Crítica | Onde Vivem Os Monstros (Where The Wild Things Are)

Nota
4

“Eu poderia comer você de tanto amor”

Max (Max Records) é um garoto solitário e imaginativo que vive aprontando traquinagens com que cruza seu caminho. Filho de pais separados, o garoto se sente ameaçado quando sua mãe Connie (Catherine Keener) decide apresentar seu namorado Adrian (Mark Ruffalo) a família. Durante o jantar, o garoto veste sua roupa de lobo e tem um ataque de fúria que acaba com uma mordida no ombro da mãe.

Assustado com o que aconteceu, ele foge até a beira de uma lagoa, onde encontra um pequeno barco. Determinado a se afastar cada vez mais da família e do que fez, o garoto o desamarra e embarca para uma aventura, chegando a uma terra longínqua habitada por criaturas monstruosas. Para evitar ser devorado por eles, Max inventa que possui grandiosos poderes, o que lhe leva a torna-se rei dos monstros.

Quando foi escrito, o livro de Maurice Sendak revolucionou a literatura infantil, contando sua narrativa com poucas frases enquanto transpunha seus sentimento através dos poderosos desenhos, que tornaram a leitura ainda mais agradável e cativante. Mas, transformar tais mensagens em uma nova mídia parecia um trabalho hercúleo que poucos conseguiriam executar.

Dirigido por Spike Jonze e roteirizado em parceria com Dave Eggers, Onde Vivem os Monstros consegue extrapolar as páginas e encontrar caminhos mais profundos para os temas abordados. O motivos da rebeldia juvenil de Max e seu paralelo com o universo fantástico trazem uma poderosa discussão sobre amadurecimento e solidão, deixando claro muito do que não é contado. Os monstros, tão marcantes por seu surrealismo, ganham uma personalidade distinta, refletindo na própria jornada do protagonista.

Max, brilhantemente interpretado por Max Records, sente-se negligenciado. Sem ter com quem brincar e sendo menosprezado pela irmã mas velha, o garoto deposita toda sua carência na figura materna, que consegue enxergar por trás de seus ataques de fúria e impulsividade. Quando ele sente a mudança de atenção da mãe, torna-se birrento e feroz, agindo de maneira infantil e possessiva em algo que sente que vai perder, despertando um mecanismo de defesa. Mas só quando encara seus monstros que Max consegue compreender melhor tudo aquilo que se envergonha.

Carol (James Gandolfini), o monstro com quem Max mais se identifica, é egocêntrico e impetuoso, segurando com todas suas garras a chance de manter seu grupo unido. A forma agressiva com a qual se porta, tentando achar um culpado para cada situação que sai errado, mostra o quão solitário e perdido ele se encontra, trazendo uma ligação psicológica perfeita para o estado do próprio Max.

Douglas (Chris Cooper) é fiel e compassível, sempre pronto a entrar nas loucuras do amigo. Judith (Catherine O’hara) é mesquinha e agressiva, trazendo pensamentos opostos à maioria do grupo. Ira (Forest Whitaker) é amável e companheiro, sempre soando mais compreensível e acolhedor. Touro é melancólico e silencioso, apenas existindo ao longo do longa, mas se mostrando um dos mais profundos da trama. Já Alexander (Paul Dano) é inseguro, carente e incompreendido, sempre sendo negligenciado pelos demais, a ponto de ignorarem tudo o que fala e sente.

KW (Lauren Ambrose) é a última do grupo. Doce, gentil e sempre evitando conflitos desnecessários, a criatura traz toda representação materna para o garoto, preferindo se afastar do grupo para refletir sobre aquilo que quer. É com ela que Max encontra força para enfrentar seus monstros e é nela que ele encontra a proteção necessária quando as coisas apertam.

Todas as brincadeiras servem para espantar a solidão crescente, trazendo momentos de diversão poderosos seguidos de um silêncio melancólico. Até mesmo quando a bagunça dá errado, precisamos de um tempo para encarar o problema e lidarmos com as consequências dos atos.

Tecnicamente o filme brilha. Seja pela fotografia inspirada ou pela magnifica composição analógica/digital dos monstros, tudo aqui soa magnifico. Os cenários minimalistas e espaçados, dando um ar de imensidão contemplativa, transportam os espectadores a tons mais profundos, ao mostrar que até mesmo nossos monstros soam minúsculos em meio a toda aquela imensidão.

Onde Vivem os Monstros é uma leitura melancólica sobre a solidão infantil, que salta direto das páginas para nos mostrar que todos temos algo selvagem dentro de nós. Enquanto constrói uma narrativa doce-amarga, o longa mostra que até mesmo a imaginação infantil comete erros e é só quando encaramos nossos piores lados que podemos verdadeiramente crescer.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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