Geek Curioso | O Misterioso Randonautica

Finalizando a lista dos jogos obscuros que viraram febre nos últimos anos, é chegado o momento do mais inocente deles: Randonautica. Um aplicativo que tem toda uma história interessante e inovadora por trás, mas que acabou se envolvendo em muitas polêmicas e revelando um lado obscuro em meio a suas coincidências.


 

Lançado em 22 de fevereiro de 2020, baseado numa ideia de Joshua Lengfelder, o aplicativo Randonautica nada mais é do que um sistema que gera coordenadas aleatoriamente e incentiva a seus usuários explorar os arredores de seu ponto inicial e relatar suas descobertas. Seu sistema é capaz de escolher coordenadas específicas a partir de um determinado tema, mas acabou se tornando polêmico depois de relatos de o aplicativo ter gerado coordenadas que coincidiam com a localização de coisas perturbadoras e eventos estranhos, o que fez o aplicativo começar a ganhar fama de ser um imã de coisas bizarras. Segundo seus criadores, o aplicativo se baseia na Teoria do Caos e na Teoria da Derive, de Guy Debord, para gerar pontos que, segundo as regras do app, podem ser classificados como um Attractor, um Void ou uma Anomaly, pontos que podem ser influenciados ainda pela intenção que o usuário mentaliza antes de clicar no botão.

Segundo se acredita, a mente teria o poder de  interferir nos campos quânticos, o que acaba gerando “flutuações no vácuo”, dessa forma os criadores alegaram que o app conseguiria rastrear essas flutuações para a criação das coordenadas, ou seja, o QRNG (Quantum Random Number Generator) é influenciado pelas ondas cerebrais para gerar os três tipos de pontos de interesse para os usuários: o Attractor seria um ponto de QRNG alto, o Void seria um ponto de QRNG baixo e o Anomaly seria o ponto onde a QRNG foi mais influenciada por ondas cerebrais humanas. Essas afirmações questionáveis foram a pólvora necessária para a criação do #randonautchallenge, que virou febre a partir de julho de 2020, quando as restrições da pandemia de Covid-19 começaram a ficar mais brandas, fazendo várias pessoas baixarem o app para testar se ele realmente funciona, e cada vez mais relatórios surgirem no TikTok, Reddit e Telegram. O aplicativo registrou 10,8 milhões de usuários em julho de 2020, a hashtag #randonautica ganhou 176,5 milhões de visualizações no TikTok e acabou sendo impulsionado ainda mais por um vídeo no YouTube feito pela influencer Emma Chamberlain.

Apesar de todos esses dados, o verdadeiro responsável pelo boom do aplicativo foi o caso que aconteceu em junho de 2020, em West Seattle. O caso se iniciou quando um grupo de adolescentes, que postou o relatório no perfil ughhenry, alegou ter mentalizado a palavra “morte” antes de ser levado pelo aplicativo até uma praia de Duwamish Head, dando a localização exata para onde o grupo encontrou uma mala preta abandonada entre pedras, com um intenso odor, algo que os assustou e fez eles imediatamente acionarem a polícia que, ao abrir a mala, percebeu que estava preenchido com restos mortais de duas pessoas, um homem de 27 anos e uma mulher de 36. Outros relatos começaram a surgir desde então, como o do usuário autumnjohnson05 que seguiu junto com um amigo o aplicativo até uma estrada de pedra, dentro de uma floresta, que levava até uma clareira onde existia um telhado de uma casa velha, que logo eles perceberam ser na verdade uma casa inteira que estava afundada na terra, como se o chão tivesse engolido a casa do nada. Outro relato foi o de killerqueenbits, que contou ter mentalizado a palavra “legal” e acabou sendo levada pelo app para um riacho bem bonito, que era uma das paisagens preferidas dela, mas logo ela começou a sentir a vibração ficar esquisita enquanto caminhavam, pouco antes de ela começar a perceber que estava cercada de pedaços de concreto e tijolos, depois de ela andar cerca de meia milha tudo ficou ainda mais assustador, principalmente depois que ela começou a encontrar, nas margens do riacho, pedaços de pano, uma meia e até roupas de criança.

Seguindo os relatos, temos o de marlenasanchez que resolveu seguir a coordenada com sua irmã, o que a levou até um ponto onde ela encontrou um cachorro parado, a encarando, perto de um carro sem ninguém dentro e com as portas abertas, uma situação que fez ela dar meia volta e desistir de explorar. Já tylerczak6 foi parar numa rua pouco movimentada onde o garoto cruzou com uma moradora de rua muito estranha, que ficou o encarando com um olhar assustador. Um pouco mais suspeito, temos o relato de apemaree que contou ter sido enviada para um lugar no meio do nada, onde ela acabou encontrando uma pessoa estranha que ficou parada a encarando, o que a fez imediatamente engatar a ré de seu carro e sair dali. sourbongwater postou uma série de vídeos de sua jornada, que a levou até uma garagem onde ela viu um caminhão estranho estacionar e ficar ali parado por uns 45 minutos. matthall36 foi levado para o meio de uma mata, onde ele encontrou um carro destruído e alegou ter começado a escutar pedidos de ajuda, o problema é que no vídeo dá pra escutar alguém gritando “help me”. Já mykenarae, do Colorado, relatou que seguiu as coordenadas e foi levada até o local onde ela encontrou um homem que acabara de levar um tiro. O usuário gothboithrift acabou sendo levado a um cemitério, com a localização exata batendo em duas lápides de pessoas com o mesmo sobrenome dele, posteriormente ele descobriu que aqueles dois eram parentes distantes que ele nunca conheceu. O youtuber brasileiro pobrerapaz chegou a testar o aplicativo, sendo levado até uma localização sem nada de anormal poucos minutos antes de um mulher se suicidar, pulando da janela do prédio em frente ao local onde a coordenada apontava.

O mesmo aplicativo chegou a ser testado também pelos youtubers brasileiros, como Jekriza Clone, e atualmente coleciona avaliações bizarras nas lojas de aplicativos, com pessoas alegando ter sentido vibrações negativas saindo do aplicativo ou que o app gerou localizações que indicavam para locais onde haviam acontecido crimes e pontos de venda de drogas. Considerando todos os ocorridos, Lengfelder resolveu se pronunciar alegando que “quando você envia milhões de pessoas para locais aleatórios e procura os cantos ocultos da realidade, às vezes encontra algumas coisas bem chocantes. Não é a melhor imprensa, mas não estou realmente chateado com isso, porque é legal.”, ele ainda reforçou que o objetivo do app é colocar seus usuários “na cadeira de diretor de uma aventura a ser escrita” enquanto quebra “a rotina mundana”, falando finalmente que “meio que gostaria que fosse eu quem o encontrasse [o corpo na mala preta]”. Com o tempo a febre do aplicativo foi passando, o aplicativo acabou ganhando uma reformulada, passando por um redesign para ganhar uma cara nova, talvez para se afastar das polemicas do passado.

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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