“Eles são ladrões, Jean. Não grite.”
Na década de 30, em pleno verão da era da depressão americana, os Irmãos Dassin, três gangsters que acabam de realizar um grande roubo, precisam de um esconderijo, e o lugar que parece perfeito acaba sendo uma mansão isolada na ilha de Lovecraft, o local onde Phillipe Dassin, o líder do trio, trabalhou há alguns anos, a mansão que os moradores de Lovecraft conhecem como Keyhouse. Os três criminosos logo chegam na deslumbrante casa, onde encontram a estonteante dona da casa, Mary Locke, seu marido, Art, seus dois filhos e sua talentosa irmã, Jean Locke, eles só não imaginavam o perigo que estavam correndo ao adentrar na Keyhouse, uma mansão cheia de chaves mágicas, e enfrentar duas Locke.
Quase um ano se passou desde que conhecemos a Era de Ouro dos antepassados Locke, quando Open The Moon nos apresentou os quatro filhos de Chamberlin Locke, e Grindhouse serve justamente para continuar a história dessa parte da família, trazendo uma nova aventura one-shot de Joe Hill em 29 de Agosto de 2012. Depois da profunda, e dolorosa, passagem de Ian Locke para os Bastidores, os anos se passaram, quase 20 anos depois reencontramos as duas filhas de Chamberlin, agora adultas, e prontas para mostrar a verdadeira ferocidade que corre nas veias de um Locke. Com apenas 18 páginas Hill mostra toda a sua capacidade roteiristica, criando uma trama intensa e obscura que nos deixa na expectativa para devorar esse perigoso encontro, ver Jean prestes a ser estuprada por Louis Dassin é angustiante, mas só faz a rápida reviravolta ser ainda mais deliciosa de ser degustada, a mesma satisfação que nos toma quando a confiante Mary mostra toda a sua esperteza para subjugar Phillipe com a Bitey Key e os filhos de Mary mostram toda a astucia dos Locke ao usar uma certa porta mágica contra Michael Dassin.
As ilustrações de Gabriel Rodriguez e a colorização de Jay Fotos se mostram ainda mais necessárias para o desenrolar da história, é na capa ensanguentada que somos arrematados, é nos detalhes das roupas de Jean e Mary que grande parte das personalidades é exposta, desde a inocência e fragilizada da morena de roupas claras e sutiã branco até a frieza e firmeza da loira de roupas escuras e expressões arrogantes. Além de uma trama rápida e marcante, a edição ainda traz o Guia da Keyhouse, onde somos presentados com as plantas dos cinco pavimentos da casa, com paginas de legendas intercalando, nos apresentando cada cômodo, e algumas anotações hilárias de Hill, comentando ideias que teve junto com Rodriguez e recomendações que ele simplesmente ignorou. Tão poderoso, o one-shot acabou sendo relançado em 29 de novembro de 2017 como parte do especial Locke & Key: Heaven & Earth, uma HQ que reúne, além de Grindhouse, os contos Open The Moon e In The Can,
Curto, satisfatório e bem regado com uma moral absoluta de empoderamento feminino, Locke & Key: Grindhouse deixa o papel masculino principal, Art, inofensivo para engrandecer a voracidade de Jean e Mary, as irmãs são as grandes protagonistas da edição (afinal essa é uma saga sobre a família Locke e suas chaves), e fica clara a evolução das personagens desde as garotinhas inofensivas até essas mulheres poderosas. Apesar de curto, o conto surge como mais uma prova de que cada canto escuro e sala secreta da mansão é capaz de guardar segredos e armadilhas capazes de proteger qualquer Locke que saiba usar a casa a seu favor, e que sempre há possibilidades de se criar novas chaves e novas armadilhas.
“Só há uma razão para não te estuprar, seu grande e feio canalha. Porque eu sou muito legal!”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.