Crítica | Lulli

Nota
2.5

“Lulli, não toca na máquina!”

Lulli Flores é uma ambiciosa estudante de medicina, ela acorda cedo todo dia e luta para realizar seu sonho de se tornar a melhor cirurgiã de todos os tempos, o problema é que existe um defeito em Lulli: ela nunca escuta ninguém, nunca presta atenção nas pessoas ao seu redor e nem para para ouvir os relatos do paciente antes de fazer o diagnostico. Um dia após ela quase matar seu namorado, por nunca ter prestado atenção ao fato de ele ter alergia a camarão, ela acaba sendo eletrocutada por um aparelho de ressonância eletromagnética que desperta sua capacidade de ouvir pensamentos alheios e que faz seu ex-namorado esquecer dos últimos dias, o que vira sua vida de cabeça para baixo e, ironicamente, a faz aprender as maravilhas e os perigos de ouvir as pessoas.

Com direção de César Rodrigues e roteiro de Renato Fagundes e Thalita Rebouças, a nova produção protagonizada por Larissa Manoela da Netflix pode até ter se tornado o filme de língua não-inglesa mais assistido no mundo na Netflix em dezembro de 2021, mas o que lhe sobra em divulgação cativante lhe falta em roteiro. O longa aborda temáticas poderosas, como homofobia, feminismo e diferença entre classes sociais, mas é grandiosamente afetado pela falta de profundidade de seu enredo, por conta da falta de desenvolvimento do elenco de apoio e, principalmente, pela forma como a trama parece datada e superficial demais, podendo claramente ser considerado um dos piores roteiros de Rebouças (e sabemos bem que os roteiros de Rebouças são famosos pela jovialidade e superficialidade, que sempre agradam seu público alvo). Podendo facilmente ser considerado um daqueles filmes “para desligar a mente”, o filme parece querer apostar num público apaixonado por comédias românticas, que vem alçando várias produções originais Netflix ao sucesso, mas sua curta duração e sua trama fácil de ser compreendida não ajudam nessa tentativa.

Larissa Manoela já é considerada a queridinha da Netflix, e fica cada dia mais claro que a empresa está tentando emplacar sua carreira, mas Lulli infelizmente não foi uma dos melhores trabalhos da atriz. Larissa entrega uma atuação fraca, onde não consegue dar profundidade a sua personagem, principalmente se considerarmos que o roteiro não dá quase nenhum tempo de tela para explorar a extensão do poder adquirido pela protagonista e nem dá muito tempo para explorar o humor das diversas situações que a personagem se mete por conta dessa habilidade, uma carência que fica ainda mais evidente pelo fato de esse ser o diferencial que faz o filme ter sua identidade única. Interpretando o namorado de Lulli, Diego, temos Vinicios Redd, que entrega um personagem incumbido de carregar uma das subtramas mais relevantes da produção, o homem sonha em se tornar um cirurgião da rede publica e vive sob a pressão do poderoso pai (Guilherme Fontes), que é dono de um hospital, é rico e sempre diminui as classes menores e até Paola (Paula Possani), sua antiga assistente e atual tutora do filho e da protagonista. A produção ainda se completa com Sérgio Malheiros, que nos entrega um jogador de vôlei lutando contra o preconceito e o medo de se assumir, e Amanda de Godoi, que passa o filme inteiro sendo forçada a se tornar um alivio cômico que não funciona e guia um discurso cheio de potencial sobre rivalidade feminina e sororidade.

Bobinho e um tanto quanto mal desenvolvido, Lulli pode ate ser divertido, mas anda em círculos, não surpreende e exagera no melodrama. Se você não se agrada com um filme cheio de clichê e com atuações fracas, é melhor partir para outra opção o quanto antes, principalmente por que a produção parece insistir na desagradável tentativa de botar personagens adultos em paralelo com um elenco atuando como adolescentes, e isso só fortalece o estilo água com açúcar que é entregue, tudo só piora quando vemos diversas histórias de superação envolvendo esporte, família e trabalho que se iniciam mas não evoluem, não emocionam de verdade e nem conseguem ter um destaque. É triste ver um filme que tem potencial, que parece ter todos os ingredientes que fazem uma boa comedia romântica, desandar, ser raso ao ponto de não engajar e não conseguir cativar.

“Loca de pedra, perdidita, macarena…”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *