Review | Love, Death & Robots [Season 2]

Nota
4

“Nosso sistema integrado, Golden Years, diz que você, de alguma forma, ativou o Modo Eliminação.”

Love, Death & Robots é mais uma daquelas séries antológicas prontas para bombar, sendo vagamente inspirada em Black Mirror. Se diferenciando do ‘espelho negro’ apenas por ser animada, a série, que também é da Netflix, trouxe uma primeira temporada espetacular e volta agora com uma nova leva de 8 episódios, que foram servidos aos assinantes no dia 14 de maio de 2021. Produzida por Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller, a série volta bem menos eletrizante que sua leva de episódios anterior, mostrando que existe sim aquela velha lenda da maldição da sequência.

Começando a todo vapor com “Automated Customer Service”, o show nos mostra a vida de uma mulher idosa virar um caos no momento em que, acidentalmente, ativa o Modo Eliminação do seu Aspirobô, fazendo com que seu pequeno robô de limpeza da casa se torne hostil e comece a caçar a senhora e seu cachorro como se fossem pragas que precisam ser destruídas, uma pequena brincadeira sobre os inconvenientes mortais que o futuro pode proporcionar. Um episódio animado pela Atoll Studio que parece querer nos deixar em paz no começo, mostrar um mundo ideal e calmo, mas que rapidamente assume um tom ‘graciosamente’ assustador, mostrando que a maldade reside por trás da inocência e que, realmente, a tecnologia pode oferecer muita comodidade, mas também pode oferecer muito terror (com boas pitadas de humor).

Em “Ice” somos apresentados a Sedgewick e Fletcher, dois irmãos que acabaram de se mudar para um planeta coberto de gelo onde quase toda a população foi modificada, para ter habilidades sobre-humanas, exceto Sedgewick. Produzido pela Passion Animation Studios, a trama brinca com a anormalidade de ser um adolescente normal em meio a vários adolescentes especiais, da vulnerabilidade de não ter poderes quando todos o tem, até seu irmão. A trama nos conduz na busca de Sedgewick por conhecer as Baleias de Gelo e ganhar o respeito dos outros jovens, de provar que pode sobreviver ao desafio sem ser modificado e que é capaz de transitar entre eles sem nenhum prejuízo.

“Pop Squad” chega indo pesado numa grande questão ideológica. Num mundo onde a superpopulação, causada pela imortalidade biológica, faz com que a procriação seja estritamente proibida, o Detetive Briggs comanda a força policial incumbida de executar todas as crianças encontradas e prender os pais que resolvem quebrar as regras, mas sua consciência começa a pesar quando, de forma espontânea, sua namorada, Alice, brinca que gostaria de ter tido filhos com ele. Com uma obscura construção feita pela Blur Studio, o episodio vai fundo na questão moral sobre as leis distópicas de um futuro perfeito e o desejo humano pela paternidade, sobre o grande limite moral entre querer ter um filho e precisar defender uma lei injusta que impede a humanidade de continuar se renovando, o que acaba beneficiando apenas os mais ricos, que vivem seu sucesso paralelo à imortalidade.

Passamos para “Snow in the Desert”, onde Snow, um homem albino, é caçado por conta de sua grande habilidade regenerativa que o torna imortal, uma condenação que acaba o colocando lado a lado com Hirald, um agente da Terra que o protege num bar e acaba se tornando seu grande parceiro de viagem e de aventuras. Maravilhosamente feito pela Unit Image, o capitulo usa todo o seu glamour gráfico para nos apresentar uma bela história de amizade entre dois desconhecidos que carregam grandes segredos, dois andarilhos que são inesperadamente unidos por conta da solidão e do desejo que vem juntos com a ‘benção’ que cada um deles carrega secretamente. A humanidade em Hirald causa um contraste acolhedor com a desconfiança de Snow, assim como a hostilidade imortal de Snow parece se encaixar perfeitamente na personalidade afiada e sincera de Hirald.

Em “The Tall Grass” somos levados até um intrigante acontecimento na vida de um homem comum, um homem que acaba saindo para fumar depois que seu trem quebra perto um campo de grama alta, quando acaba sendo enfeitiçado por alguns sons e luzes estranhos. Quando o homem sai para investigar o que viu, ele acaba se perdendo e indo de encontro a perigosas criaturas semelhantes a monstros carniçais, que transformam seu passeio num pesadelo sem fim. Com um tom mais artístico, a trama animada pela Axis Animation vai fundo num enredo, que se parece muito mais com uma lenda urbana do que realmente uma curta produção que compõe a série, fugindo um pouco da curva comum ao mesmo tempo que nos surpreende com todo a trama sobrenatural que envolve a noite desse tolo rapaz.

Chegando em “All Through the House”, vemos LeahBilly, um irmão e uma irmã que se acordam na noite da véspera de Natal com barulhos no andar de baixo. Acreditando ser o Papai Noel, a dupla desce sorrateiramente pra encontrar uma horrenda figura que os aborda e destrói completamente o conceito de Natal das crianças. Criado pela Blink Industries, o episódio nos leva muito além do nosso superficial conceito de Natal, brincando com o quanto as aparências enganam e o quanto os monstros podem ser bondosos, criando uma bela releitura do popular conceito de Papai Noel e Krampus. Como se não bastasse toda essa construção genial, o roteiro ainda se finaliza com uma clara, porém desagradável. pulga atrás da orelha, que nos deixa em busca de mais informações e se finaliza com um gostinho de incompletude.

Rumando para “Life Hutch”, somos apresentados à história de um desafortunado piloto que acaba caindo perto de um pequena nave abatida depois de quase morrer em uma batalha espacial contra um inimigo alienígena sem nome. Enquanto revive flashes de sua última batalha, o piloto precisa lidar com um robô de manutenção da nave que não está funcionando bem e começa a atacar ele e qualquer coisa que se mova dentro da nave. Com um gráfico quase realista vindo do árduo trabalho da Blur Studio, o episódio tem seu episódio abrilhantado pela presença de Michael B. Jordan, que dubla o protagonista e empresta seu famoso rosto para tornar o episódio ainda mais chamativo, mesmo que ele não tenha um roteiro tão eficiente como tantos outros episódios da série.

Por fim, a temporada acaba com “The Drowned Giant”, um episódio que se desenrola do momento em que um cadáver gigantesco e nu aparece numa praia após uma grande tempestade. Narrado por um dos acadêmicos que é chamado para observar o gigante,  a trama incentiva cada um dos espectadores a compartilhar a experiência da curiosidade e da busca pelo entendimento que a figura traz. Sendo este mais um dos trabalhos da Blur Studio, temos uma trama muito mais complexa, mostrando o encanto da novidade e a degradação do interesse a medida que a novidade se torna parte do dia-a-dia da população da cidade, um belo debate sobre o verdadeiro valor das coisas e o quanto a rotina pode ser a responsável por tirar a graça das coisas valiosas que encontramos pela vida.

Love, Death & Robots era uma série completa. Com todos os seus aspectos cativantes, a série se completava perfeitamente com seu roteiro arrebatador e seus gráficos maravilhosos, mas muito parece ter se perdido pelo complexo de grandeza criado pela sua temporada de estreia, a nova temporada é muito mais curta, parece ser completamente composto por uma falta de evolução e é pontuada com uma ou outra reflexão de verdadeiro valor. Se a primeira temporada veio cheia de potencial e garantiu um hype instantâneo, a segunda temporada parece ser apenas um prêmio de consolação, que mantem a estrutura original mas parece longe de alcançar o mesmo espirito instigante do ano anterior.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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