formato, principalmente quando a peça em questão já possuía uma legião de fãs. Coube então ao renomado cineasta William Wyler remodelar o amado musical para seu novo molde.

Dividindo seu enredo em dois atos distintos (com um interlúdio entre eles), o longa nos convida a presenciar uma apresentação musical de primeira linha, saltando dos palcos em que foi lançado para ganhar um molde grandioso e arrebatador. O domínio de câmera de Wyler é primoroso, utilizando seu ambiente para engrandecer ainda mais sua visão sobre cada uma de suas cenas enquanto passeia de modo livre sobre algo que ficaria preso e limitado nos palcos.

De uma forma charmosa, dinâmica e bastante consciente da sua proposta, Wyler foge do clichê narrativo de ascensão cinematográfica, optando por uma narrativa mais gradual que não está preocupada em mostrar como sua protagonista alcançou o topo, mas sim como ela batalhou por cada espaço que conquistou até chegar lá. Toda trajetória gloriosa de sua protagonista é contada no primeiro terço do filme, tendo seu próprio espaço para mostrar a garra de uma mulher que protagoniza sua história.

A história de Funny já foge do convencional. Uma mulher judia, pobre e fora dos padrões de beleza da época que tem plena ciência disso e está determinada a utilizar tudo aquilo que a torna única em seu favor. A personagem é focada e determinada, sempre questionando tudo a seu redor enquanto encontra uma maneira de dar a última palavra em tudo que se propõe a fazer. Mesmo quando encontra o seu amor, ela que determina o que deseja para sua vida, se tornando complacente quando lhe convém mas sempre sendo ela mesma em todos os pontos de sua vida.

Barbra Streisand parece ter nascido para o papel. Repleta de graça e carisma, Barbra recebeu sua cota de nãos por não obedecer o padrão que lhe era exigido, sendo inferiorizada por isso. Barbra já tinha vivenciado o papel nos palcos e se mostra ainda mais confortável em lhe dar vida nas telas. Seu alcance vocal e suas performances deslumbrantes arrebatam o telespectador mostrando que o filme é dela e somente dela, além de tornar inegável sua indicação e vitória no Oscar de Melhor Atriz (ao lado da já consagrada Katherine Hepburn, por seu papel em O Leão no Inverno).

Já Sharif fica apagado, trazendo uma performance morna a seu galã, que deixa a desejar perto do carisma estonteante da protagonista. O personagem começa misterioso e sedutor, mas vai perdendo o interesse do público conforme a trama avança, quase nos deixando entediados com seu declínio continuo que entra em uma espiral problemática. Talvez por contracenar com alguém que impõe sua presença de uma maneira tão significativa, ou apenas por não ter uma química tão poderosa, o ator soe tão mediano, tendo como única função orbitar ao redor de seu interesse romântico, com pouco a acrescentar. Uma pena.

No quesito musical o longa nos apresenta performances memoráveis. Seja pela hilária His Loves Makes Me Beautiful (que mostra como Funny está determinada a ter a ultima palavra em tudo o que faz), ou pela emocional People, o longa nos transporta com maestria pela jornada. If a Girl Isn’t Pretty introduz nossa protagonista, listando suas peculiaridades e como ela não se encaixa naquilo que quer fazer. I’m the Greatest Star mostra toda fibra e força de vontade de Funny, enquanto ela mostra aquilo que pouco enxergam em si.

Don’t Rain On My Parade é o ápice musical da trama. Com uma melodia cativante e uma montagem impecável, a performance nos impulsiona e nos insere na decisão de sua protagonista, batendo a cada novo passo que ela não pretende voltar atrás, e encerrando de maneira primorosa o primeiro ato da trama. Funny Girl mostra como é desconfortável estar em um papel que faça todos rirem quando todo seu mundo esta ruindo. Enquanto My Man nos destrói de uma maneira imensurável, enquanto finaliza o filme com uma gosto agridoce.

Divertido e encantador, Funny Girl – Uma Garota Genial se mostra uma obra a frente do seu tempo. Tomando seu destino em suas mãos e contrariando tudo que foi estabelecido socialmente, a protagonista não só nos conquista mas mostra que tudo é possível. Acima de tudo, é uma historia sobre uma mulher que aprende a se amar, mesmo quando todos dizem que ela não tem o suficiente para isso. E, acredite, ninguém vai fazer chover em sua parada.

“Get ready for me love
Cause I’m a “comer”
I simply gotta march
My heart’s a drummer
Nobody, no nobody
Is gonna rain on my parade”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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