Crítica | Talvez Uma História de Amor

Nota
4

Quando chega em casa, depois de mais um dia corriqueiro no trabalho, Virgílio liga a secretária eletrônica e ouve um recado perturbador. É uma mensagem de Clara, comunicando o término do relacionamento dos dois. Virgílio, contudo, não faz a menor ideia de quem é Clara. Perturbado devido ao seu jeito metódico e controlador, ele não se lembra de ter se relacionado com ninguém, mas todos ao seu redor pareciam saber do relacionamento dos dois, perguntando como ele está se sentindo com o término. Agora, ele precisa encontrar essa mulher misteriosa.

Relacionamentos são extremamente complicados, disso todo mundo está cansado de saber. Agora imagine quando alguém lhe deixa uma mensagem na sua secretária eletrônica, afirmando que lhe ama como jamais amou ninguém, porém é melhor vocês terminarem. Para piorar a situação, você não faz ideia de quem é essa pessoa, apesar de todos seus conhecidos afirmarem ter certeza de que você estava num relacionamento sério, exceto você mesmo. Essa então é a premissa do romance/comédia/drama Talvez Uma História de Amor.

Esse é o primeiro longa do diretor, produtor e roteirista Rodrigo Bernardo, que também está na produção da série (Des) Encontros, que irá estrear em 2018 no canal de TV fechada da Sony. Logo de cara conseguimos ver que o diretor tem uma ótima sensibilidade para falar de relacionamentos, e por isso, mesmo com uma premissa nada comum, ele consegue levar uma familiaridade para os sentimentos e problemas do personagem principal, e com isso se torna extremamente fácil de comprar a ideia de que Virgílio simplesmente esqueceu de todo seu relacionamento com Clara.

No fim das contas, Talvez Uma História de Amor trata de sair da zona de conforto. Sair daquele lugar no qual a pessoa se acostumou a ficar por anos e anos. E isso nunca é um processo fácil. Se arriscar, machucar-se, magoar o outro, se tornar essencial para alguém e ao mesmo tempo se tornar dependente dela. Quando a sua felicidade não depende mais apenas de você, mas sim de ver o outro ser feliz, ajudar alguém a sorrir, a se sentir amada, desejada, parte de um todo. “Muitas vezes se apaixonar é perder o controle da própria vida“. Essa frase é utilizada pela psicóloga do protagonista, e define muito bem o que se passa na cabeça de Virgílio.

Em outro dos bons diálogos do filme, é discutido se realmente vale a pena se arriscar por outra pessoa. Será que a pessoa quer o mesmo que você? Será que a paixão é recíproca? Se o tempo, fidelidade, amor dado por alguém é retribuído da mesma maneira? Quem ainda quer um relacionamento sério hoje em dia? E sim, apesar de todos esses clichês que podemos questionar sobre os relacionamentos atuais, o longa em nenhum momento se torna piegas ou cai na “mesmice” comum do gênero.

Assim como Virgílio precisa se soltar da sua zona de conforto, o longa faz o mesmo consigo mesmo, com seus personagens, direção e trilha sonora. O ritmo acelerado do começo apresentando a trilha de ex-namoradas de Virgílio que as levaram a conhecer Clara, é dosado com a cadência de um bom romance como o de Tom Hanks e Meg Ryan em Sintonia de Amor. A trilha sonora também sabe a hora de ser mais animada ou mais romântica, e em um dos melhores diálogos do filme, a metáfora de melodia em vez da letra, se encaixa perfeitamente.

Talvez Uma História de Amor já vale o ingresso exatamente por ter uma premissa que não vemos toda semana nos filmes nacionais. A estreia na direção de Rodrigo Bernardo da um novo oxigênio para o gênero que já havia sido tão bem trabalhado em longas passados como Bossa Nova em 2000, e A Dona da História em 2004.

 

Formado em publicidade, crítico de cinema, radialista e cantor de karaokê

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