Crítica | Noitários de Arrepiar (Nightbooks)

Nota
4

“Você tem alguma coisinha que seja especial? Algum motivo para eu te deixar vivo?”

Alex Mosher é um menino comum do Brooklyn, mas ele vive sofrendo bullying por adorar escrever histórias assustadoras, o que o faz jurar nunca mais escrever nenhuma. Um certo dia, ao ver seus pais discutindo sobre o assunto, ele resolve destruir seu Noitário, ele só não esperava cair numa armadilha no caminho para a caldeira, um apartamento com a porta aberta e um cheiro de torta, o feitiço perfeito para atrair Alex para dentro e o trancar lá dentro. No apartamento, Alex conhece Natacha, uma bruxa que percebe seu dom e o obriga a escrever histórias para que ela escute dia após dia, Yazmin, uma outra criança prisioneira que foi colocada pela bruxa como a governanta da casa, e Lenore, um gato mágico que transita pela casa vigiando as crianças e consegue ficar invisível.

Baseado no livro Nightbooks, de J. A. White, a produção lançada em 15 de setembro de 2021 pela Netflix funde, de uma forma quase mística, fantasia e terror na sua busca por construir uma trama leve, envolvente e aterrorizante. Seguindo o caminho que já vimos ser escolhido por longas renomados como CoralineA Casa MonstroO Estranho Mundo de Jack, a produção de Sam Raimi usa uma linguagem mais leve e suave para criar uma opção interessante de porta de entrada para as crianças ao mundo do terror, uma opção bem mais divertida e menos assustadora. A missão de tirar o enredo das páginas do livro para as telas, mantendo a sua essência, cai nas mãos de Mikki Daughtry e Tobias Iaconis, que carregam em seu currículo o agridoce A Maldição da Chorona e encontram uma bela redenção ao acertar em cheio nas diversas escolhas do roteiro. A história gasta apenas poucos minutos iniciais para estabelecer as regras e se desenvolve completamente focada em seus três protagonistas (Natacha, Alex e Yazmin), o que dá à trama tempo suficiente para desenvolver o passado de cada um deles ao ponto de nos conectar com o trio e ter tempo de evoluir cada um deles.

Com direção de David Yarovesky, o longa se guia quase que completamente em volta do protagonista de Winslow Fegley, iniciando abruptamente e sem muitas explicações para as verdadeiras motivações do garoto, algo que se mostra um elemento importante em certo ponto do longa. O Alex de Fegley é denso, tendo momentos altos e baixos no desenrolar da trama, mas que consegue carregar bem o desenvolvimento da história, algo que acaba se equilibrando por conta das tramas paralelas dos outros protagonistas. Vivendo Yazmin temos Lidya Jewett, misteriosa e insegura mas com uma subtrama que nos surpreende, a personagem apresenta um receio palpável e evolui como uma lagarta a uma borboleta, reaprendendo a confiar nos outros e começando a encontrar esperanças nas descobertas de Alex. Assim como Alex precisa aprender a ser quem realmente é, Yaz precisa reaprender a ver o lado positivo das coisas, acreditando que há uma saída e tudo pode ser resolvido. A bruxa Natacha, interpretada maravilhosamente por Krysten Ritter, é uma das maiores surpresas do longa, ela começa como a bruxa impiedosa que captura crianças e as mata, mas a medida que o longa avança vamos começando a ver que há mais por trás, o que culmina numa exploração ao seu passado digna de uma vilã da nova fase da Disney, onde fica claro que o passado sempre traz uma motivação para a vilania.

Criativo e bem executado, Noitários de Arrepiar nos surpreende ao trazer uma trama agradável para todos os públicos e um elenco inspirado, uma combinação dinâmica que só torna o longa mais cativante e ofusca as diversas falhas em seu desenrolar. Outro ponto alto da trama está em seu design de produção, que traz ótimos efeitos práticos para construir o apartamento mágico de Natacha, por meio de objetos caindo, feitiços e criaturas, e fortalece a fotografia com seus criativos cenários, como a biblioteca e o jardim noturno. Se renovando a cada virada da trama, o longa só se complica ao não deixar claro o seu público-alvo, trazendo uma linguagem infantil demais para os adultos e uma trama ramificada demais para as crianças, uma pendencia que pode ficar para ser resolvida numa possivel sequencia, que acaba sendo sugerida pelo ápice do ato final do longa.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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