Crítica | Estou Pensando em Acabar com Tudo (I’m Thinking of Ending Things)

Nota
4

“Estou pensando em acabar com tudo.
Quando esse pensamento chega, ele fica.”

Lucy está namorando Jake a cerca de um mês, ou sete semanas (ela não lembra ao certo), mas, a pedido de seu namorado, resolve embarcar numa viagem pelos frios caminhos que levam até a fazendo dos pais de Jake, para conhecer seus futuros sogros, uma viagem que poderia ser normal se não fosse por dois grandes dilemas: Lucy está pensando em acabar seu namoro e, desde o momento em que a viagem começou, tudo começou a ficar cada vez mais estranho, inclusive o comportamento de Jake.

Lançado em alguns cinemas em 28 de agosto de 2020 e, posteriormente, distribuído mundialmente pela Netflix em 4 de setembro do mesmo ano, Estou Pensando em Acabar com Tudo é uma obra de arte adaptada por Charlie Kaufman, com base no livro homônimo de Iain Reid, onde o roteirista mostra toda a sua habilidade, que já lhe rendeu um Oscar, e ainda assume o posto de diretor e produtor. No decorrer da trama, vamos sendo levados por uma viagem pelo psiquismo, que começa com uma construção bem sombria, típica de todo filme de terror psicológico, mas aos poucos vai tomando tons de suspense que nos carrega por uma viagem para dentro de uma mente completamente perturbada, algo que é complementado pela fotografia da produção, que nos joga em um ambiente tão incomodo quando toda a situação que Lucy passa a viver, uma trama tão confusa quanto genial, que se alterna com cenas do misterioso zelador idoso, que vaga por uma escola a noite cumprindo seu rotineiro trabalho, algo que parece não ter sentido no inicio, mas que vai nos encaminhando para um inesperado final.

A trama se revela complemente insana, sendo aquele tipico onde não existe gostar ou não, mas sim entender ou não, levando a uma introspecção tão voraz que pode ser dificil se deleitar perfeitamente com o filme. Com diálogos bem calculados, um elenco maravilhoso e cenas que te deixam com uma constante sensação de estranhamento, nervosismo e apreensão, algo que se torna a cereja do bolo para uma produção excepcional, mas peca no momento em que se perde em sua própria trama, deixando buracas demais na narrativa, mesmo depois que o jogo vira completamente e começamos a entender a verdadeira história que estava sendo contada o tempo todo, algo que vai muito além de Lucy, Jake, AmesYvonne, Suzie, Dean ou Louise, algo que só ganha cores por conta do elenco de ouro que existe na produção. Logo de cara somos levados a nos apegar no protagonismo de Jessie Buckley, que é carregada nessa insanidade de camarote, nos guiando pelo estranho mundo que é arremessada e nos dando falsas pistas, que só começam a fazer sentido no ato final; ao lado dela temos o excelente Jesse Plemons, que já viveu uma intensa trama psicológica na quarta temporada de Black Mirror, o que deixou nossas expectativas lá em cima, mas eis nesse longa o ator foi além, nos surpreendendo positivamente com toda a trama em que se envolve e com sua atuação exemplar. Mas quem dá um show verdadeiramente é Toni Collette que, ao lado de David Thewlis, é a protagonistas do segmento mais angustiante e envolvente da trama, é surpreendente a transformação que atriz vive, mudando não só a sua aparência, mas ganhando uma personalidade completamente diferente ao mesmo tempo que interpreta as várias fases da vida de Suzie, algo que nos faz nos apaixonar ainda mais pela atriz e ver muito mais do que ela é capaz em cena.

Flertando com o surreal de uma forma tão crua, a produção dá um show de fotografia, um show de direção, um show de roteiro, um show de elenco, um show de maquiagem, não faltam elogios para o que Kaufman, claro que não alcançou todo o seu potencial, mas chegou a arranhar um pouco o patamar da perfeição, nos levando numa metalinguagem até quando nos mostra o lindo filme romântico no Red Line Dinner ou o fantasmagórico comercial da Tulsey Town. Talvez a grande falha do filme tenha sido a indecisão entre ser um terror psicológico ou um filme conceitual, lutando para se igualar às estonteantes obras de Jordan Peele ao invés de seguir dentro das grandes alegorias psicológicas que já o levaram tão perto do careca de ouro.

“Estou pensando em acabar com tudo.
Para que continuar assim?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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