Nota
“Eu não tive uma infância muito comum.
Bom, no inicio sim, mas ai o mundo acabou.”
Já fazem sete anos desde que o apocalipse aconteceu, quando o Cometa Agatha 616 estava prestes a destruir a Terra, todas as nações se uniram para explodi-lo, o que acabou criando uma chuva de compostos químicos que iniciou uma mutação em todas as criaturas de sangue frio, seres insignificantes que rapidamente foram transformados em monstros devoradores de pessoas, matando 95% da população mundial e fazendo a humanidade sobrevivente se esconderem. Joel Dawson é um dos sobreviventes, ele é um jovem azarado e medroso de Fairfield, um dos habitantes do abrigo 7045, e vive em busca de reencontrar o seu verdadeiro amor, Aimee, a garota com quem namorava até o dia do apocalipse acontecer, uma garota que está vivendo no abrigo 3022, do outro lado da cidade.
Lançado em 16 de outubro de 2020 nos Estados Unidos pela Paramount, o filme dirigido por Michael Matthews rapidamente surpreendeu seu estúdio ao ser muito bem recebido pela crítica e pelo público, o que fez a empresa, impossibilitada de lançar o longa internacionalmente por conta das restrições dos cinemas, fecharem o contrato de distribuição internacional com a Netflix, que levou o filme ao resto do mundo em 14 de abril de 2021. Consciente da exaustão que existe em volta da formula dos filmes apocalípticos, o roteiro de Matthew Robinson e Brian Duffield vai para fora da caixinha e dá um belo salto de fé ao usa-la de uma nova perspectiva, diminuindo a tensão, aumentando o investimento no CGI e numa mitologia criativa, e focando seu teor para mais longe do suspense e mais próximo do fantástico e da comédia, uma aposta arriscada mas que deu super certo, garantindo um sucesso ao longa também internacionalmente.
Protagonizada pelo competentíssimo Dylan O’Brien, a produção nos leva por uma viagem de fantasia ao lado do garoto que decidiu deixar sua colônia subterrânea para procurar seu antigo amor, que o fara enfrentar uma centena de quilômetros de terreno selvagem, cheio de insetos, anfíbios e crustáceos gigantes. O papel de O’Brien é pesado, visto que ele é o único elemento que passa o filme inteiro presente, que ele precisa evoluir a cada nova interação, e que ele precisa se tornar o herói improvável que o longa precisa para o seu gran finale, que nos mostra que sobreviver no apocalipse é muito mais do que ser forte, corajoso e casca grossa. A jornada ainda nos cruza com Clyde Dutton e Minnow (Michael Rooker e Ariana Greenblatt), um homem e uma garota que cruzam o apocalipse em busca de sobreviver, dando um aceno latente a The Last of Us e criando uma propulsão graciosa ao evento, acelerando a transformação de Joel ao mesmo tempo que nos mostra uma evolução pessoal em cada membro do trio. Mas o ponto alto do filme é seu bestiário, com efeitos especiais quase realistas e monstros construídos detalhadamente, o longa dá um show artístico e justifica sua indicação ao Oscar de Melhor Efeitos Especiais, dando o devido brilho a cada criatura e uma série de características únicas a elas e ao mundo que circunda Joel.
Com um roteiro extremamente direto, Amor e Monstros é a prova de que uma trama simples e objetiva pode ser autossuficiente para se tornar um filme gostoso de se assistir, nos levando por um enredo bastante divertido, a obra se apoia, seguramente, em seus efeitos especiais para se vender e criar uma experiência única, e ele consegue, deixando até uma brecha para uma sequencia. A maior falha do longa talvez seja seus momentos finais, quando a trama é preenchida com muitos novos personagens, o que não nos da tempo de conhecer e entender cada um deles, tornando tudo muito acelerado e frenético, o que não estraga completamente o ato, mas deixa um ar de que poderia ter sido melhor. Podendo facilmente ser classificado como uma das surpresas de 2021, o longa vai além do clichê de amadurecimento e usa sua atmosfera pós-apocalíptica para abordar diversos temas relevantes, como relacionamentos, autodescoberta e o verdadeiro significado de família.
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.