Nota
“Meus irmãos são ricos, mas eu sou pobre. […]
Eles têm uma casa e um burro. E o que eu tenho? Um gato!”
Quando estava em seu leito de morte, um rico fazendeiro resolveu chamar seu três filhos para uma última conversa. Ele então resolveu dividir ali sua herança entre eles, para o mais velho, o fazendeiro resolveu dar a casa, ao do meio, com seus vinte anos, ele resolveu dar seu burro, o responsável por cumprir todas as tarefas da fazenda, mas foi João, o caçula de dezoito anos, quem saiu na pior, o seu pai resolveu lhe dar de herança Bóris, o inútil gato da fazenda. Após a morte do fazendeiro, os dois filhos mais velhos tomaram suas partes e enriqueceram, restando a João apenas encarar seu presente, que ele acaba descobrindo ser a mais valiosa das heranças.
A história do Gato de Botas é considerada um dos contos mais antigos conhecidos, tendo diversas variações conhecidas, originarias de diversos lugares do mundo, mas a mais conhecida das versões é a escrita por Charles Perrault em 1697. Com versões que colocam o Gato como um cavaleiro enfeitiçado, um escravo ou um macaco flautista, todos conhecem a história do Gato falante que convence um rei que pertence a um fidalgo chamado Marquês de Carabás, e não é muito diferente o que vemos na versão traduzida por Camila Werner a partir de uma história recontada por Richard Northcott. O Gato de Botas é um paradidático, que faz parte da Coleção Saber Mais do 4º ano, e traz um renomado conto de fadas francês que ensina muito sobre humildade, esperteza e ponto de vista, Bóris é a maior prova do quanto nem tudo é o que parece, nos mostrando que a herança decepcionante que caiu nas mãos de João é, por trás das aparências, muito mais valiosa do que a casa e o burro dado aos outros irmãos.
O Gato é, e sempre foi, considerado um símbolo de malandragem, e a obra mantem essa simbologia por meio do Gato de Botas, transformando a figura em um protagonista astuto e cheio de malandragem, ele percebe a tristeza do seu mestre e se sente na obrigação de provar seu valor, e é dessa forma que ele sai dia após dia para ajudar seu novo mestre a se alimentar ao mesmo tempo que inicia um complexo plano para cativar o rei. A trama que envolve o gato é bem cheia de camadas, ele é um protagonista bastante malandro, mentiroso e enganador, mas ele é o herói da história, nos levando a uma imensa reflexão sobre a possibilidade de características tão imorais poderem ser consideradas qualidades quando bem intencionadas, o livro nos ensina que confiança e lábia podem ser a chave para se obter grandes conquistas na vida, que nunca se deve deixar de lado a inteligência, a capacidade de planejamento e o companheirismo, e que não importa sua vontade de crescer, sempre se deve pensar em quem está ao seu lado nos piores momentos, pois é crescendo junto que você vai encontrar a verdadeira felicidade.
Trazido pelas mãos da FTD, O Gato de Botas ganha uma carga didática ainda maior ao transcender o simples padrão de trazer uma moral no final de tudo. O editorial é iniciado por uma pequena atividade de conhecimento básico sobre o que se pode esperar dessa lenda, esquentando as expectativas para o relato em si e, após a história, trazendo algumas questões abertas com objetivo de ajudar seu leitor a fixar a narrativa, refletir sobre o mesmo e ir mais a fundo na obra, tudo complementado pelas belas ilustrações de Sidney Meireles, do Giz de Cera Studio, que deixam a história mais transparente desde a capa até seu miolo.
Ficha Técnica |
Livro Único Nome: O Gato de Botas Autor: Richard Northcott Editora: FTD |
Skoob |
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.