Nota
“Eu sei que você está aí. Eu posso sentir sua presença. Sei que está com medo. Está com medo de nós. Está com medo de mudar. Eu não conheço o futuro. Não vim lhe dizer como isso terminará… eu vim dizer como vai começar.”
Thomas Anderson (Keanu Reeves) vive uma vida dupla. De manhã, ele trabalha como um simples programador de uma companhia de software, obedecendo seu rigoroso chefe e engolindo sapos do dia-a-dia. De noite ele assume seu alter-ego, Neo, um hacker extremamente competente que ganha a vida invadindo sistemas e roubando dados.
Sua vida muda drasticamente após receber uma serie recorrente de visitas cibernéticas de um suposto terrorista, denominado Morpheus (Laurence Fishburne), que parece observar seu cotidiano e saber muito sobre as ações do rapaz. A partir desse momento, Neo começa a ser perseguido por sinistros agentes, que ele supõe ser do governo, o colocando em uma situação inesperada que foge de qualquer realidade que ele poderia imaginar.
Salvo por Trinity (Carrie-Anne Moss), o rapaz se vê de frente com seu estranho observador que lhe da a escolha de descobrir, com seus próprios olhos, uma verdade dolorosa que vai mudar sua visão de mundo. Disposto a ir até o fundo desse mistério, Neo entra em uma realidade onde, não só ele, mas toda a humanidade é controlada por um sistema inteligente e artificial que manipula a mente humana com a ilusão de simulação interativa neural para usar sua energia em vantagem própria: a Matrix.
Alguma vez você já sentiu algo errado com o mundo que vivemos? Como se fizéssemos parte de algo controlado por outra pessoa, com falhas ocasionais que nos fazem duvidar se tudo isso é real. Afinal, estamos realmente aqui? Podemos provar nossa existência? Ou seria tudo apenas uma ilusão semiótica para o que querem que vejamos?
Tendo essas duvidas em mente e elaborando uma das maiores aventuras da última década, as Irmãs Wachowski criaram uma saga de ficção-científica que revolucionária o molde cinematográfico. Idealizada inicialmente como uma trilogia, Matrix trouxe um novo aspecto cultural que atravessaria barreiras e ganharia uma verdadeira legião de fãs. Mesmo agora, décadas após seu lançamento, o longa se mostra tão atual e significativo quanto foi em sua estreia, demonstrando a qualidade do projeto e a genialidade de suas criadoras, que acrescentam camadas precisas sobre sua obra-prima.
Com uma fluidez impecável, o longa nos conduz através da toca do coelho, explorando uma cadeia de eventos tão orgânica e interessante que nos prende a cada segundo de sua duração. Cada ponto de revelação, muito bem aplicados à trama pelo roteiro primoroso, nos deixa ainda mais curioso para conhecer as peculiaridades do universo que acabamos de conhecer. As frases repletas de mistérios, que não deixam claro o que vieram dizer, se encaixam com perfeição a ponto de procurarmos ainda mais detalhes naquilo que sabemos.
A caracterização de universo é outro ponto sublime, nos mostrado em momento oportunos que nos fazem mergulhar de cabeça na história. A Matrix assume um tom esverdeado, quase como se estivéssemos vendo os dados do programa ganhando vida diante dos nossos olhos, nos mostrando que algo levemente errado está acontecendo no “mundo real”. Já a realidade distopica assume um ar azulado, sujo e sucateado de uma terra devastada por máquinas e quase incapaz de sustentar a vida humana.
Mas, o que verdadeiramente chama a atenção, são os efeitos visuais que compõem uma identidade audiovisual única para o obra. A construção das cenas, somada com o excelente trabalho técnico, nos fazem imergir na loucura dessa nova realidade, os tornando ao mesmo tempo absurdos mas estranhamente criveis dentro daquele contexto. Como não lembrar da icônica cena do desvio de balas do protagonista ou, até mesmo, o teste de salto que se tornou tão marcante a ponto de serem referenciados por várias outras criações futuras.
Os personagens são tão interessantes quanto a obra em si. Neo é nossa representação dentro do universo, sendo colocado em um ambiente totalmente novo que o tira do seu lugar comum. Crescemos com ele ao longo da narrativa e passamos a entender em conjunto esse novo universo, acompanhando sua jornada do herói e todas as camadas que o personagem nos apresenta. Keanu Reeves foi uma escolha excelente para o protagonista, nos fazendo acreditar em cada uma de suas viradas e querer acompanhar sua jornada. Duvidamos com ele, sofremos com ele e vibramos com suas conquistas, demonstrando o forte laço que une o personagem ao expectador.
A Trinity de Moss é mais centrada, sendo nosso ponto de encontro com essa nova realidade a ponto de quebrar a doce ilusão em que vivemos. É com ela que o filme se introduz, em uma cena de tirar o fôlego, e é ela que avisa a Neo sobre os perigos que ele corre, sendo o primeiro contato físico dele com o novo universo. Trinity vai ganhando novas camadas e crendo, mesmo sem querer, no que parece impossível, trazendo um cerne tão humano que nos conquista imediatamente.
Morpheus ganha um aspecto quase lendário e intocável, que entra em contraste com sua representação fora do mundo simulado. Na Matrix ele é o mentor, inabalável e imponente que conduz seus companheiros com precisão, já fora dela ele ganha um ar mortal e paterno de alguém que vê em seu discípulo a esperança de um mundo melhor e menos sombrio. Fishburne consegue imprimir toda bondade, sabedoria e integridade do seu personagem, trazendo um ar benevolente e calmo a sua persona, que nos faz acreditar em tudo que ele acredita… mesmo quando isso parece inalcançável.
O Argente Smith (Hugo Weaving) nos é apresentado como um mecanismo de defesa da realidade, que esta ali para cumprir seu papel. Frio, calmo, metódico e calculista, ele age de forma rasa e eficiente, demonstrando tudo que esperávamos de uma figura criada por um computador. Mas acontece que sua persona se transforma ao longo da trama, demonstrando ser tão humano quanto os despertos, a ponto de ter uma vontade própria e desejar ser liberto das amarras que o prende, o tonando um antagonista perfeito para a narrativa.
Mesmo 20 anos após seu lançamento, Matrix se mostra um filme excelente, que não só revolucionou o cinema mas virou referência para a cultura pop. Atravessando suas barreiras e trazendo uma harmonia invejável entre seus componentes, o longa apresenta uma trama complexa e circular, que mereceu seu posto como uma das obras-primas das últimas décadas.
“Esta é sua última chance. Depois disso não haverá retorno. Se tomar a pílula azul… fim da história. Vai acordar em sua cama e acreditar no que você quiser. Se tomar a pílula vermelha… fica no País das Maravilhas… e eu vou mostrar até onde vai a toca do Coelho.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...
