Crítica | A Caminho da Lua (Over the Moon)

Nota
3.5

“- Então, quando a lua tá grande e redonda, é por que o Cão Espacial não mordeu ela?
– É quando a Deusa da Lua, Chang’e, obriga ele a cuspi-la!”

Há muitos anos, Chang’e vivia um grande amor com Houyi, mas tudo mudou quando ela acabou tomando a poção da imortalidade e sendo elevada à lua, sendo separada de seu grande amor e se tornando a Deusa da Lua. Chang’e passou o resto de sua existência esperando para se reencontrar com Houyi, mesmo depois de ele ter morrido como humano. Fei Fei passou toda a sua infância ouvindo as histórias de Chang’e, que eram contadas por sua mãe, até o dia em que elas forma separadas pela morte. O tempo passou e o pai de Fei Fei acabou conhecendo uma outra pessoa, fazendo Fei Fei resolver encontrar Chang’e para provar que o amor eterno existe e que ele não deve se casar novamente.

Baseado num roteiro escrito por Audrey Wells, com a colaboração de Alice Wu e Jennifer Yee McDevitt, o filme produzido pela parceria entre a Pearl Studio, a Netflix Animation e a Sony Pictures Imageworks junta muitos elementos narrativos que parecem uma linda homenagem ao folclore da China, com uma história bem bonitinha, personagens visualmente cativantes e muitos ingredientes bastante familiares, mas que começa bem e, pelo perdão da piada, não decola. A trama, que tem uma base bem interessante e parece prometer uma aventura cheia de primor visual e cheio de reviravoltas e reflexões, começa a se desenrolar de uma maneira que não nos empolga, se tornando confuso, clichê e um pouco infantilizado demais, mesmo que todo o processo não tire o caráter reflexivo que o filme possui em sua conclusão.

Cheio de elementos visuais bem coloridos, musicas como enfeites do roteiro e um forte protagonismo feminino, é muito fácil achar que A Caminho da Lua poderia ser uma produção Disney, até por que o longa traz em seu cerne toda aquela trama familiar bem estruturada que é o pontapé inicial de muitas das animações do selo do Mickey Mouse, mas logo ele começa a se distanciar a medida que seu cerne vai se despedaçando com o desenrolar do enredo. A direção de Glen Keane talvez seja a fonte desse DNA Disney na animação, já que o cineasta traz em seu currículo o trabalho de animação em filmes como A Pequena Sereia, Aladdin, A Bela e a Fera, Tarzan, Planeta do Tesouro e Enrolados, mas o diretor acaba não tendo a mesma competência de seus antigos colegas de trabalho, já que mesmo com a co-direção de John Kahrs (que trabalhou em Vida de Inseto e Frozen e ganhou o Oscar 2013 por Paperman) ele não consegue fazer na Netflix a produção bem sucedida como as que colaborou na Disney.

Outro dos grandes erros do longa é a sua escolha sonora, o filme é um gracioso musical mas que não sabe encaixar bem suas musicas no roteiro, fazendo com que elas surjam até em momentos inoportunos e que não soem harmoniosas com a trama, ficando mal encaixadas e, até, parecendo desnecessárias para o desenrolar da trama. Seguindo completamente a formula da cartilha de filme para emocionar, A Caminho da Lua tinha tudo para ser o grande acerto entre as animações da Netflix depois de Klaus, mas erra ao exagerar na formula Disney de uma forma que nem a Disney é capaz de fazer. O longa é uma bela aula sobre luto, perda, aceitação e conquistas, mas ele tem em suas mãos um dos mitos mais ricos da cultura chinesa (a história da deusa da lua, Chang’e, e seu verdadeiro amor, Houyi, o arqueiro) e não dá a atenção merecida a ele, a história de Chang’e tem um grande paralelo com a evolução de Fei Fei, mas a deusa fica escanteada no longa, fazendo uma base tão rica ser usada unicamente como sub-trama.

“Nosso amor eterno, nunca se esvai.”

 

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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