Nota
“- Descobrimos um cometa muito grande.
– Parabéns
– Que está vindo em direção a terra.”
Kate Dibiasky, uma graduada em astronomia na Michigan State University, acaba descobrindo um NEO (Objetos Próximos da Terra) desconhecido, que, junto com seu professor, Dr. Randall Mindy, descobre ser um cometa que atingirá a Terra em cerca de seis meses e causará um evento de extinção. Junto com o estudioso Dr. Teddy Oglethorpe, a dupla resolve ir até a Casa Branca apresentar suas descobertas, lugar onde são recebidos com apatia pela presidente Janie Orlean e seu filho, o chefe de gabinete, Jason Orlean, que rapidamente dispensam os cientistas por não acreditar na história. Começa então uma enorme turnê pela mídia para tentar alertar a humanidade sobre a aproximação de um asteroide que destruirá a Terra, uma corrida que esbarra em questões politicas, barreiras jornalistas e uma população negacionista.
Anunciado que a Paramount Pictures em 8 de novembro de 2019, o filme escrito, dirigido e produzido por Adam McKay, e adquirido pela Netflix em 19 de fevereiro de 2020, é uma sátira política que parece estar atrasada alguns anos em seu lançamento. A trama tem um humor direto e absurdo, puramente baseado na falta de imediatismo que existe nas nações do mundo em combater os desastre ambientais (como o efeito estufa), e acaba centralizando toda esse ‘relaxamento’ no papel desempenhado, magistralmente, por Meryl Streep, uma presidente egoísta, que não vê vantagem politica em se envolver na resolução desse problema e simplesmente deixa de lado a situação, algo que vai lembrar muito as atitudes de Trump ou Bolsonaro perante a pandemia, e talvez seja por isso que a comédia acabou perdendo o timing, muitas das piadas em tela poderiam até ser engraçadas antes de vivermos muitas dessas situações, agora eles se tornam reais demais para rirmos, deixam o publico muito mais revoltados e angustiados do que realmente rindo.
Por outro lado, devemos lembrar que estamos vendo um filme onde Oscar é a palavra de ordem, não é só McKay ou Streep que marcam presença no elenco e possuem uma carreira regada de Oscars, temos ainda Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Cate Blanchett, Jonah Hill, Timothée Chalamet, além de participações que não possuem Oscar mas não deixam de ser premiadas, como Rob Morgan, Himesh Patel, Ariana Grande e Kid Cudi. A Kate de Lawrence e o Randall de DiCaprio se contrastam em vários pontos, enquanto a cientista demonstra urgência, vontade de mudar o destino e acaba se tornando chacota da mídia e meme nas redes sociais, o professor demonstra uma calma a base de remédios que o torna o queridinho da imprensa, o erguendo ao papel de garoto propaganda do governo, suavizador da história e maior peça no tabuleiro de Orlean. Agarrando a crítica, a produção crítica o governo, que não precisam de um problema desses tão perto de uma reeleição, e critica os veículos de informação, que só querem deixar as coisas mais leves e divertidas e deixam claro que cientistas falando sobre a eminente destruição da Terra não é algo que fica bem em tela.
Mesmo em seus poucos momentos de sutileza, o longa reforça os conflitos entre ciência, politica e mídia, uma guerra que vimos acontecer ativamente nos últimos dois anos, o que faz o filme parecer datado, nos questionando se o “baseado em fatos reais que não aconteceram ainda” é realmente uma piada ou uma macabra constatação. Mesmo com sua linguagem contemporânea e a presença de dezenas de rostos conhecidos, há momentos que as atitudes dos políticos e jornalistas, que levam os cientistas até os limites, acabam causando raiva também nos espectadores, que podem até sentir uma tristeza nas entrelinhas do roteiro. Se tornando praticamente uma montanha-russa de sentimentos, Não Olhe Para Cima é uma comédia que seria muito melhor aproveitada num período pré-pandemia mas ainda assim consegue ser efetivo, o longa vai se transformando a medida que a queda do cometa se torna mais próxima, mudando até seu estilo de comédia e seus personagens, mas no final a impressão é que McKay mirou alto demais para que suas farpas realmente fossem consistentes, ele abandona sua comédia pastelão para se aventurar numa sátira ‘inteligente’, preenchendo seu enredo com negacionistas, sexistas, alienados, militares brucutus, supostos visionários tech e mostrando o ridículo de termos as evidências diante de nossos olhos e ainda assim não acreditar, algo largamente mostrado com a campanha do #dontlookup batalhando com o #justlookup. 140 minutos depois, temos um filme exagerado, que não deixa de ser divertido e gostoso, mas nos deixa confusos, principalmente com suas desnecessárias duas cenas pós-creditas, e irritados.
“Just look up
There is no place to hide”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.