Na cidade grande ainda temos muito ceticismo quanto a algumas histórias, com a modernidade e a conexão da internet, vários costumes e crenças foram se perdendo, mas as cidades de interior são bem diferentes, cercados pela natureza e longe do caos da cidade, relatos sobre monstros, entidades e bruxas ainda existem, e muitas delas são de arrepiar até o cabelo do pé. É sobre isso que iremos falar hoje, sobre o dia que uma mulher cética encontrou pela primeira vez com um desses seres, o dia que ela entendeu que as lendas que sua mãe contava realmente são reais.
Francisca morava em uma pequena vila de interior, daquelas onde os vizinhos são amigos de gerações e que todo mundo se conhece. Ela era mãe solteira de um lindo bebê de apenas 6 meses, e morava sozinha naquela casa com seu filho desde a morte de sua mãe, há apenas uma semana. Francisca sempre foi bastante incrédula sobre os costumes do interior e sempre achava engraçado todos os rituais que sua mãe fazia, para afastar mal olhado, para impedir os maus agouros, era tudo muito engraçado e ela não acreditava, ao menos até aquela noite fatídica. Carlos ainda não era batizado, Francisca estava esperando o garoto completar um ano para planejar mais a fundo os detalhes da cerimonia, talvez numa época em que ela tivesse mais condições para fazer uma festa agradável, em que ela pudesse fazer esse evento realmente ser memorável. Naquela fria noite de Outubro, enquanto Francisca estava na frente de sua casa tricotando, acompanhada de um bom café quentinho e um agasalho gostoso, Carlos dormia tranquilamente em seu quarto, tudo acontecendo como sempre deveria ser naquela calma vizinhança. Mas o silencio afagador da noite foi cortado por um barulho inoportuno, Carlos acordará no meio da noite, o bebê estava chorando em seu quarto, nada demais, ela resolveu esperar uns minutos antes de ir ver o que estava ocorrendo, afinal não queria que seu filho aprendesse que era só chorar que ela iria aparecer imediatamente, mas a ligação que ela recebeu logo depois foi suficiente para que a mulher corresse para dentro de casa.
Numa casa um pouco mais distante morava José, um homem que não era de se assustar com qualquer coisa, mas que ligou imediatamente para Francisca quando, ao olhar de relance pela janela, viu uma enorme ave negra no telhado da mulher, uma coisa horrenda que ele nunca tinha visto. Na casa de Francisca, assim que a mulher entrou correndo no quarto de seu filho, já lembrando dos relatos de sua mãe, a mulher encontrou seu filho chorando e com uma coisa negra e comprida em contato com seu rosto, parecia uma sombra feita de fumaça, uma coisa negra e serpenteava no ar, saindo do rosto de seu filho e indo em direção a uma janela, e de lá subindo pelas paredes até o teto. Sem hesitação, Francisca tateou o filamento, sentindo-o no ar, pegou uma tesoura que estava no seu bolso e o cortou. Uma cena de horror seguiu o ato, um grito estridente surgiu no telhado, sangue começou a fluir através das metades do filamento, um lado caindo ao chão e se desprendendo do rosto de Carlos e a outra parte se recolhendo pela janela, a mulher imediatamente fechou a janela, assustada.
Poucos segundos depois, um barulho surgiu na sala, Francisca imediatamente pegou Carlos no colo, ainda chorando e ensanguentado, trouxe para perto de si, colocou a tesoura em riste, usando-a como arma de defesa. Passos começaram a se aproximar, sua noite de terror parecia estar só começando, quem estaria invadindo sua casa? O que queria com ela ou com seu bebê? Será que os relatos de sua mãe realmente tinha sentido? Não, ela não poderia acreditar nessas sandices dos velhos de interior, tudo tem que ter uma explicação lógica. Enquanto ela divagava com seus medos, acalmando seu bebê e se preparando para se defender do invasor, uma silhueta apareceu no corredor, vindo em direção ao quarto, até que o ser foi iluminado e Francisca percebeu que era José, seu vizinho, o mesmo que a havia alertado da ave enorme, ele havia ido lhe ajudar imediatamente depois que desligou a ligação, eles dois sabiam que aquele ser não era algo normal, assim como Francisca sabia o quão aterrorizante era a cena que acabou de protagonizar. Francisca e José ficaram o resto da madrugada conversando, sempre com os olhos vidrados em Carlos, com medo de aquele ser voltar.
Na manhã seguinte, Francisca, ainda agarrada a seu filho, acordou atordoada, ela tinha ficado acordada até a hora em que José foi embora, eles conversaram sobre as histórias que sua mãe contava, sobre a floresta que existia ali perto ser assombrada, habitada por bizarras criaturas e pelas bruxas, sobre o quanto essas mulheres demoníacas se transformam em bolas de fogo ou em animais para adentrar as casas, saindo sempre a noite para procurar o que comer, mantendo sua vida prolongada através do sangue de bebês não batizados. Seu dia tinha começado devagar, mas ela não esperava a noticia que ia receber a seguir. Batidas surgiram na sua porta, no momento em que ela abriu encontrou José com um olhar aterrorizado, o mesmo olhar que ela vira quando ele entrou no quarto procurando por ela e por Carlos. Foi então que José começou a contar a noticia, Dona Benta, uma das mulheres mais velhas daquela vila, foi encontrada morta essa manhã, ela foi encontrada caída no chão de seu quarto toda retorcida após uma forte hemorragia. Francisca achou a noticia estranha inicialmente, mas a frase final de José fez seu sangue gelar:
“Dona Benta sangrou até a morte depois que a língua dela foi cortada com uma tesoura.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.