Nota
“Quando era jovem, eu tinha medo do escuro. Quando eu fiquei mais velha, descobri que a escuridão era um lugar… e ele é cheio de monstros.”
Durante toda sua vida, Alina Starkov (Jessie Mei Li) ouviu falar sobre a terrível Dobra das Sombras, uma maligna fissura que dividia o reino em dois, habitada por monstros sanguinários e invocada por um Grisha lendário em pleno uso de seus poderes. Mas, foi somente quando entrou como cartógrafa do Primeiro Exército, que a moça pode compreender o perigo que a extensão de sombras representava.
Criada em um orfanato, Alina possui um único amigo desde que se entende por gente, Malyen Oretsev (Artchie Remaux), por quem se encontra secretamente apaixonada. Os problemas começam quando Mal é convocado para atravessar a Dobra, deixando Alina desesperada para segui-lo pelas sombras.
É em meio aos perigos do lugar que a garota descobre sua real força, com uma peculiaridade que poderia enfim unir toda a nação. Ela é uma Grisha, uma humana com poderes fantásticos, que possui um dos dons mais raros que já existiu: A Conjuração do Sol. Arrastada para o outro lado do reino, Alina luta para aprimorar seu poder, mas forças perigosas começam a se mover, tendo em vista um único objetivo: capturá-la e usar seu dom em prol de seus próprios interesses.
Leigh Bardugo criou um rico universo, focado na mitologia e história Russa, redesenhando seus aspectos e trazendo inúmeras críticas sociais encobertas pelo misticismo e metáforas do novo ambiente. Seu controle sobre o mundo foi tão preciso que novas sagas foram adicionadas, enriquecendo aquilo que os fãs já conheciam e transformando a trilogia original no magnifico Grishaverse, fugindo do formulaico aspecto que rondava as grandes sagas atuais e trazendo um novo respiro em meio a obra literária.
Visando esse poderoso universo, a Netflix fez sua grande aposta, trazendo para sua plataforma uma adaptação que poderia conquistar um novo público. Tendo em mente um conteúdo ambicioso, o serviço de Streaming convidou dois nomes de peso para encabeçar o projeto, adaptando não só a saga que dá título a série mas sua vertente, explorando ainda mais seu universo.
Shadow and Bone nos joga em seu mundo de maneira um tanto quanto descuidada, mas cria uma crescente que conquista o telespectador e nos faz grudar nossa atenção naquilo que nos é mostrado. Adaptando a Trilogia Grisha e a duologia Six of Crows, a série tem como seu maior desafio costurar histórias tão distintas de uma forma fluida e que faça sentido naquela realidade.
Ao construir seu enredo, a série consegue nos apresentar seus dilemas e pontuar analogias ao mundo real, trazendo aspectos já conhecidos ao espectador e construindo novas camadas à história. O CGI é outro ponto magnifico na jornada, demostrando o cuidado da produção com o que nos é mostrado. Seus monstros, poderes e criaturas são extremamente realistas e bem aplicados, assim como as ótimas coreografias de lutas e ambientação visual das diferentes formas do novo mundo.
Por outro lado, detalhes importantes são apresentados de forma corriqueira, trazendo uma confusão inicial que precisa ser corrigida ao longo da narrativa, embora ela nunca pretenda apresentar aquilo que nos foi dito. Quase como se esperasse que o novo público tivesse informações prévias do que nos é mostrado em tela.
A serie consegue trazer aspectos diferentes e um amplo leque de personagens, ambientando bem suas narrativas e costurando seus diferentes cenários, jeitos e formas naquilo que vamos conhecendo. O roteiro se divide em dois núcleos distintos, trazendo abordagens diferentes que conquistam o espectador. O primeiro segue a clássica jornada da heroína, que descobriu dons fantásticos e precisa lidar com o novo universo fora do seu normal. Já o segundo acompanha um grupo de mercenários que estão em busca de sua própria missão, fazendo de tudo para seguir seu plano.
Toda problemática sofrida pelos personagens ocorre de modo natural, seguindo bem o parâmetro criativo enquanto explora as diferentes possibilidades, mas isso não impede que o roteiro caia em facilitações que levem de um ponto A para o ponto B. Os personagens possuem seu próprio espaço para crescimento pessoal, nos apresentando suas diferentes personalidades e conquistando sua própria jornada dentro da história.
Jessie Mei Li consegue transpor todo o carisma e confusão de sua personagem, trazendo uma ótima ancora do público com sua protagonista. Sua Alina enfrenta um mundo que nunca sonhou, sentindo que realmente não se encaixa no seu novo ambiente e tentando retornar àquilo que já conhece. Menosprezada por sua ascendência, a garota sempre tentou passar despercebida, tendo como único norte seu valoroso amigo. Alina confronta sua verdadeira força logo no primeiro capítulo, absorvendo sua nova realidade que contrasta diretamente com tudo que lhe foi mostrado (e feito) até aquele momento.
Sua amizade com Mal é bem trabalhada, trazendo uma profundidade maior para ambos personagens. Trazer uma nova visão para o rapaz possibilita o fechamento de lacunas na história, desenhando uma personalidade mais crível e palpável, além de um ótimo entrosamento com seu núcleo de ação.
Ben Barnes complementa esse primeiro núcleo, trazendo um verdadeiro show de atuação como o misterioso General Kirigan. Barnes consegue entender perfeitamente a complexidade de seu personagem e expõe, com maestria, as múltiplas camadas ali presentes. Sua presença é forte e marcante e traz uma dualidade implacável que consegue conquistar o público e nos deixar ainda mais curiosos sobre o que ele fará a seguir.
Mas, quem verdadeiramente rouba a cena, são Os Corvos. A temporada serve como prequel dos acontecimentos narrados em Six of Crows, demostrando que seus protagonistas ainda não são aqueles que conhecemos nos livros. Kaz Brekker (Freddy Carter), Inej Grafa (Amita Suman) e Jesper Faher (Kit Yong) trazem uma dinâmica interessante como grupo, demostrando um trabalho engenhoso e afiado que nos deixa atento aos mínimos detalhes.
A junção de universos traz alguns dos melhores aspectos da trama, demostrando o frescor e a construção inabalável que o projeto tem com seu conteúdo. Acredite, cada minuto da interação entre os mundos vale a pena.
Com um grande custo de produção e uma riqueza de detalhes impecáveis, Shadow and Bone mostra-se uma ótima adaptação de sua obra, mas que peca em exigir certos conhecimentos prévios do seu público. Extremamente sedutora e bem feita, a primeira temporada agrada e nos deixa ainda mais extasiados para descobrir o que virá a seguir, dando todos os ingredientes para uma nova franquia de sucesso no streaming.
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...