Crítica | A Babá (The Babysitter)

Nota
3.5

“Eu não sou pervertido. Só quero saber o que acontece depois que eu durmo.”

Cole é um típico garoto fracassado do colegial que sofre bullying na escola e na vizinhança mas, ao contrário de todos os garotos, ele tem Bee, sua melhor amiga, uma estonteantemente bonita adolescente que é sua babá quando seus pais precisam sair para algum hotel, mesmo que ela não seja quem Cole acha que ela é. Numa certa noite, ele decide que quer descobrir o que Bee faz enquanto ele está dormindo, não tomando o copo de bebida que a garota lhe deu e, infelizmente, descobrindo a sua babá comandando um ritual satânico na sua sala, junto com outros quatro amigos. Cabe agora a Cole lutar para sobreviver a esse quinteto de adolescentes até que seus pais cheguem ou que algum adulto apareça para ajuda-lo.

Em 24 de novembro de 2014, Brian Duffield escreveu um roteiro de uma comédia de horror chamada “A Babá”, que acabou sendo comprado pela Wonderland Sound and Vision, produtora de McG, mas acabou nunca saindo do papel. Em dezembro do mesmo ano, o roteiro entrou para a lista dos melhores roteiros não produzidos em Hollywood, ficando na geladeira até setembro de 2015, quando a New Line Cinema resolveu entrar no projeto e financia-lo, que acabou sendo lançado pela Netflix em 13 de outubro de 2017. O roteiro transforma Bee na babá perfeita, ela é uma nerd incrivelmente inteligente, uma deusa surpreendente bonita e uma empoderada líder de uma seita, que une seus asseclas e atrai seus sacrifícios, é surpreendente a conexão que existe entre Bee e Cole, uma amizade verdadeira e tão pura, que nos surpreende quando vemos as verdadeiras intenções de Bee, construindo uma trama onde ficamos o tempo todo tentando entender essa antagonista enquanto acompanhamos a saga do nosso protagonista.

Claro que não bastava só o roteiro maravilhoso de Duffield e a direção bem controlada de McG para o filme ser bem sucedido, ele mistura bem seus ingredientes familiares com sua base técnica enérgica, mas seu verdadeiro tempero é o seu elenco matador. Samara Weaving, que vive Bee, e Judah Lewis, que vive Cole, são os responsáveis por carregar o filme nas costas, criando uma dinâmica surpreendente no papel da babá perfeita demais e da criança extremamente inteligente que precisa amadurecer em alguns minutos, fica muito interessante ver a conexão que existe entre os protagonistas, que parece quase surreal no começo do filme mas, aos poucos, vai se tornando palpável e crível, nos preparando para levar o baque no momento em que a verdade sobre Bee é revelada, nos fazendo entender por que uma garota tão perfeita tem um apego tão grande ao seu protegido, ou seria sua vítima?

O elenco ainda se completa com presenças como a de Robbie Amell, que interpreta um dos membros do culto, o musculoso quarterback Max, que assume o papel da força braçal do grupo, que mostra um bom coração em um dado momento contrastando completamente com sua fúria assassina do resto do longa. Outra membro do culto é Bella Thorne, que interpreta a fútil líder de torcida Allison, que encarna completamente o papel da popular maléfica e equilibra completamente com as cenas de humor quando vemos a incrível futilidade da garota com sua beleza e, incrivelmente, ainda vive uma reviravolta interessante quando se revela o motivo de ela ter se envolvido com o culto. Hana Mae Lee chega praticamente como uma ‘cota asiática’ do longa ao viver Sonya, mais uma das membras do culto e que assume o papel da sádica nipônica, a garota que não tem medo de nada e ama ver sangue e pessoas sofrendo, ela é quase tão fria quanto Bee, apesar de a loira ser muito mais dissimulada que a asiática, mas consegue nos conquistar com seu jeito contido e tenebroso. O culto se completa com John, interpretado por Andrew Bacharel, que assume o papel do maior alivio cômico do longa, o negro que teme aos estereótipos, que entra no culto morrendo de medo de ser o que mais tem a perder caso tudo seja descoberto, e que serve basicamente para viver sendo banhado com sangue de todos ao seu redor.

No fim das contas, fica claro que A Babá começa como um horror que homenageia os clássicos dos anos 80, levando toda aquela atmosfera trash para a tela de nossas casas, rapidamente despontando como um dos melhores originais da Netflix da fase inicial do streaming, construído com uma estrutura que poderia nos levar a um plot twist inicial surpreendente se a própria sinopse não o traísse (revelando logo de cara que Bee é a líder de uma seita satânica), mas que nos surpreende com a forma como constrói os eventos, com suas cenas cheias de momentos divertidos e uma estética bem bacana. Com uma premissa meio tosca, a produção reconhece suas origens, usa sua própria estupidez como ponto-chave, brinca com os clichês através de seus ‘vilões’, e engaja pesado em sua fotografia, que brinca com as cores, para criar uma boa atmosfera, e combina sua cenografia com uma boa dose de trilha sonora instrumental do horror e uma direção de arte bem high school com toques cibernéticos (e letreiros que dão um toque a mais na produção).

“Eu não preciso mais de babá.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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