Crítica | Ele é Demais (He’s All That)

Nota
3.5

“- Sem querer me achar, mas, transformações são a minha praia. […]
– Então por que não cria outro Jordan?”

Padgett Sawyer é uma popular influencer do Instagram que está em seu último ano do ensino médio, o que a maioria das pessoas não sabem é que ela mora no subúrbio com sua mãe divorciada, que é uma enfermeira local, e não em um condomínio rico. Sua vida, pessoal e profissional, é brutalmente atingida quando ela descobre, enquanto grava uma live, que seu namorado, Jordan Van Draanen, um influencer e cantor de hip hop, está a traindo com uma dançarina de apoio, o que a faz perder seguidores e ofertas de patrocínio. Agora, depois de aceitar uma aposta de Alden, Padgett precisa cumprir o desafio de transformar Cameron Kweller, um estudante de fotografia antissocial, em rei do baile. O problema é que se meter nesse desafio começa a mudar a garota verdadeiramente, fazendo ela se envolver cada vez mais com Cameron e se afundar cada vez mais no problema.

Em 1999, R. Lee Fleming Jr. fez história ao transformar Pigmalião, peça teatral escrita por George Bernard Shaw, em um clássico da comedia romântica em forma de filme teen. Depois de Ela é Demais tocar o público e ser um sucesso de bilheteria, uma nova ideia germinou entre as mentes criativas da Miramax, o que fez que, em 2020, a empresa chamasse Lee Fleming de volta para reescrever seu roteiro, trocando o gênero dos personagens, e Mark Waters para assumir a direção do longa. Modernizando a história que foi sucesso no final da década de 90, o longa lançado pela Netflix aproveita o mundo dos influencers e cria novas motivações para seus protagonistas, dando um contexto muito mais profundo para o casal protagonistas, camadas menos superficiais para os vilões e uma trama muito mais envolvente para o makeover que guia o filme. Ao contrário do filme original, o envolvimento dos protagonistas surge de uma forma muito mais natural, mesmo que o longa force muito em certos pontos para repetir o desenrolar que aconteceu no longa dos anos 90. Apostando pesadíssimo na nostalgia, o longa traz uma trilha gostosa que inclui até “Kiss Me”, de Sixpence None the Richer, música que embalou o casal dos anos 90, e até uma regravação da canção feita por Cyn, especialmente para embalar o novo casal.

Interpretando Padgett, Addison Rae encarna uma personagem cheia de dilemas, a influencer luta para se encaixar entre os jovens herdeiros que são populares em sua escola, mentindo em vários momentos para manter a mascara que a faz ser popular, por outro lado ela é uma garota forte, que está sempre pronta para apoiar sua mãe nas contas da casa e que está sempre buscando conhecimento, o que ajuda ainda mais na conexão que surge entre ela e Cameron. Compartilhando o protagonismo, temos Tanner Buchanan vivendo Cameron, um jovem que perdeu a mãe após um acidente de carro, vive com sua irmã na casa da avó e tem um pai que vive na Suécia e não o vê há anos, ele tem diversos problemas que o fizeram se fechar, o que só torna mais necessária a interferência de Padgett para derrubar suas defesas e faze-lo se abrir para o mundo. A relação dos dois transforma cada um deles de formas diversas, o que poderia tornar tudo mais reflexivo do que o original e nos leva a questionar se o novo roteiro realmente cooperou para aperfeiçoar a história e os dilemas. Contribuindo com a conexão dos enredos, a produção tem o retorno de Rachael Leigh Cook (que interpretou Laney Boggs) e de Matthew Lillard (que viveu Brock Hudson) em papeis secundários, mas que tem uma presença de tela suficiente para agradar aos mais atentos, respectivamente interpretando a mãe de Padgett e o diretor da escola do casal, que é o responsável pelas melhores piadas do longa.

Replicando desnecessariamente muitos pontos do original, Ele é Demais consegue se renovar ao criar uma trama moderna e mais complexa do que o longa de 1999. Sem ir muito fundo na proposta de inverter os gêneros, o longa substitui a problemática cena de embelezar Laney ao tirar os óculos pela cena de embelezar Cameron ao cortar o cabelo, mas ainda assim cria um produto final carismático o suficiente para nos fazer conhecer os personagens e torcer pelo casal. Escolher Rae, a terceira mais popular tiktoker do planeta, para o papel protagonista justifica o apelo do longa, mas ao mesmo tempo deixa nas costas de Buchanan a função de carregar o enredo, um problema que só piora pela falta de uma presença maior do elenco de apoio (algo que balanceou bem o original), o que leva as subtramas a uma de autoconsciência e fluidez. A formula makeover do longa, que poderia parecer antiquada, ainda funciona muito bem no remake, mesmo que pudesse ser muito melhor executada caso o roteiro de Fleming se desapegasse mais do original, equilibrando doçura e romance na dose certa, evitando o debate moral sobre a beleza exterior ao imergir no debate sobre as mascaras que vestimos nas redes sociais.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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