Review | Warrior Nun [Season 1]

Nota
3.5

“Durante a minha vida eu sonhava com a minha morte […]
A vida tem um jeito bem fodido de realizar os nossos sonhos.”

Ava Silva era uma órfã tetraplégica até o dia em que morreu, porém, por um acaso do destino, ela estava no mesmo local que a Irmã Shannon quando a freria morreu, o que fez o Halo, um poderoso artefato divino, precisar ser transferido imediatamente, a transformando na próxima Irmã Guerreira da Ordem da Espada Cruciforme. Cabe agora a Ava, que voltou a vida e agora pode andar, entender seu novo proposito, seus novos poderes e sua nova função, precisando ser treinada para fazer parte de antiga ordem de freiras guerreiras, combatendo os Tarascas, seres vindos diretamente do inferno e protegendo o Divinium, um metal mítico, para não cair em mãos erradas. Tudo isso acontece ao mesmo tempo que a Arq-Tech encontra esse metal sagrado e começa a descobrir as inúmeras possibilidades tecnológicas que esse novo material proporciona, se tornando mais um grande rival para a organização.

Lançado na Netflix em 2 de Julho de 2020, a série criada por Simon Barry está longe de ser uma adaptação literal das HQs Warrior Nun de Ben Dunn, na verdade a série é muito mais uma adaptação da mitologia das HQs. Ava Silva não existe nas HQs, mas a mitologia deixa claro que o cargo da Irmã Guerreira é passado de tempos em tempos, então a série resolve seguir essa premissa, se situando em algum ponto cronológico aleatório das HQs, se baseando na passagem do cargo de Shannon (que é a Irmã Guerreira das HQs) para Ava, criada para ser a Irmã Guerreira na série. A grande sacada da série é aproveitar ao máximo seus personagens e tramas originais, mas sem deixar de lado os personagens que fizeram fama nas HQs, nos trazendo a impiedosa Madre Superiora e a rebelde Shotgun Mary, além de trazer releituras de algumas personagens da HQ a raivosa Irmã Lilith (que claramente é uma adaptação da Princesa dos Demônios da HQ), a maléfica Irmã Crimson (que pode ser uma referência à Freira Carmesim das HQs) e a perigosa Jillian Salvius (uma adaptação de Julian Salvius, imperador romano que Shannon enfrentou na roma antiga).

A trama da temporada gira em torno da origem da função da Irmã Guerreira, reencenando cenas da HQ para nos apresentar Areala, a primeira Irmã Guerreira e fundadora da OEC, e introduzindo o Anjo Adriel (que substitui O Anjo da Guerra Areala), como o anjo que concede os poderes à Areala, pouco a pouco explorando a corrupção dentro do Vaticano, os poderes que Ava vai descobrindo, o incidente envolvendo Lilith, os planos malignos do Cardeal Duretti, e as consequências da existência das Relíquias de Adriel e do portal da Arq-Tech. É reconfortante ver o quanto as Irmãs Guerreiras surgem em meio aos relatos, mostrando o passado da Ordem, como a Irmã Melanie (que parece ser uma releitura da Irmã Hildegard, a Irmã Guerreira lésbica que lutou contra os nazistas) ou as próprias cenas de Areala, que parecem ser vagamente inspiradas nos relatos da Irmã Maria de Aquilonious, que foi a Irmã Guerreira durante o período das cruzadas.

Toda a trama de Barry se fortalece ainda mais por conta de seu supercompetente elenco. Alba Baptista protagoniza a trama despontando incrivelmente em seu primeiro papel em inglês, a atriz luso-brasileira já tinha um vasto currículo em Portugal, mas surpreendeu ao se despontar tão bem uma trama americana, completamente diferente das novelas que fazia em seu país natal. Alba demonstra um equilíbrio entre inocência, raiva e dedicação, ela da à sua personagem uma aura bondosa ao mesmo tempo que consegue ter um impeto que a da força, ela oscila perfeitamente o papel da mais poderosa das Freiras Guerreiras e a mais frágil do grupo. Toya Turner é outra grata surpresa como Mary, a personagem tem um gênio forte, uma força gigantesca, uma representatividade latente, ela rapidamente se torna uma mentora para Ava, e a atriz tem um poder absoluto em seu papel, conseguimos ver sua força extrapolando a tela, nos cativando e nos instigando. Kristina Tonteri-Young vive Irmã Beatrice, uma das personagens mais deixadas de lado durante a série, mas sua evolução, apesar de rápida, se torna agradável, ela rapidamente assume o posto de treinadora de Ava, a fortalecendo física e mentalmente, impulsionando o enredo de forma ideal.

Thekla Reuten (Jillian) e Lorena Andrea (Lilith) não possuem muito tempo de tela, mas protagonizam suficientemente suas subtramas, que não interferem diretamente o enredo da série, proporcionando um potencial para ser explorado mais a fundo numa possível segunda temporada do show. O elenco é quase que completamente composto por mulheres, mas dois homens se destacam no decorrer da trama. Tristán Ulloa vive o Padre Vincent, o guia e conselheiro da OEC, ele se torna um pilar na Ordem, fortalecendo cada uma das Freiras e guiando a Irmã Guerreira a compreender sua missão, apesar de ele não ter uma grande evolução na trama, ele se torna muito mais um suporte para impulsionar a evolução das mulheres da OEC, seja Ava, Mary ou até a Madre Superiora. Do outro lado da batalha está Joaquim de Almeida como o Cardeal Duretti, um homem duro, de poucas palavras e que, apesar de ter pouco tempo de tela, mostra toda a sua obscuridade a cada cena que aparece, está claro desde o inicio que ele se guia por motivações escusas, e isso se deve pela atuação bem trabalhada de Almeida, que nos coloca cara a cara com a vilania do Cardeal e nos faz ficar em dúvida se ele realmente é um antagonista ou é só nossa impressão preconceituosa.

Com seus dez episódios, de cerca de 40 minutos, o show vai serpenteando por meio de vários caminhos, nos levando a caminhos diversos que parecem se preparar para se encontrar em determinados pontos da trama, e quanto se encontram eles resultam em desenrolares surpreendentes. Cada episódio é batizado com uma citação bíblica, que se observados parecem conselhos que nos guiam a entender plenamente o que o roteiro daquele episódio deseja nos contar, e tudo nos leva ao surpreendente “Apocalipse 2:10” (season finale), onde vemos a verdade por trás de toda a trama, o verdadeiro sentido por trás da missão da Irmã Guerreira, a verdadeira face do mal e, para nossa surpresa, vemos todas os caminhos (e subtramas) se unirem em um único ponto, um ponto assustadoramente cheio de clímax, que parece prometer uma segunda temporada ainda mais eletrizante, mas que peca ao deixar brechas demais no meio do caminho, nos fazendo ficar sem entender até que ponto tudo se encaixa e até que ponto a trama simplesmente jogou falsas pistas, para não dizer buracos, que serviam só para nos distrair.

“Nunca sozinha, nunca esquecida, pra sempre em nossas almas”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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