Nota
“No entanto, monstro que é monstro nunca morre. Lobisomem, vampiro, carniçal, criatura sem nome de terras arrasadas. Monstros que é monstro nunca morre.
Ele voltou a Castle Rock no verão de 1980.”
Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode enfim respirar em paz. A cinco anos o serial killer aterrorizou a pequena cidadezinha mas agora não passa de uma lenda urbana para assustar crianças levadas que não querem fazer silencio. Uma lenda urbana para todos, menos para Tad Trenton, um garoto de 4 anos que vive feliz com seus pais exceto por um detalhe; o estranho monstro que habita seu closed. Um monstro animalesco que o visita todas as noites e promete se aproximar cada vez mais, ate que ele não consiga nem ao menos pedir socorro.
Seus pais, Donna e Vic aparentam ter um casamento feliz e satisfatório, mas uma crise se instaurou quando se mudaram da agitada Nova York para a pacata Castle Rock. Donna não consegue se encaixar na vida calma de dona de casa e se sente presa em sua rotina. Donna então procura um perigoso caso extraconjugal para preencher o vazio que parece habitar o seu interior.
Nos limites da cidade vive Cujo, um São Bernardo dócil e amistoso. Com seus 90 quilos, o gigantesco cachorro é o mascote da família Camber que vive em uma pequena casa no alto de uma colina. O lar dos Camber é cercado por brutalidade e inconstância, mas Cujo ama seus donos. Um belo dia de verão, Cujo se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde acaba sendo mordido por um morcego raivoso.
Então começa a transformação do dócil cachorro no pior pesadelo de Tad e Donna, um monstro cruel capaz de destroçar uma pessoa num piscar de olhos. Um monstro que parece enxergar sua alma ou se esconder em seu closed, esperando o momento certo de atacar. Um ser que não vai descansar enquanto destruir a vida de todos ao seu redor e acalmar sua sede de sangue.
Escrito em 1981, Cujo é uma obra espetacular. A escrita de King é avassaladora, e nos faz percorrer o limite do comportamento, equilíbrio e sanidade humana. Stephen King tem um dom em produzir suas historias e ramificações de uma maneira exemplar, mesmo as que parecem mais desconexas no inicio tem uma ligação e motivo para estar ali. É uma serie de acontecimento que vão criando um quadro desesperador para aquele que acompanha, nunca senti um desespero tão grande quanto o que experimentei em Cujo.
Narrado em Terceira pessoa o livro nos apresenta um visão onisciente da situação, o que torna ainda mais desesperador ler um acontecimento se desenvolver e não conseguir impedir que ele afete os personagens que tanto nos apegamos. Tendo foco em se aprofundar nos pensamentos dos personagens e nos mostrar como cada um reage situação. É extremamente aterrador acompanhar os pensamentos do doce Cujo enquanto ele se transforma por conta da doença que consome seus nervos. Acompanhar o desespero de Donna e Tad presos em uma situação sem saída e ver como tudo parece maquinar contra eles. Se existe algo que possa dar errado nesse livro, vai dar errado.
Talvez por isso o livro seja tão assustador, nos sentimos impotentes e desesperados. Perdemos qualquer tipo de controle e apenas acompanhamos um medo que pode ser tão real e tão próximo que nos impede de respirar direito, restando assim se segurar firme na borda do livro e ler com ainda mais determinação as paginas da obra, que consegue nos prender de um modo quase hipnótico.
A construção de personagens é uma coisa sublime, vemos as multifaces de suas personalidades. Temos Clarity Camber que almeja algo melhor para seu filho, Brett e pretende mostrar que o mundo é muito maior do que Castle Rock, antes que seja tarde demais. O próprio Brett, dono de Cujo, tem uma maturidade assustadora para sua idade. Ele consegue perceber as coisas nas entrelinhas e aponta-las de modo sucinto. Temos o egocêntrico e violento Steven Kemp, que não consegue aceitar uma rejeição e entra em uma crise insana de meia idade. Donna é uma personagem forte e complexa, disposta a tudo para proteger o filho dos terrores que espreitam.
Cujo tem uma ligação direta com outra obra do autor; A Zona Morta. Acompanhamos as cicatrizes deixadas por Frank Dodd nas entranhas da cidade de Castle Rock (cidade essa que faz parte da santa trindade construída por King) e vemos como isso afeta cada um em particular, espreitando o livro como uma sombra agorenta de puro ódio.
Fora do mercado nacional a mais de 30 anos, Cujo retorna em uma edição luxuosa e magnifica pelas mãos da Suma de Letras. O livro faz parte da Biblioteca Stephen King que procurar relançar clássicos do autor a muito ausentes no mercado nacional. Com uma capa dura de tirar o folego, que nos presenteia com um baixo relevo na pata do poderoso São Bernardo, o visual impacta tanto quanto seu conteúdo transformando a edição em uma verdadeira obra de arte. A obra ainda apresenta uma entrevista com King, contando sobre suas inspirações pra criar seus livros e como é seu processo de escrita, assim como ele recebe as criticas tanto da mídia como dos fãs e sua visão sobre o mundo literário que vale muito a pena ser lido.
Impactante e arrebatador, Cujo tem tudo para destruir seu psicológico. Um terror que te acompanha mesmo após as ultimas palavras e que nenhuma Palavra para Monstros vai conseguir afastar…
“O medo era um monstro de dentes amarelados, criado por um Deus enfurecido para devorar os incautos e os ineptos”
Ficha Técnica |
Livro Único Nome: Cujo Autor: Stephen King Editora: Suma de Letras |
Skoob |
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...