Crítica | O Som do Silêncio (Sound of Metal)

Nota
4.5

“Sr. Stone, sua audição está se deteriorando rapidamente.
E nos próximos dias, ou mesmo horas, isso vai continuar.
E a audição que o senhor perdeu não vai voltar mais.”

Ruben Stone é o baterista da banda Blackgammon, que é formada por ele e sua namorada, Lou. Ele é um ex-dependente químico e está sóbrio há quatro anos, mas perde completamente o sentido de sua vida quando, repentinamente, começa a perder sua audição, o seu maior instrumento e por onde ele deleita seu maior prazer, a música. Agora, Ruben, com a ajuda de Lou e Joe, um carismático líder de uma comunidade de deficientes auditivos, precisa aprender a conviver com essa nova condição enquanto fica ‘internado’ nesse novo estilo de vida.

O drama estadunidense dirigido por Darius Marder, e roteirizado por Darius e seu irmão, Abraham Marder, se compromete em ir fundo numa grande questão pouco explorada, a aceitação da surdez. Já é muito comum vermos filmes e mais filmes que mostram a surdez como uma característica, como um desafio ou como um aliado, mas os irmãos Marder resolveram ir além e quiseram trazer a surdez como um possivel inimigo, colocando o dilema de um músico, que usou a musica e o amor para se reerguer do mundo das drogas, e que acaba tendo que abrir mão de tudo isso por conta de um novo status quo em sua vida, ele precisa abandonar a musica, que é seu sustento e sua motivação de viver, e entrar para uma comunidade imersiva, onde vai aprender a ser um surdo mas precisa ficar sem contato nenhum com o mundo externo e, principalmente, com sua namorada.

Com uma atuação impecável de Riz Ahmed, Ruben vai nos carregando por uma angustiante viagem pela surdez, e isso só é potencializado pelo trabalho genial de Darius Marder. Angustia é a palavra de ordem no segundo ato do filme, como dito anteriormente, Darius transforma a surdez em um vilão, e somos forçados a ver isso sobre os olhos de Ruben. Quando o musico entra para a comunidade, ele é um peixe fora d’água, ele não escuta quase nada, ele não compreende os outros e, principalmente, ele não sabe entender linguagem de sinais, e o longa deixa a angustia do protagonista bem clara com seus cortes onde somos submetidos ao silêncio absoluto, que é o que Ruben escuta, encarando várias pessoas sorrindo e se divertindo enquanto conversa por linguagem de sinais, uma conversa que intencionalmente não é traduzida, nos deixando perdidos, como se tivéssemos assistindo ao filme sem legenda em uma língua que não entendemos, e é essa angustia, a angustia de não poder se comunicar e nem entender àqueles ao seu redor, que o diretor faz questão de nos fazer sentir, a angustia que o seu protagonista está sentindo e que nós precisamos entender. Essa intenção fica clara no momento em que temos um pequeno salto no tempo, para o momento que Ruben aprende a linguagem de sinais e que todas as conversas, mesmo as mais silenciosas, passam a ser legendadas.

O Som do Silêncio nos surpreende com sua enorme densidade, que é conduzida pelo seu discurso direto, nos obrigando a encarar a cruel realidade ao mesmo tempo que se enche de entrelinhas que nos levam a reflexões além do esperado. Ao nos colocar na pele de Ruben, o longa nos faz compartilhar suas frustrações, seus dilemas, suas decepções e seus medos. A vida de Ruben passa por várias fases, e assistir a todas elas com bem escolhidos cortes de vivência em primeira pessoa é o que torna a experiência única. Com seis indicações ao Oscar, o longa surge como um grande concorrente, nos levando por uma jornada dolorosa e cheia de beleza, que nos força a ver que a vida é feita de altos e baixos, e que cada um tem seu tempo para enfrentar cada desafio, para se adaptar e para encontrar sua felicidade.

O longa perde muito de sua evolução perto de seu ato final, quando vemos Ruben virar as costas para o que aprendeu em busca de algo que talvez tenha perdido, mas em sua cena final, o longa nos presentei com uma sequência cheia de símbolos que mostram que o chute final no balde pode vir acompanhado de uma mudança interna radical, de uma nova ótica da realidade e de uma evolução dificil, que ninguém está preparado para passar: a de enxergar o que realmente significa passado e o que realmente significa futuro, e o quanto suas escolhas podem mudar completamente o seu destino.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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