Crítica | Convenção das Bruxas (The Witches) [1990]

Nota
4

“As bruxas de verdade se vestem com roupas comuns e se parecem com mulheres comuns.
Elas moram em casas comuns e têm empregos comuns. Todos os países do mundo tem bruxas.”

Helga Eveshim cresceu na Noruega investigando sobre as bruxas, procurando entender mais sobre essas criaturas, que habitam o mundo todo e se disfarçam entre os humanos, para se proteger dessas monstruosas caçadoras de crianças. Helga começou a investigar sobre esses seres depois que testemunhou o que aconteceu a uma menina de sua rua, que foi pega por uma bruxa e trancada dentro de um quadro, onde ela sempre via a menina mudando de lugar e envelhecendo junto com ela. Agora que envelheceu, resolveu passar seu conhecimento adiante, ensinando seu neto, Luke, a se proteger contra essas mulheres, sabendo identificar uma bruxa através de seus intensos olhos violetas e seus comportamentos persuasivos.

Por um acaso do destino, Helga acaba descobrindo ter diabetes, o que a obriga a ir se hospedar em um hotel perto do mar, na Inglaterra, para se tratar, o mesmo hotel onde está hospedada Eva Ernst e suas seguidoras, um grupo de mulheres misteriosas que estão prontas para fazer uma grande convenção em contra os mal tratos contra as crianças. Vagando no hotel, Luke acaba conhecendo Bruno Jenkins, um guloso garoto que logo acaba se tornando seu amigo, e, por pura curiosidade, acaba o acompanhando para dentro daquela assustadora convenção atrás de comida, o que os faz descobrir que na verdade estão metidos no perigoso covil das bruxas, que estão fazendo sua reunião periódica e estão recebendo a lendária Grande Rainha Bruxa, Eva Ernst, a única bruxa que Helga sempre desejou ver e nunca descobriu a identidade, uma reunião onde é discutida novas formas de acabar com as crianças do país, transformando-as em ratos.

Baseado no livro infantil “As Bruxas“, de Roald Dahl, o longa adaptado por Allan Scott transborda bom gosto e atenção a medida que vai se desenrolando, vamos vendo a construção de uma mitologia cativante no começo do longa, ao ouvir os relatos de Helga, e vamos sendo conquistados pela inocência de Luke, a medida que vamos vendo o quão crédulo é o garoto e o quanto ele está pronto para seguir o legado de sua avó e lutar contra as bruxas que encontrar pelo caminho. Quando a trama é levada ao hotel, toda a fotografia muda do bucólico dia a dia de avó e neto para um instigante clima de aventura e mistério, principalmente quando Anjelica Huston surge, com toda a pompa e superioridade que só uma atriz espetacular como ela é capaz de ter, esbanjando poder a cada cena em que aparece, sendo endeusada por suas servas e fazendo jus ao título de Grande Rainha Bruxa.

A direção de Nicolas Roeg é outro primor do longa, o diretor consegue conduzir cada cena de uma forma que ficamos grudados com a tela, querendo saber o que vai acontecer a seguir, nos colocando na pele de Luke no momento de tensão em que ele está vendo o desenrolar da convenção das bruxas e na adrenalina do garoto quando, na forma de rato, luta para derrotar o clã inteiro de um país. Roeg deixa claro que sabe dirigir perfeitamente da mesma forma que é um excelente diretor de arte, e consegue deixar em tela até discretos relances de brilhantismo que o elevam em seu ramo. Outro grande destaque do filme é Jasen FisherMai Zetterling, os heróis da trama que assumem duas grandes personalidades no decorrer do filme, nos conquistando e nos fazendo torcer cada vez mais por eles.

Jasen, mesmo sem aparecer muito tempo em tela, cria um Luke astuto, corajoso e determinado, ele não pensa só em si, mas pensa em todas as crianças do país e em como vai salva-las. Seu objetivo não é voltar a ser humano, é unicamente impedir que o mesmo destino seja dado às outras crianças, por isso ele luta incansavelmente com as bruxas e as encara sem titubear em momento nenhum. Já Mai parece uma criança na pele de Helga, ela é crédula e ativa de uma forma sensacional, ela entra no meio da missão como se fosse mais uma criança pronta para fazer de tudo para derrotar as bruxas, principalmente quando descobre que Eva é a inimiga pela qual ela dedicou a vida a encontrar, e que aparentemente ela já encontrou mas nunca percebeu quem ela realmente era. A grande falha no desenvolvimento da personagem talvez tenha sido dar tanta ênfase ao dedo cortado de Helga mas não contar como isso aconteceu, uma brecha que poderia ter dado mais pompa ao filme caso tivesse sido colocado a culpa num encontro passado entre Helga e Eva, dando ainda mais motivações para o embate ideológico que existe entre as duas anciãs.

Apesar de Convenção das Bruxas ter sido um filme que não envelheceu tão bem, ele é um daqueles filmes que causa uma nostalgia dos anos 90 até pra quem nunca o assistiu na infância, dando aquele gostinho de ‘halloween de antigamente’ e de ‘sessão da tarde’. Feito numa época em que o CGI não era uma opção viável na produção, o longa investe pesado em efeitos práticos e maquiagem, que são maravilhosos e criam bruxas tão bem construídas quanto marcantes, é impossível não pensar em um filme sobre bruxas e não lembrar imediatamente na verdadeira aparência de Eva Ernst ou da performance de Anjelica Huston, assim como é impossível não rir pela simples presença de Rowan Atkinson em tela, com uma participação no papel do gerente do hotel. A produção não chegou ao patamar de um clássico cult, mas com certeza é um clássico e vale muito a pena ser assistido, não importa suas falhas, ele sempre será perfeito, divertido e gratificante.

“Bruxas da Inglaterra… Vocês são uma desgraça. Bruxas miseráveis, vocês não prestam pra nada!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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