Resenha | Ponte Para Terabítia

Nota
4.5

“— Antes de chegar a hora e a gente viver uma coisa, nunca dá mesmo para saber como é que vai ser.”

Jess Aarons tem um único objetivo em seu novo ano escolar: ser o corredor mais rápido da Escola Primária do Corredor da Cotovia. Sendo o filho do meio em uma família de mulheres, Jess sente-se solitário e entediado, recebendo a maior parte do trabalho para que suas irmãs mais novas não precisem fazê-lo, enquanto suas irmãs mais velhas sempre conseguem escapar ilesas do serviço. Mas, tudo isso está prestes a mudar com a chegada inesperada de uma nova vizinha.

Leslie Burke não é como a outras garotas que Jess conheceu. Ela é arteira, curiosa e cheia de peculiaridades e, embora tenha uma vida melhor, se sente tão solitária quanto o vizinho, o que acaba aproximando e tornando-os melhores amigos. Com o avançar da amizade, eles percebem inúmeras qualidades entre si e acabam criando um reino mágico onde podem se esconder dos problemas mundanos, um local onde são soberanos e com um pequeno ato de coragem podem se livrar de tudo o que os cerca: Terabítia.

Suas aventuras no reino mágico começam a mudar sua visão de mundo, trazendo novas camadas a sua vida cotidiana enquanto aprendem mais sobre si e tudo o que os rodeia. Mas, até mesmo os lugares mais fantásticos enfrentam suas crises, que só verdadeiros soberanos podem resolver.

Algumas obras conseguem nos marcar profundamente, abrindo nossos horizontes e criando uma verdadeira ligação com o público que as lê. Elas, por mais simples que possam parecer, conseguem atravessar as páginas e nos fazer refletir sobre pequenas coisas, mostrando uma maravilha não explorada e uma mistura de sentimentos impecáveis que nos acompanham muito tempo após a leitura.

Ponte para Terabítia é um ótimo exemplo daquilo que falei acima. Escrito em 1977 pela brilhante autora Katherine Paterson, o livro constrói sua narrativa de forma sensível e arrebatadora, demostrando o cuidado da autora com seu real significado. O livro consegue transmitir toda a inocência e duvidas da infância, transportando-nos para problemas mais simples e imaginativos, nos mergulhando em seu texto magnifico.

Não é a toa que a autora traz questionamentos pertinentes que nem mesmo adultos conseguem responder, mostrando assim que todos estamos sujeitos a investigar mais a fundo nossas próprias crenças em como o mundo realmente funciona.

Embora seja curto e bastante rápido de se ler, a obra possui camadas profundas que envolvem seu leitor e nos convida a explorar o cotidiano de seus protagonistas, nos aproximando aos poucos e criando verdadeiros laços com cada um deles. O livro ainda explora a sutileza nas diferenças de seus protagonistas, que tem muito a acrescentar um no outro enquanto expande seus horizontes de forma significativa.

Suas personas são tão carismáticas e humanas que se torna impossível não se agradar ou detestar cada um em seus peculiares momentos. Eles são cheios de defeitos e repletos de sentimentos reais, o que traz ainda mais pureza e autenticidade a trama, além de ser um convite aberto para nos afeiçoarmos as suas imperfeições.

Jess conhece apenas aquele seu mundo, sendo isolado e solitário enquanto tenta se destacar de alguma forma. O garoto sente falta do afeto paterno e vive se reprimindo por isso, tornando seu cotidiano ainda mais difícil por encobrir seus sentimentos e dons artísticos. Com a presença de Leslie, ele passa a conhecer mais sobre si mesmo e sobre o mundo lá fora, transpondo as barreiras sociais que a situação financeira família lhe impôs, e despertando um novo lado dentro de si.

O personagem possui sim ações questionáveis, o que o torna ainda mais esplêndido em seu processo de evolução, trazendo avanços e regressos bem construídos, que condizem com a fluidez narrativa aqui mostrada.

Leslie nos conquista desde o primeiro segundo, mudando não só a vida de Jess como o tom narrativo. A garota se destaca naturalmente em seu novo ambiente, virando alvo daqueles que estão ao seu redor e não dando a mínima para isso. Leslie é um espírito livre, repleta de uma verdade única e agradável que não tem medo de ser quem é e muito menos de aproveitar seus dons.

O livro ainda nos apresenta a doce May Bell, irmã mais nova de Jess, que tem o irmão como uma herói, que sempre precisa manter por perto. É adorável ver seu carinho para com ele, embora nem sempre seja correspondida pelo mesmo.

Com um sabor agridoce mas bastante agradável, Ponte para Terabítia consegue nos acertar em cheio e despertar sentimentos profundos adormecidos em nossa alma. Seja pela doçura da infância ou por seu final inesperado, a obra nos abraça e nos consome em uma jornada de auto aprendizado, que nos faz retornar a tempos mais simples, onde podíamos ser Reis de nossa própria imaginação.

“Feche os olhos, mas mantenha a mente bem aberta”

 

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Ponte para Terabítia

Autor: Katherine Paterson

Editora: Salamandra

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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