Review | O Grito: Origens [Season 1]

Nota
2.5

“Ju-on foi criado e inspirado em fatos reais”

No Japão, em 1988, uma casa parece ser terrivelmente amaldiçoada, principalmente por conta da onda de crimes violentos e injustificáveis que parecem ter uma forte ligação com o local, o que desperta a atenção da população e leva Yasuo Odajima, um famoso pesquisador paranormal, a atender o apelo de Haruka Honjo, uma das antigas moradoras da residencia, que conta se sentir assombrada por uma entidade que ela acredita ser a mulher que morreu naquela casa em 1952, uma moça que foi assassinada por seu marido enquanto estava gravida e, segundo relatos, começou a assombrar as redondezas, sendo conhecida como A Mulher de Branco. Perto dali, Kiyomi Kawai é a nova estudante de uma escola local, onde acaba chamando a atenção de Mai HyodoYoshie Minakami, duas colegas que a convencem a ir até a ‘Casa dos Gatos’ junto com Yudai Katsuragi, o lugar onde a vida de Kiyomi é marcado quando, após as garotas a segurarem para que Yudai a estuprasse, ela acabou sendo tocada pela Mulher de Branco.

Antes do assassinato de Kayako Saeki acontecer, uma certa casa já era amaldiçoada por uma outra entidade. Antes do Ju-On de Kayako iniciar sua maldição, o Ju-On que surgiu em 1952 já vagava pelo Japão, induzindo milhares de crimes, até o dia em que Kiyomi entrou naquela casa. A história de Kiyomi segue em paralelo com a história de Haruka, enquanto a jovem estudante estuprada é possuída pela maligna entidade, despertando todo o mal que há dentro dela e dando um poder ainda maior para o Ju-On, Haruka é assombrada pela morte de Tetsuya Fukazawa, seu noivo, que apareceu morto de uma forma brutal após visitar um certo imóvel. O tempo passa e, em 1995, o passado começa a voltar para as duas moças. Kumi Shigematsu, novo nome assumido por Kiyomi, luta para proteger Toshiki, seu filho, de seu violento marido Katsuji Kobayashi, nova identidade de Yudai, ao menos é o que todos acham que ela está fazendo. Já Haruka vai em busca de Odajima novamente, buscando entender o que realmente aconteceu com seu noivo e, quem sabe, entender o que existe na casa que o fez morrer. O que nos leva cada vez mais fundo no verdadeiro poder da tenebrosa Mulher de Branco.

Lançada pela Netflix em 3 de Julho de 2020, a série japonesa dirigida por Sho Miyake, e baseada da franquia criada por Takashi Shimizu, parece querer ignorar completamente a antagonista que fez a fama da franquia ser consolidada, algo que talvez seja seu primeiro grande erro, já que a Mulher de Branco, apesar de ter um impacto gráfico incrível, não tem o mesmo poder cativante de Kayako. Os roteiros de Hiroshi Takahashi e Takashige Ichise parecem querer criar uma franquia deles próprios, usando o pretexto de ir no passado da casa dos Saeki para não necessitar contar com a presença de Kayako e Toshio, o que faz a série criar uma mitologia própria, que funcionaria muito melhor se fosse completamente desvinculada da premissa de Shimizu. Ao contrários dos filmes do cineasta, a trama traz inúmeras histórias, que parecem não se conectar tão claramente, e uma linha do tempo completamente desregrada, nos fazendo ficar perdidos na busca de entender o que aconteceu com quem e como a casa teve interferência. No decorrer da trama as coisas vão ficando mais claras, e a importância de Odajima para os eventos vai ficando cada vez mais evidente, ao mesmo tempo que faz surgir milhares de perguntas. O show tenta usar seus seis episódios, de cerca de 30 minutos, para reerguer a franquia, que ficou muito abalada após o reboot americano desse ano, e chega a beira do abismo por recriar toda a mitologia, alterando sua história, personagens, conceitos e, principalmente, sua atmosfera, criando um horror dramático que é extremamente perturbador, apelando para o lado psicológico do horror e fugindo da previsibilidade clichê de filmes de sustos.

Apesar de conseguir evoluir bem com seus suspense e seu terror, é impossível não sentir um imenso incomodo com a narrativa da produção, que faz o enredo mudar de um belo horror japonês para um mistério confuso e irritante, que poderia ter sido bem melhor se os executivos tivessem investido mais em seus protagonistas bem desenvolvidos, deixassem de lado o excesso de tramas paralelas e aproveitasse ao máximo a escassez das cenas de susto, ao invés de se manter nesse desagradável ritmo irregular e salteado, o que deixa a trama com um gosto amargo e cru, que deixa as cenas violentas ficarem gratuitas e as cenas de evolução ficarem chatas, além de deixar os fãs da franquia completamente desamparados, numa expectativa de entender em que ponto a série se conecta com o filme, ou de ver graça nesse mockumentário tão mal planejado. O longa se propõe a usar seu falso realismo para oferecer respostas profundas sobre sua trama sobrenatural, mas falha miseravelmente em seu objetivo, se valendo unicamente de uma fotografia obscura, uma trilha sonora arrepiante e uma ambientações claustrofóbicas para ter valor, a trama cresce maravilhosamente com seu gore, mas se assassina ao esquecer que é uma série de fantasma e recorrer a um roteiro chato, que dispensa até o uso de expectativas para prender o público a cada capitulo e se finaliza nos deixando com uma sensação de vitória e um desejo de que essa série seja enterrada no limbo do catalogo do streaming ou, caso ganhe uma nova temporada, escolha conectar os fatos narrados com a maldição de Kayako, mesmo que a linha temporal apresentada na série torne quase impossível de isso acontecer.

“Foi determinado que todos eles começaram na mesma casa. Mas, o que realmente aconteceu, foi muito mais assustador do que qualquer coisa dos filmes.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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