Crítica | A Órfã (Orphan)

Nota
4.5

“Há algo de errado com Esther.”

A vida de Kate (Vera Farmiga) e John (Peter Sarsgaard) é uma tremenda montanha russa por conta de momentos conflituosos de Kate, e para amenizar a sua dor, depois de longas conversas, o casal enfim resolve adotar uma criança. A casa já tem a adorável Alex (Aryana Engineer) e o pequeno e esperto Daniel (Jimmy Bennet), e agora é a hora da chegada de Esther (Isabelle Fuhrman), uma garota russa com hábitos peculiares, que acabou chamando a atenção do casal quando visitaram o orfanato. Ela parece ser uma doce menina, cantarola bem, toca piano e arrisca clássicos eruditos no teclado, faz pinturas divinamente e tem outras características brilhantes que encantam, em especial, John. Logo ela é adotada, mas após a chegada de Esther diversas situações estranhas começam acontecer e deixa Kate preocupada e não demora para a garota estabelecer um reinado de terror, morte e sangue.

Dirigido por Jaume Collet-Serra e escrito pela dupla David Johnson e Alex Mace, a produção nos apresenta ao cotidiano de um casal aparentemente feliz, que vive uma vida sofisticada com seus dois filhos e provém de tudo do bom e do melhor, além do carinho de pais amorosos. É um lar feliz, mas também cheio de coisas não ditas e situações quase trágicas, de um passado não muito distante, que foram soterradas na tentativa de levar os seus dias com mais leveza e tranquilidade. Quando, em 2009, foi iniciada a divulgação do aterrorizante filme A Órfã, ele não só surpreendeu a crítica na época, como o público em si. O casal protagonista de Farmiga e Sarsgaard apresenta um desempenho dramático excepcional, com ideias que ajudam a compor a proposta narrativa do filme. John é um homem pacífico, atencioso, e preocupado com as necessidade físicas e emocionais de sua casa, já Kate é uma professora de música de Yale, atualmente afastada de suas atividades por problemas do passado, como o alcoolismo que a fez quase deixar um de seus filhos morrer afogado e o terrível luto pela morte de seu bebê num aborto espontâneo, eventos que a fazem se sentir culpada e a obrigam a visitar um terapeuta como parte da sua rotina semanal.

Manipuladora, Esther cria situações contra a mãe adotiva, sempre com o interesse de ter somente o pai para ela, e, por conta de todas as suas qualidade, todos ficam com pé atrás com Kate, atentos e desconfiados de cada um de seus passos, algo que, conforme o filme avança, torna cada vez mais dificil que as pessoas acreditem nela, achando ser desespero ou paranoias, isso é A Órfã. A produção só se fortalece com a direção de fotografia de Jeff Curter, que se mostra muito meticuloso nas cenas noturnas e funcional quando o horror precisa se estabelecer em passagens diurnas, a trilha sonora atmosférica conduzida por John Ottman, num momento de bastante inspiração, o design de produção de Tom Meyer, e a cenografia de Daniel Hamelin, que é erguida em meio a espaços incríveis e com bastante vidro e elementos que não desenham apenas a luxuosa moradia da família, mas também destacam o potencial de algumas paisagens mais tensas, edificadas em cenários tão perigosos quanto a misteriosa e diabólica Esther.

A Órfã tem clichês? Sim, mas funcionam de uma forma que entregam um resultado ótimo. O clímax é efusivo, as reviravoltas são bastante intensas, mas a narrativa pavimenta bem essa trajetória e não faz com que sintamos aquele mal-estar de lidar com um filme que depende de algo tenebrosamente absurdo e escabroso para chocar. Esther, como posteriormente é revelado, não é uma criança comum, em outros momentos ela foi a responsável por aniquilar outras famílias, que é o que ela busca fazer na casa de Kate e John Coleman. Recentemente foi anunciado um segundo filme, que promete contar a história de origem de Esther, como ela se tornou esse ser humano de psicológico tenebroso, e particularmente espero que não se percam no enredo do primeiro filme e que  o usem para dar uma conclusão épica à trama.

 

Um jovem escritor principiante, amante das artes e da natureza. Um nerd biólogo que busca realizar seus sonhos e tem como objetivo mudar esse mundo.

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