Nota
“Dentro desse corpo seminu tem um coração, um cérebro, sentimentos e sonhos, é por isso que fica bonita nas fotos.”
Klaudia é uma supermodelo, que vive sendo requisitada para ser a garota propaganda de vários produtos que exigem uma bela garota. Ela tira de letra todos os trabalhos com seu belo corpo, seus deslumbrantes cabelos castanhos cacheados e seus sedutores olhos azuis. Monika é uma mulher comum, ela é uma desastrada professora de ensino infantil que luta dia após dias para provar a seu diretor que novos métodos de ensino podem ser mais eficazes que os antiquados métodos que a escola impõe, lutando para ensinar seus alunos, ter uma vida equilibrada e ser feliz. Duas mulheres completamente opostas mas que tem um único segredo, Monika e Klaudia são a mesma pessoa.
Depois que o pai de Monika se afundou em dividas com agiotas, a jovem moça criou Klaudia, a mulher perfeita, capaz de conseguir milhares de propostas de trabalhos, de ganhar um cache alto, e de garantir que, em poucos meses, ela poderia saldar a divida de seu pai. Mas tudo muda quando Enzo aparece na vida das duas identidades dessa mulher. A proposta desse filme polonês roteirizado por Wiktor Piątkowski e Marzanna Polit é justamente mostrar o quanto o amor pode ser inoportuno e o quanto as pessoas podem ser cegadas pelo seu preconceito. Claro que a maquiagem é um grande ponto a ser considerado no filme, a sequencia inicial que mostra Klaudia se desmontando e se transformando em Monika é a maior prova de que essas duas mulheres são completamente opostas, talvez pudessem ser irmãs, mas é quase impossível perceber que são a mesma pessoa, a peruca, os olhos, a maquiagem, tudo faz elas serem diferentes, mas nada é tão forte assim a ponto de um conhecido não perceber que há muitas semelhanças. Ninguém iria cogitar imaginar que a supermodelo e a professora medíocre seriam a mesma pessoa, mas é de surpreender que Enzo, que rapidamente se apaixona por Klaudia, tenha sido superficial o suficiente para não enxergar que Monika era a mesma pessoa.
Todos sabemos o quanto a marca registrada das comédias românticas é usar e abusar bastante dos clichês, mas o longa dirigido por Filip Zylber vai além dos limites, desenvolvendo o enredo de uma forma muito mal executada, forçando a barra no que já era óbvio e nos prendendo à esperança de uma melhoria que nunca chega. Temos atores que trazem uma força visual ao enredo e uma atuação que nos cativa, mas o romance de Monika/Klaudia e Enzo pede mais tempero, ele é tão clichê e insosso que perde completamente aquela crocância que esperamos ver num triangulo amoroso. Tudo piora pela falta de química entre Adrianna Chlebicka e Mateusz Banasiuk, o que piora ainda mais pela construção dos personagens, que parece transformar o ator em um playboy com toques de gigôlo esnobe e a atriz numa ‘Betty, a feia’ (que só precisa de um tapa no visual para ficar linda) com complexo de Clark Kent (já que ela literalmente parece se transformar em outra pessoa quando coloca os óculos). Mesmo com essas falhas, fica claro a competência de Chlebicka, que consegue construir duas personagens gostosa de ser assistida, mesmo que o roteiro pareça esnobar com Klaudia e a transformar numa aberração artificial e superficial.
Lembrando muitas daquelas comédias canastronas produzidas em nossas terras, o longa falha bastante em diversos pontos: ele não constrói um romance que convença, ele não constrói uma reviravolta que nos prenda, e nem mesmo consegue construir uma comédia que nos divirta. Claro que sempre fica no ar aquela ideia da exportação, de pensarmos se não perdemos muito do humor do filme por conta das traduções ou da falta de carga cultural polonesa, mas também é preciso lembrar que um filme polonês feito para agradar ao mundo precisa se desapegar dessas amarras e criar um humor universal e um romance globalmente possivel de ser entendido. Amor² tinha tudo para ser um filme agradável quando apresentou sua proposta, mas, provavelmente por falta de habilidade de Zylber para amarrar bem o roteiro, acaba perdendo completamente seu potencial de deixar de ser um roteiro mal feito e se transformar num guilty pleasure divertido.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.